Depoimentos de agradecimento

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O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinicius de Moraes
Antologia poética

Nota: Trecho de "Soneto do amigo"

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Eterna Presença

Este feliz desejo de abraçar-te,
Pois que tão longe tu de mim estás,
Faz com que te imagine em toda a parte
Visão, trazendo-me ventura e paz.

Vejo-te em sonho, sonho de beijar-te;
Vejo-te sombra, vou correndo atrás;
Vejo-te nua, oh branco lírio de arte,
Corando-me a existência de rapaz...

E com ver-te e sonhar-te, esta lembrança
Geratriz, esta mágica saudade,
Dá-me a ilusão de que chegaste enfim;

Sinto alegrias de quem pede e alcança
E a enganadora força de, em verdade,
Ter-te, longe de mim, juntinho a mim.

Mário de Andrade
ANDRADE, M. Poesias completas: Volume 2, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014

Você bem que podia me aparecer nesses mesmos lugares, na noite, nos bares. Onde anda você?

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da música Onde anda você.

Não convencerás, se também não estiveres convencido.

Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe...

Há medicamentos para toda a espécie de doenças, mas, se esses medicamentos não forem dados por mãos bondosas, que desejam amar, não será curada a mais terrível das doenças: a doença de não se sentir amado.

É interessante observar os movimentos de nossas mudanças interiores. Nem sempre sabemos identificar o nascimento da inadequação que gera todo o processo. O fato é que um dia a gente acorda e percebe que a roupa não nos serve mais. Como se no curto espaço do descanso de uma noite a alma sofresse dilatação, deixando de caber no espaço antigo onde antes tão bem se acomodava. É inevitável. Mais cedo ou mais tarde, os sonhos da juventude perdem o viço. O que antes nos causava gozo, aos poucos, bem aos poucos, deixa de causar.

Padre Fábio de Melo
Tempo de Esperas - O itinerário de um florescer humano

E assim é tudo nela; de contraste em contraste, mudando a cada instante, sua
existência tem a constância da volubilidade. Na vaga flutuação dessa alma, como no
seio da onda, se desenha o mundo que a cerca; a sombra apaga a luz; uma forma
devanece a outra; ela é a imagem de tudo, menos de si própria.

E sou meu próprio frio que me fecho
longe do amor desabitado e líquido,
amor em que me amaram, me feriram
sete vezes por dia em sete dias
de sete vidas de ouro,
amor, fonte de eterno frio

Nunca irei a uma manifestação contra a guerra, se fizerem uma pela paz chamem-me.

Perdi o bonde e a esperança
Volto pálido para casa

Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem —
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.

Será que a liberdade é uma bobagem?...
Será que o direito é uma bobagem?...
A vida humana é alguma coisa a mais que ciências, artes e profissões.
E é nessa vida que a liberdade tem um sentido,e o direito dos homens.
A liberdade não é um prêmio, é uma sanção. Que há de vir .

Mário de Andrade
ANDRADE, M., Aspectos da Literatura Brasileira, São Paulo, Martins, 1947

Ruínas

(...)
Risos não tem, e em seu magoado gesto
Transluz não sei que dor oculta aos olhos;
— Dor que à face não vem, — medrosa e casta,
Íntima e funda; — e dos cerrados cílios
Se uma discreta muda
Lágrima cai, não murcha a flor do rosto;
Melancolia tácita e serena,
Que os ecos não acorda em seus queixumes,
Respira aquele rosto. A mão lhe estende
O abatido poeta.
Ei-los percorrem
Com tardo passo os relembrados sítios,
Ermos depois que a mão da fria morte
Tantas almas colhera.
Desmaiavam, nos serros do poente,
As rosas do crepúsculo.
“Quem és? pergunta o vate; o sol que foge
No teu lânguido olhar um raio deixa;
— Raio quebrado e frio; — o vento agita
Tímido e frouxo as tuas longas tranças.
Conhecem-te estas pedras; das ruínas
Alma errante pareces condenada
A contemplar teus insepultos ossos.
Conhecem-te estas árvores. E eu mesmo
Sinto não sei que vaga e amortecida
Lembrança de teu rosto.”

Desceu de todo a noite,
Pelo espaço arrastando o manto escuro
Que a loura Vésper nos seus ombros castos,
Como um diamante, prende. Longas horas
Silenciosas correram. No outro dia,
Quando as vermelhas rosas do oriente
Ao já próximo sol a estrada ornavam
Das ruínas saíam lentamente
Duas pálidas sombras:
O poeta e a saudade.

Machado de Assis
Falenas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1870.

O tempo amadurece todas as coisas. Nenhum homem nasce sábio

Espalhe o amor por onde você for: antes de tudo, em sua própria casa. Dê amor a seus filhos, sua esposa ou seu marido, a um vizinho próximo... Não permita jamais que alguém se aproxime de você sem viver melhor e mais feliz. Seja a expressão viva da bondade de deus; bondade em seu rosto, bondade em seus olhos, bondade em seu sorriso, bondade em sua terna saudação.

A vida é uma ópera, e uma grande ópera. (...)
Deus é o poeta; a música é de Satanás. (...)
O êxito é crescente.
Poeta e músico recebem pontualmente os seus direitos autorais,
que não são os mesmos.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).

Me procurei a vida inteira e não me achei - pelo que fui salvo.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Nota: Trecho de "Auto-retrato falado": Link

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Acordei completamente amanhecida. E tinha um brilhinho de sol em cada gotinha da chuva fina na manhã de hoje. Alguma coisa me diz que coisas grandiosas estão por vir. Por isso abro meu coração pra alegria, pra vida e pro sol que acaricia e não machuca. E é nesse estado de gratidão e contentamento que qualquer pensamento negativo que eventualmente surja, morrerá de inanição.

A vida é boa.

Machado de Assis

Nota: Acredita-se que essas tenham sido as últimas palavras de Machado antes de morrer.