Depoimento de agradecimento

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O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.
- Por isso nunca se canse de amar, algum dia você verá os grandes frutos do seu amor que foi sempre cultivado.

Antoine de Saint-Exupéry

Nota: Autoria não confirmada.

O Primo Basílio

... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!

Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho.

Eça de Queirós
O Primo Basílio

Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer.

O amor é grande mas cabe no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

Nota: Trecho adaptado do poema "Amar se aprende amando" de Carlos Drummond de Andrade. Link

On ne voit bien qu'avec le coeur.
L'essentiel est invisible pour les yeux.

Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Paulo de Tarso
Bíblia Sagrada. Romanos 8:38-39.

Nota: Tradução de João Ferreira de Almeida (Revista e Atualizada)

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Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: "Os dias ficaram lindos".

Acomodar-se às circunstâncias do momento faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres.

Machado de Assis
Helena (1876).

Nota: Citação ligeiramente modificada do original: "O que a tornava superior e lhe dava probabilidade de triunfo, era a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda a casta de espíritos, arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres."

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O que da vida não se descreve...

Eu me recordo daquele dia. O professor de redação me desafiou a descrever o sabor da laranja. Era dia de prova e o desafio valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisado por um bom tempo, sem que nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber, como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da epistemologia e suas definições tão exatas. Diante da página em branco eu visitava minhas lembranças felizes, quando na mais tenra infância eu via meu pai chegar em sua bicicleta Monark, trazendo na garupa um imenso saco de laranjas. A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir a felicidade em seu odor cítrico e nuanças alaranjadas. A vida feliz, parte miúda de um tempo imenso; alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era meu; tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor esta distância entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti? Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor, esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?

Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!"

Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto inapto para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser...

O interessante é que a laranja se desdobra em inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que posso responder ao terapeuta, no momento em que me pede para descrever o que estou sentindo? Há palavras que possam alcançar as raízes de nossas angústias?

Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas não são realidades que sobrevivem à superfície.

Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir de perguntas idiotas.

Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansioso por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se descreve...

A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

Carlos Drummond de Andrade
BARBOSA, Rita de Cássia. Poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Ática,1987.

É que o amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois! Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?

Eça de Queirós
O Primo Basílio

Quem é homem de bem, não trai o amor que lhe quer seu bem.

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da música "Berimbau", composta por Vinicius de Moraes e Baden Powell. Link

O que eu posso, eu não posso como quero!
Eu posso com menos possibilidades.
Se eu não posso modificar a vida, quero deixar que a vida me modifique.
Se eu não posso mudar o acontecimento,
então eu quero que o acontecimento me modifique.
Isso é reconciliar os contrários.
Isso é descobrir a sabedoria da possibilidade.
Não é do jeito que eu quero,
mas vai ser o jeito que pode!
E aí o meu coração se meche assim como o organismo busca forças
para reconciliar a carne e cicatrizar aquele lugar que está ferido.
Todo o meu organismo se meche,
se volta para aquela urgência. Todo o meu coração se move na tentativa de descobrir
o significado para a vida naquele instante.
E se a gente obedece a essa regra da cicatrização do momento,
a gente acorda melhor no outro dia. Sabe porquê?
Porque a ferida parou de sangrar um pouco.
Não significa que a dor deixou de existir dentro de nós,
não significa que o problema deixou de existir, não!
Só que há um jeito diferente de lidar com ele agora,
e eu preciso descobrir que em cada momento da minha vida
há uma ferida a ser cicatrizada,
há uma reconciliação a ser realizada.
E essa é a sabedoria do Evangelho.
Abrir os nossos olhos para que nós possamos descobrir
qual é a necessidade de cicatrizar hoje.
O que dentro de mim, hoje, eu não tenho direito que amanheça amanhã sangrando
Porque eu preciso cuidar!
Hoje você não tem o direito de ir dormir sem pensar naquilo que você precisa cicatrizar dentro de você.
Mova seu coração, mova os seus sentimentos, mova sua inteligência na direção daquilo que em você precisa ser cicatrizado.
Não amanheça amanhã do mesmo jeito que você amanheceu hoje.
Não permita que a vida aconteça amanhã para você e que ela lhe encontre do mesmo jeito que você estava hoje.
Permita o movimento da cicatrização!
Permita o movimento da reconciliação!

Todo homem traz dentro de si o menino que foi.

O esperado nos mantém fortes, firmes e em pé. O inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços.

Machado de Assis

Nota: Autoria não confirmada.

O QUE HÁ

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos
Poesia Completa de Álvaro de Campos

A saudade eterniza a presença de quem se foi. Com o tempo esta dor se aquieta, se transforma em silêncio que espera, pelos braços da vida um dia reencontrar.

Amor é fogo que arde sem se ver.

Luís de Camões

Nota: Trecho de soneto de Luís de Camões.

Amor que é amor dura a vida inteira. Se não durou é porque nunca foi amor. O amor resiste à distância, ao silêncio das separações e até as traições. Sem perdão não há amor!

Enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida.

Machado de Assis
Quincas Borba (1891).