Depoimentos de agradecimento

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A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.

Oswald de Andrade
ANDRADE, Oswald. Poesias Reunidas, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978

Não existe conversa mais tediosa do que aquela onde todos concordam.

Saber de cor não é saber: é conservar aquilo que se deu a guardar à memória.

Não invejemos os que sobem muito acima de nós: a sua queda será muito mais dolorosa do que a nossa.

O sonho é o alívio das misérias dos que as têm acordados.

Todo o nosso mal provém de não podermos estar sozinhos: daí o jogo, o luxo, a dissipação, o vinho, as mulheres, a ignorância, a desconfiança, o esquecimento de nós mesmos e de Deus.

Todo aquele que contribui com uma pedra para a edificação das ideias, todo aquele que denuncia um abuso, todo aquele que marca os maus, para que não abusem, esse passa sempre por ser imoral.

Um império fundado pelas armas tem de se manter pelas armas.

O ciúme nunca está isento de certa espécie de inveja, e frequentemente se confundem essas duas paixões.

É uma infelicidade que existam tão poucos intervalos entre o tempo em que somos demasiado novos e o tempo em que somos demasiado velhos.

Nada parece verdadeiro que não possa parecer falso.

Os leões têm uma grande força, mas esta ser-lhes-ia inútil se a natureza lhes não tivesse dado olhos.

A dificuldade atrai o homem de caráter, porque é abraçando-a que ele se realiza.

Minha obra toda badala assim: Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil.

Mário de Andrade

Nota: Carta a Manuel Bandeira a 8 de novembro de 1924

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade
ANDRADE, E., Antologia Breve, 1972

Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível.

A maioria dos homens é mais capaz de grandes ações do que de boas.

O símbolo dos ingratos não é a Serpente, é o Homem.

Quando se destrói um velho preconceito, sente-se a necessidade duma nova virtude.

Saboreiem do amor tudo o que um homem sóbrio saboreia do vinho, mas não se embebedem.