Depoimentos de agradecimento

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De quantas graças tinha, a Natureza

De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.

Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.

Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.

Vacina de ano novo

Muitos me desejaram paz e amor em 75. Mas havendo amor, haverá paz? Amor é o contrario radioso dela. É inquietação, agitação, vontade de absorver o objeto amado, temor de perdê-lo, sentimento de não merecê-lo, ânsia de dominá-lo, masoquismo de ser dominado por ele, dor de não o haver conhecido antes, dor de não ocupar seu pensamento 24 horas por dia, e mais dias a pedir ao dia para ocupá-lo, brasa de imaginá-lo menos preso a mim do que eu a ele, desespero de o não guardar no bolso, junto ao coração, ou fisicamente dentro deste, como sangue a circular eternamente e eternamente o mesmo. Amor é isso e mais alguma triste coisa. E a tristeza incurável do tempo não passa fora de nós, passa é dentro e na pele marcada da gente, lembrando que eternidade é ilusão de minutos e o ato de amor deste momento já ficou mergulhado em ter sido. Amor é paz?

No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos do quintal: Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pra dentro.

Manoel de Barros
Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Poesia não é para compreender, mas para incorporar. Entender é parede: procure ser árvore.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

O voo até a Lua não é tão longe. As distâncias maiores que devemos percorrer estão dentro de nós mesmos.

Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade.

Meu fado é de não entender quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Nada, jamais, substituirá um companheiro perdido.
Ninguém pode recriar velhos companheiros.
Nada vale o tesouro de tantas recordações comuns, de tantas horas más vividas juntos, de tantas desavenças, de tantas reconciliações, de tantos impulsos afetivos.
Não se reconstroem essas amizades.
Seria inútil plantar um carvalho na esperança de ter, em breve, o abrigo de suas folhas.

Assim vai a vida.
A princípio enriquecemos.
Plantamos durante anos, mas os anos chegam em que o tempo destrói esse trabalho, arranca essas árvores.
Um a um, os companheiros nos tiram suas sombras.
E aos nossos lutos mistura-se então
A mágoa secreta de envelhecer...

Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Se queres entrar em minha vida retire as sandálias, pois esse solo é Santo.

O amor resiste à distância, ao silêncio das separações e até às traições. Sem perdão não há amor. Diga-me quem você mais perdoou na vida, e eu então saberei dizer quem você mais amou. O amor é equação onde prevalece a multiplicação do perdão. Você o percebe no momento em que o outro fez tudo errado, e mesmo assim você olha nos olhos dele e diz: "Mesmo fazendo tudo errado eu não sei viver sem você. Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não estiver por perto."

A gente sabe da importância da luz no momento em que a gente está no escuro!

Como é que você reage às quedas que sofre na vida?
Como é que você administra os fracassos?
Não há receitas mágicas que nos façam vencer os obstáculos.
Mas ouso dizer que há um jeito interessante de olhar para as quedas que sofremos.
É só não permitir que elas sejam definitivas.
É só não perder de vista a primavera que o outono prepara.
Administre bem os problemas que você tem, não permita que o contrário aconteça.
Se você não administrá-los, eles administrarão você.
Deus lhe quer vencedor, a vitória já está preparada feito o presente que está embrulhado
e que precisa ser aberto. Não perca tempo!
Já começou a vencer aquele que se levantou para recomeçar o caminho....

Há coisas que são boas por alguns instantes, outras por algum tempo. Só algumas são para sempre.

A vaidade da ignorância é um abismo de miséria humana.

É melhor ser alegre
que ser triste
Alegria é a melhor
coisa que existe.

Vinicius de Moraes
Álbum "20 Grandes Sucessos de Vinicius de Moraes"

Nota: Trecho da música "Samba da Benção"

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Tens o dom de ver estradas
Onde eu vejo o fim
Me convences quando falas
Não é bem assim
Se me esqueço, me recordas
Se não sei, me ensinas
E se perco a direção
Vens me encontrar

Tens o dom de ouvir segredos
Mesmo se me calo
E se falo me escutas
Queres compreender
Se pela força da distância
Tu te ausentas
Pelo poder que há na saudade
Voltarás

Quando a solidão doeu em mim
Quando meu passado não passou por mim
Quando eu não soube compreender a vida
Tu vieste compreender por mim

Quando os meus olhos não podiam ver
Tua mão segura me ajudou a andar
Quando eu não tinha mais amor no peito
Teu amor me ajudou a amar

Quando o meu sonho vi desmoronar
Me trouxeste outros pra recomeçar
Quando me esqueci que era alguém na vida
Teu amor veio me relembrar

Que Deus me ama, que não estou só
Que Deus cuida de mim
Quando fala pela tua voz
Que me diz: Coragem

Que Deus me ama, que não estou só
Que Deus cuida de mim
Quando fala pela tua voz

Que me diz: Coragem

Nossa capacidade de amar é limitada, e o amor infinito; este é o drama.

Carlos Drummond de Andrade
O avesso das coisas: aforismos. Rio de Janeiro: Record, 1990.

Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão

Vinicius de Moraes
Álbum "Como dizia o poeta"

Nota: Trecho da música "Como dizia o poeta"

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Sou hoje um caçador de achadouros da infância.
Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.

Manoel de Barros
BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.