Declaração de Amor a uma Amiga

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É difícil abandonar de repente um longo amor.

O amor por um só é uma barbaridade: porque se exerce à custa de todos os outros. O mesmo quanto ao amor por Deus.

A sorte da mulher depende do amor que aceita.

A vantagem do amor sobre a libertinagem é a multiplicação dos prazeres.

O beijo fulmina-nos como o relâmpago, o amor passa como um temporal, depois a vida, novamente, acalma-se como o céu, e tudo volta a ser como dantes. Quem se lembra de uma nuvem?

O amor pode viver de recordações; o ódio requer realidades presentes.

Os políticos não conhecem nem o ódio, nem o amor. São conduzidos pelo interesse e não pelo sentimento.

Custa menos ao nosso amor-próprio caluniar a sorte do que acusar a nossa má conduta.

O amor é um modo de viver e de sentir. É um ponto de vista um pouco mais elevado, um pouco mais largo; nele descobrimos o infinito e horizontes sem limites.

Hoje em dia, não pensamos muito no amor de um homem por um animal; rimos de pessoas que são apegadas a gatos. Mas se pararmos de amar os animais, não estaremos na iminência de pararmos de amar os humanos também?

O sucesso e o amor preferem o corajoso.

A ausência é o remédio do amor.

O amor afirma, o ódio nega. Mas por cada afirmação há milhentas de negação. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia. Vê se consegues que isso seja mentira. E terás chegado à verdade.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever

Aprender música lendo teoria musical é como fazer amor por correspondência.

Até na pessoa mais cansada o amor é como um despertar.

O adultério é a aplicação dos princípios democráticos ao amor.

A distância é o fascínio do amor.

Para se pôr fim a uma guerra, como a um amor, é preciso ver-se de perto.

A música clássica do amor é em tom maior, a romântica em tom menor. O amor moderno é uma fraca melodia, sobreinstrumentada.

Só havia três coisas sagradas na vida: a infância, o amor e a doença. Tudo se podia atraiçoar no mundo, menos uma criança, o ser que nos ama e um enfermo. Em todos esses casos a pessoa está indefesa.

Miguel Torga
TORGA, M., Diário, Coimbra, 27 de outubro de 1974