Deficiente Surdo
Vivo num silêncio que qualquer surdo enlouqueceria, por não ouvir nada ou por ouvir apenas ecos, ruídos. Nada de muito escandaloso. Vivo num mundo todo meu, todo fechado, e qualquer pessoa que tente me desvendar, vai se deparar com infinitas ruas sem saídas. Posso te garantir, nem a pessoa que mais me ama, suportaria viver nesse mundo, é tão meu, é tão eu, e de mim, as complicações são naturais.
É tudo um tanto sombrio, é sempre noite, pelo menos é o que parece quando estou acordado. Não há pessoas perambulando por aí. Se alguém está na rua, é porque tem um bom motivo pra ali estar.
O medo se torna aliado quando a coragem parece suspeita. Desconfiar da própria sombra, parece tão comum quando se vive mais que o necessário. Sempre me certifico se estou realmente sozinho, e é isso que reforça a minha segurança. As pessoas me magoaram demais ao longo da vida, e por mais que eu queira confiar em alguém, não consigo, não me esforço pra dar de bandeja um sentimento que me deixaria vulnerável, eu não confio em ninguém, e por diversas vezes, nem em mim mesmo.
Cercado de enigmas, de dúvidas, passo a noite inteira buscando respostas. É aterrorizante perceber que pra cada resposta que tenho, outras milhares tomam seu lugar. Tenho andando de cabeça baixa e isso já tem algum tempo, não quero o olhar de ninguém me assombrando ou me conquistando, pois se me lembro bem. Foi assim que meu sofrimento começou.
O tempo é todo estruturado, tudo geralmente tem seu tempo certo pra acontecer, se algo deu errado. É porque naquela hora, naquele instante, não era um bom tempo pra aquele momento acontecer.
Nesse meu mundo vivo me questionando, se estou no mundo certo, se estou no tempo certo, se fiz as perguntas certas e respondi algo do modo certo. Quero muito saber se algo deu ou vai dar certo. Porque na vida, ninguém deseja morrer errado desdo dia em que nasceu.
Eu saio de mansinho pela manhã pra não acordar meu cachorro... se bem que ele é surdo e nao acorda mesmo,
mas eu tento ajudar a dormir mais.
TRATADO SOBRE UM POEMA
quis um poema sem razão nem fim
um canto surdo de areia e noites
bem mais veloz que a ilusão do tempo
que fosse a vida muito além da morte
quis um poema que tivesse o fim
de ser apenas um rascunho torto
entre as lembranças de qualquer rascunho
entre os rascunhos de alguém já morto
quis um poema de tempo e de tempos
regado a vinho – se possível tinto –
do instante imune, que não foi instante
do tempo impuro, do mais puro cisco
quis um poema que fosse um poema
de pele clara, de cabelo ruivo
que fosse a pedra fecundando o húmus
e a luz gestante fecundando a luz
quis um poema... se quis um poema
foi assim quase... meio, fim e meio
sangrei a noite, mas fisguei o verbo
quis um poema lacerado ao meio
Dizem que o amor é cego.
Mas também deve ser surdo, mudo e ainda por cima deve estar faltando membros.
O amor é cego. Surdo e mudo.
E paralitico, imconsciente e louco ao mesmo tempo.
Não é quadrado, rectângulo e nem esferoide.
E reto, eficaz e dignificante de ser
E a mais pura verdade quem realmente vive
o amor é como a vida, pós quando não saber-mos peservar bem, nunca o teremos difinitivamente.
O amor é a dislexia do concreto e a surdez do composto. O amor é a miopia do afeto e a insensatez do bom gosto.
É preciso falar, falar para quem quiser ouvir. Não importa se muitos se fingirão de surdos. O importante é que os corretos ouçam e formem coro. Uma hora, uma casa cai.
Nosso amor está surdo, mudo, cego e paralitico. A nossa música já não toca mais nas rádios. Eu preciso te dizer adeus, agora, e não me arrepender mais por isso. Vai ser melhor assim. E quando você cair por si, eu sei, vai me ligar nas tardes de sábado. Vai tentar mudar o que já não existe, vai tentar ser mais ou menos bom em duas semanas e voltar tudo como era antes. Sinto muito em dizer que meu tempo já acabou. Não quero saber o quanto terei que chorar, me indagar e pensar o quanto nós somos infelizes e insistimos nessa infelicidade. Eu não quero mais isso pra mim. Olha, não me liga mais. Não venha tentar colar um vaso de cristal. Já não há cura. Não há mais como cicatrizar as nossas feridas. Como tocar em cordas partidas?
Ass: aquela que buscou sua outra metade,
mas não a encontrou em você.
(Carta ao futuro ex-namorado)
Posso me dar ao luxo de ser feliz...sou sincera e mostro o que faço, não fico na surdina pra me fazer de santa.
Se a justiça é cega, surda e muda, então porque os juízes enxergam os menos favorecidos em sua totalidade? fazendo assim os mesmos perderem processos, se a verdade está ali no processo na maioria das vezes? Será que FREUD explicaria isso?
Eu, eu estive aqui esse tempo todo.
Não me fiz eu, Pq sabia que cega e surda não seria o mais fácil, mas, o mais sensato.
Não preciso mostrar minha BELEZA aos Cegos...
Não preciso falar BELAS PALAVRAS aos Surdos...
Não preciso ser INTELIGENTE para os Burros...
Nem preciso ser SÁBIO para os Ignorantes...
Basta-me :
Não decepcionar os olhos de quem me admira;
Não agredir os ouvidos de quem me escuta;
Não subestimar a inteligência de quem me cerca;
Nem magoar os sentimentos de quem me entende.