Depoimento de agradecimento

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A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.

Oswald de Andrade
ANDRADE, Oswald. Poesias Reunidas, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978

Todo aquele que contribui com uma pedra para a edificação das ideias, todo aquele que denuncia um abuso, todo aquele que marca os maus, para que não abusem, esse passa sempre por ser imoral.

O sentimento que o homem suporta com mais dificuldade é a piedade, principalmente quando a merece. O ódio é um tónico, faz viver, inspira vingança; mas a piedade mata, enfraquece ainda mais a nossa fraqueza.

Esqueço sempre, mas o corpo lembra:
em breve
será dezembro.

Saber de cor não é saber: é conservar aquilo que se deu a guardar à memória.

O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia.

Não existe conversa mais tediosa do que aquela onde todos concordam.

Todos os dias vão em direção à morte, o último chega a ela.

O sonho é o alívio das misérias dos que as têm acordados.

As lágrimas dos velhos são tão terríveis como as das crianças são naturais.

Não invejemos os que sobem muito acima de nós: a sua queda será muito mais dolorosa do que a nossa.

Quem sabe se não teremos de ultrapassar muito a natureza para perceber o que ela nos quer dizer?

Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível.

Aqueles que gastam mal o seu tempo são os primeiros a queixar-se da sua brevidade.

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade
ANDRADE, E., Antologia Breve, 1972

A maioria dos homens é mais capaz de grandes ações do que de boas.

Os leões têm uma grande força, mas esta ser-lhes-ia inútil se a natureza lhes não tivesse dado olhos.

A dificuldade atrai o homem de caráter, porque é abraçando-a que ele se realiza.

É uma infelicidade que existam tão poucos intervalos entre o tempo em que somos demasiado novos e o tempo em que somos demasiado velhos.

Um império fundado pelas armas tem de se manter pelas armas.