Deixar
Tão difícil deixar fluir. Mas é o que precisa ser feito agora. Virar barquinho, mesmo. Relaxar e observar o caminho, a paisagem. E assim vamos fluindo… Correnteza leve, por favor. Que não estamos assim muito prontos pra grandes tormentas. Está tudo bem na verdade. É só uma questão de se encontrar. Porque às vezes eu me perco e fico me procurando, e não me acho. Mas quem sabe assim, deixando que a água vá me levando, não dá certo, né? Deus dará…
Eu tenho medo de deixar de ser filha, de deixar de ser amiga, de deixar de ser menina, de deixar de ser estranha, de deixar de ser sozinha, de deixar de ser triste, de deixar de ser cínica. Eu tenho muito medo de deixar de ser.
Deixar que cada um faça a sua parte implica em deixar que cada um cuide de si, também.
Alguém precisa ser capaz de levantar para permitir que você possa estender a mão a outro, e à medida que as pessoas vão levantando, você deixa de ter uma preocupação para ganhar um aliado.
Nos incêndios que assolam nosso mundo, nossas vidas, deixar que cada um faça a sua parte implica em deixar que cada um cuide de si, também.
Disse que não deveria deixar nada e nem ninguém controlá-la, só ela mesma. Comentou que por nada neste mundo ela poderia vender a sua liberdade, e a fez aprender uma importantíssima lição: deveria ter um caso de amor consigo mesma, antes de ter um grande amor fora dela.
“Obrigada por insistir para eu voltar pra você, para eu deixar de ser adolescente e aceitar uma vida a dois, uma família, uma serenidade que eu não suspeitava. Eu não sabia que amava tanto você e que havia lhe dado boas pistas sobre isso, como é que você soube antes de mim?”
Uma hora eu cansei. Decidi deixar aquela vida que me fazia tão mal. Resolvi procurar alguém que me fizesse bem.
Ei, não precisa complicar as coisas. Às vezes, o melhor a fazer é não pensar, apenas se deixar levar pelo embalo doce que as emoções nos trazem a todo instante. Não quero saber dessa mania (des)humana de querer uma lógica para tudo. Nem tudo precisa ser estudado ou explicado. Estamos aqui para sentir e a gente só aprende a sentir sentindo. Pode soar meio confuso, mas é tão simples. Vem comigo, me dá a mão. Não precisa ter medo, um sentimento bonito como esse só pode nos fazer bem. Vem comigo, vou te ensinar que gostar de alguém não machuca o coração. Vem.
Ei, não precisa ficar com o pé atrás ou receoso, sentir não é pecado. A gente precisa ter coragem e força para vencer obstáculos, subir os pequenos degraus que vão nos levar até onde for preciso. Não fica com essa cara de assustado, entregar o coração dói bem menos que obturar um dente cariado.
Ei, não me olha assim. Esses teus olhos grandes e medrosos me dão um aperto no peito. Vem, eu te mostro que o caminho pode ser bonito. Olha, as coisas não são tão lindas como nos livros, mas garanto que são muito mais verdadeiras.
Ei, me dá a mão. Vamos ficar assim, sentindo o calor um do outro. Vamos ficar assim, com um coração de frente para o outro. Vamos ficar assim, com os olhos fixos naquilo que encanta e emociona.
Ei, respira fundo. Manda todos os fantasmas embora. Se não deu certo com outras pessoas outras vezes não quer dizer que agora vai ser igual. Então, você me pergunta: por que agora é diferente? E eu te respondo, de peito aberto: porque eu estou disposta a te fazer feliz.
É preciso saber sentir, mas também saber como deixar de sentir, porque se a experiência é sublime pode tornar-se igualmente perigosa. Aprenda a encantar e a desencantar. Observe, estou lhe ensinando qualquer coisa de precioso: a mágica oposta ao “abre-te, Sésamo”. Para que um sentimento perca o perfume e deixe de intoxicar-nos, nada há de melhor que expô-lo ao sol.
O prazer é abrir as mãos e deixar escorrer sem avareza o vazio-pleno que se estava encarniçadamente prendendo. E de súbito o sobressalto: ah....abri as mãos e o coração, e não estou perdendo nada! E o susto: acorde, pois há o perigo do coração estar livre!
Até que se percebe que nesse espraiar-se está o prazer muito perigoso de ser. Mas vem uma segurança estranha: sempre ter-se-á o que gastar. Não ter pois avareza com esse vazio-pleno: gastá-lo.
Perseverança não é somente acreditar na própria rede. Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas.
Alguém teve que acreditar que era possível chegar ao espaço
para que o homem pudesse deixar suas carroças
e começasse a alcançar as estrelas.