Depoimentos de agradecimento

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Quem sabe se não teremos de ultrapassar muito a natureza para perceber o que ela nos quer dizer?

As lágrimas dos velhos são tão terríveis como as das crianças são naturais.

O sentimento que o homem suporta com mais dificuldade é a piedade, principalmente quando a merece. O ódio é um tónico, faz viver, inspira vingança; mas a piedade mata, enfraquece ainda mais a nossa fraqueza.

Todos os dias vão em direção à morte, o último chega a ela.

Não existe conversa mais tediosa do que aquela onde todos concordam.

Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível.

A maioria dos homens é mais capaz de grandes ações do que de boas.

O símbolo dos ingratos não é a Serpente, é o Homem.

Quando se destrói um velho preconceito, sente-se a necessidade duma nova virtude.

Um império fundado pelas armas tem de se manter pelas armas.

O ciúme nunca está isento de certa espécie de inveja, e frequentemente se confundem essas duas paixões.

É uma infelicidade que existam tão poucos intervalos entre o tempo em que somos demasiado novos e o tempo em que somos demasiado velhos.

Nada parece verdadeiro que não possa parecer falso.

Esqueço sempre, mas o corpo lembra:
em breve
será dezembro.

Os leões têm uma grande força, mas esta ser-lhes-ia inútil se a natureza lhes não tivesse dado olhos.

A dificuldade atrai o homem de caráter, porque é abraçando-a que ele se realiza.

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade
ANDRADE, E., Antologia Breve, 1972

Minha obra toda badala assim: Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil.

Mário de Andrade

Nota: Carta a Manuel Bandeira a 8 de novembro de 1924

A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.

Oswald de Andrade
ANDRADE, Oswald. Poesias Reunidas, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978

Sinto-me feliz por não ser homem, porque, se o fosse, teria de casar com uma mulher.