Crônicas de Nelson Rodrigues
A ajuda é como a luz do sol que não escolhe onde brilhar. Há um silêncio profundo que pulsa em cada gesto, uma mão estendida sem esperar outra. Na alma do vento há um sussurro antigo que fala de quem planta tâmaras, sabendo que nunca colherá os frutos. Na dádiva, encontra-se a essência, mesmo sabendo que o eco pode ser silêncio.
Mas a sabedoria murmura suavemente: a bondade não deve ser cega; deve ser iluminada pelo entendimento das circunstâncias. A verdadeira compaixão não se resume a atender cegamente cada pedido, mas a encontrar maneiras de ser útil sem causar dano a si mesmo.
Neste caminho de sombras e luz, o coração faz-se terra fértil, e cada ato de bondade é uma estrela que nasce, mesmo que só para iluminar a escuridão de um instante. Porque a grandeza reside na simplicidade de fazer o bem, sem perguntar o porquê, e na sabedoria de proteger-se para continuar a ajudar.
Há um silêncio que corre nos dias,
um cansaço de pensar profundo,
preferem os homens a sombra breve
da resposta fácil, como abrigo.
No caminho certo, há pedras e vento,
mas a verdade é um lume que aquece.
Escolhem o engano de olhos fechados,
na ilusão doce que adormece.
Mas há quem busque, mesmo exausto,
no labirinto da mente, o sol nascente,
e encontra na complexidade do mundo,
a pureza de um rio transparente.
Nas margens do pensar, floresce a vida,
onde o esforço se torna luz constante,
e a verdade, lenta, desabrocha,
em cada alma que não se cansa e avança.
Rosa Eterna
És poesia em mim em línguas sem fim,
Minha rosa com espinhos, dás-me o juízo perdido,
Perco-me no labirinto das curvas do teu corpo esculpido.
O efémero da vida em ti se revela,
Mas quão infinita é a felicidade nos teus braços,
Nos teus cabelos, brisas de madrugada se enredam,
No teu toque, encontro a paz, sem embaraços.
És a melodia silenciosa dos meus dias,
O verso oculto que ilumina a escuridão,
Na tua presença, o tempo se dissipa,
A eternidade vive em nossa junção.
Teu olhar guarda segredos das estrelas,
Teu sorriso, sol que desabrocha em sonhos meus,
Entre espinhos e flores da nossa imaginação,
És o poema que escrevo com o coração.
Entre a realidade dura e a fantasia,
És o universo onde me perco e me encontro,
És a essência que em versos confio,
No labirinto da vida, teu nome entoo com encanto.
Não é o meu mundo, este das luzes falsas e dos risos vazios. Não me encontro nos sorrisos de porcelana, nas felicidades ensaiadas. Não quero partilhar palavras ocas, conversas sem alma, onde o vazio se disfarça de importância. Não me reconheço nas máscaras de vaidade, nos olhares de arrogância que se erguem como narizes ao vento.
Aqui, a inveja semeia competições vãs, materializa o espírito e afasta a verdadeira essência. Não, este cenário de ilusões não é o meu lugar. Procuro o simples, o genuíno, onde o ser é mais que o parecer. Busco a pureza dos gestos sinceros, a presença dos que são e estão, sem pretensão ou artifício.
Como um ingénuo, quero apenas ser e estar, em harmonia com a simplicidade, ao lado de quem vive com a verdade no olhar e luz na alma.
Nos dias cinzentos ouso sonhar e voar mais alto que as nuvens de tempestade. Para além do raio e do trovão, vejo o sol e sinto o calor. Lembro-me de Ícaro e espero que as minhas asas não derretam. Como é bom flutuar nos braços do sol.
Os dias cinzentos são um manto pesado que cobre a alma, mas na minha imaginação, as nuvens abrem-se. Subo, subo sempre, até encontrar o fulgor do sol escondido. O coração bate mais forte, e os medos dissipam-se como névoa ao amanhecer.
A cada batida de asa, uma lembrança de Ícaro. Não com a sua temeridade, mas com a esperança de quem deseja apenas sentir o calor que dá vida. Como é bom flutuar nos braços do sol, onde cada raio é um afago e cada sombra, uma memória desvanecida.
No voo, encontro a liberdade. Na luz, descubro o caminho. As tempestades podem rugir, mas eu, feito de sonho e coragem, atravesso-as com a certeza de que, além delas, há sempre um sol à espera.
Sob a luz do sol, caminhamos,
nas mãos a esperança do amanhã.
Há dias em que o céu brilha claro,
os seus raios dançam na pele, no coração.
Mas às vezes, o céu escurece,
as nuvens pesam, ameaçam chuva.
Gotas caem, lavam as tristezas,
os medos dissolvem-se, escorrem pelo chão.
E outras vezes, as tempestades rugem,
ventos ferozes, relâmpagos que rasgam.
Os trovões iluminam o caminho
que, mesmo tortuoso, seguimos firmes.
Há dias em que a terra treme,
o chão abre-se, tudo se abala.
Nesses momentos, agarramo-nos,
buscamos forças nas raízes profundas.
Apesar de todas as tormentas,
de cada chuva, de cada tremor,
sabemos que o sol desponta
e renasce a esperança em cada flor.
Assim é o amor, a nossa jornada,
um ciclo de luz e de sombra.
Mas no fundo, em cada alvorada,
sabemos que o sol sempre volta.
Navegaste para o Oriente Eterno,
onde a luz resplandece e o mar do tempo encontra o infinito.
Descansa em paz, na serenidade da eternidade,
onde o silêncio abraça a tranquilidade e a memória se eterniza.
Em teu descanso, a viagem se completa,
o horizonte se alarga e a paz se faz presente.
No infinito, a luz guia tua jornada,
onde a calma e o repouso são eternos companheiros.
Estica-te perna se tens quem te governa,
No calor do verão, à sombra frondosa,
O sol acarinha, a tarde se alterna,
Em murmúrios de brisa tão silenciosa.
Deitado no jardim, espreguiçadeira amiga,
O tempo se dissolve em suspiros de paz,
Enquanto a vida, num quadro, se abriga,
E a tarde se estende, preguiçosa, voraz.
Quando vejo teu sorriso pela manhã,
É como o sol que desponta no horizonte,
Dando calor e esperança ao novo dia.
O simples gesto ilumina a manhã,
E toda a natureza parece acordar contigo.
Não penso em mais nada, apenas existo,
No momento em que teu sorriso se encontra com o meu olhar.
É como um banho de luz e alegria,
Que lava a alma e renova o espírito.
Começo o dia assim, em paz,
Como um campo que recebe a brisa suave.
Teu sorriso é o sol que me aquece,
E me dá a força para enfrentar a jornada.
Ah, como é bom viver essa simplicidade,
De sentir o teu sorriso como um nascer do sol.
Tudo se torna claro, tudo faz sentido,
E sou apenas um homem, agradecido por esta luz.
Quando o sol surge pela manhã,
É como um farol que desponta no horizonte,
Trazendo calor e vigor ao novo dia.
Seu simples brilho ilumina a manhã,
E toda a natureza desperta com ele.
Não penso em mais nada, apenas existo,
No momento em que o sol cruza o meu olhar.
É como um banho de luz e energia,
Que revigora e renova o espírito.
Começo o dia assim, em paz,
Como um campo que recebe a brisa suave.
O sol é a luz que me desperta,
E me dá a força para a jornada.
Desfruto desta simplicidade,
Sentindo o sol como uma carícia ao acordar.
Por instantes, a mente se aquieta e o desassossego se dissipa,
E sou apenas um homem, grato por essa luz.
Não pensemos demasiado na derrota. É apenas um jogo, um jogo que nos dá alegrias e também traz lágrimas. Mas, afinal, o que é um jogo senão um momento de distração, uma pausa na vida, onde nada está verdadeiramente em causa, senão um pouco de orgulho?
As lágrimas de uns são os sorrisos de outros, e assim o equilíbrio da vida se mantém. Não cultivemos ódio ou raiva contra quem nos venceu. O desporto é uma celebração, uma festa que deve unir e não dividir.
Agradecemos aos atletas que envergam as cores nacionais por nos terem feito sonhar. E mesmo agora, depois da derrota, continuaremos a sonhar juntos. Porque no fundo, o que importa é o sonho, e o sonho é eterno, indiferente aos resultados de um jogo.
Uma despedida difícil
É amar e ver que não pode ser.
Como a árvore que não cresce
No solo que não a nutre.
Ficar seria esperar pelo impossível,
Tolerar a ferida que não sara,
Aceitar o pouco, perder-se
Na tentativa de não perder o outro.
A natureza não espera,
Não hesita, não sofre.
O rio corre sempre para o mar,
Mesmo que deixe a montanha para trás.
Sabemos que deixar ir dói,
Mas é o caminho para a cura.
Às vezes, partir é amar,
Não por falta de amor ao outro,
Mas por amor a nós mesmos.
Com a simplicidade do vento
Que sopra sem mágoa,
Partimos, porque tudo é como deve ser,
E no amor-próprio encontramos a paz.
Em todos os caminhos que tomo,
Sinto a verdade simples e serena:
Todos levam ao mesmo fim.
O fim é a única certeza,
O ponto final de cada passo.
Não há mistério, nem há desespero.
A vida é uma senda sem pressa, mas com destino certo.
Perco-me em cada curva,
E ao perder-me, encontro a paz.
É no perder-se que se vive,
Na aceitação do inevitável,
Na simplicidade de cada instante.
O campo não se preocupa com a estrada,
A flor desabrocha sem pensar no fim.
Vivamos então, como a natureza,
Sem medo, sem pressa,
Perdendo-nos na beleza de cada dia.
Pois é no perder-se que se encontra
A verdadeira liberdade do ser.
Dualidade Unida
Nasci na Alemanha, num pedaço de terra que acolhe e cuida. Filho de pais portugueses, trago comigo as raízes profundas de uma pátria distante. Sim, amo dois países. Um foi mãe, outro é pai. E assim, cresci entre dois mundos, onde o patriotismo não se anula, mas se completa, como as estações que se sucedem, cada uma com a sua beleza.
O melhor de ambas as culturas marcou a minha educação, tal como o sol e a lua marcam o dia e a noite. Da Alemanha, aprendi a ordem e a disciplina, o respeito pelo tempo e pelo espaço. De Portugal, recebi a alma poética, a saudade que me abraça e a simplicidade das coisas.
Guardo ambos no meu coração, sem conflito, sem divisão. São como duas árvores que crescem lado a lado, as suas raízes entrelaçadas, as suas folhas tocando-se ao vento. E assim, sou inteiro, sou completo, porque levo comigo a essência de dois lugares que me formaram e me fazem ser quem sou.
No jardim do meu ser, rosa brava, és a luz que acalma,
A paz encontrada, inspiras versos, palavras encantadas,
És o refúgio da minha alma desassossegada.
Quando teu olhar, mar de serenidade, me encontra,
Meu mundo aquieta, em cumplicidade nas longas conversas,
E no silêncio, um amor que ensurdece e encanta.
Mesmo distante, és constante presença,
Flor que habita meu sonho e a lembrança,
Trazendo à vida uma doce promessa,
Minha rosa brava, livre e insubmissa.
A minha existência é um pequeno clarão,
Que brilha por instantes na vastidão,
E ilumina a noite fugazmente sem pedir permissão.
Sou um relâmpago que não sabe por que surge,
Um lampejo que não questiona seu destino.
A vida é simples, como a luz de uma vela ao vento,
E eu sou apenas o que sou, sem intenção ou lamento.
As estrelas observam-me sem curiosidade,
Assim como eu observo o campo, a árvore, o rio.
Nada tem propósito além de ser,
E nesse ser, encontro minha paz e meu viver.
Não há mistério no clarão que sou,
Não há desejo de eternidade ou de compreensão.
Sou um instante de luz na escuridão do mundo,
E isso basta, sem razão, sem ilusão.
A vida não se pede, nem se rejeita,
Apenas se é, como o sol, como o mar.
E ao findar do meu brilho, algo persiste,
Pois na vastidão, meu clarão resiste.
Ser é suficiente, ser é tudo,
E o pequeno clarão que sou,
Ilumina outros caminhos na escuridão,
Deixando uma fugaz e efêmera recordação.
No silêncio das lojas, entre pedras que guardam memórias antigas, ecoa a voz sussurrante da fraternidade, como um murmúrio de água entre os rochedos. Homens, artífices da alma, esculpem gestos de simetria e equilíbrio na pedra bruta que os alberga.
No ritual, desvendam-se símbolos entrelaçados, onde o esquadro mede a retidão da alma e o compasso traça os limites do saber. Sob a abóbada do céu estrelado, revelam-se mistérios como constelações esquecidas.
Reúnem-se à volta do templo, onde a luz ténue das velas ilumina o caminho, e nas sombras das colunas que guardam os segredos, ergue-se a sabedoria, forte e bela da tradição e entoada com a voz grave da experiência. É um cântico que atravessa gerações, ressoando no coração daqueles que, na busca constante pela luz, encontram a libertação.
Silêncio
Há sabedoria no silêncio das pedras, No murmúrio quieto do rio que passa. Não falam as árvores, e ainda assim conhecem os segredos da terra e do vento.
O silêncio do campo é cheio de respostas, Que as palavras não conseguem dizer. A brisa suave que toca a face, Diz mais do que qualquer voz humana.
Vejo a verdade na luz da manhã, No balançar das folhas ao sol. Tudo fala sem palavras, Tudo responde sem perguntar.
Há um entendimento profundo No simples ato de não falar. O silêncio é a resposta mais pura, Que a natureza nos oferece sem cessar.
Quando me calo, ouço o mundo, E nele encontro a paz que as palavras perdem. No silêncio há uma sabedoria tão profunda, Que transforma o vazio em plenitude.
Aquieto-me na sombra das árvores, E deixo que o silêncio me ensine. Pois há mais verdade na quietude, Do que na língua bífida da humanidade.
Nasci buscando a liberdade,
Quero ser livre, e quem quiser,
Que me aceite assim.
Procuro a sabedoria que ilumina como o sol,
Encontrar beleza que quase me cegue,
E desejo que a força nunca me falte.
Sonho voar como os pássaros,
Com a mente leve e sem correntes.
Quero ser um alquimista do ser,
Estranho como uma ave rara,
Nem sempre fácil de entender ou aceitar.
Às vezes estou distante,
Às vezes estou calado,
Às vezes estou radiante,
Às vezes estou falante.
Perco-me em mim,
Como se o pensar fosse um oceano sem fim,
Onde navego e me transmuto.
Sou simples, não simplório, sou como as estações,
Que mudam sem razão aparente.
Quero ser como a natureza,
Livre e sem amarras,
Deixando-me levar pelo vento e pela corrente.
Busco apenas ser,
Ser em plenitude, ser livre,
Simples e verdadeiro,
Como a ondulação do mar.
E quem quiser, que me aceite assim.
Na calmaria do meu dia-a-dia tranquilo,
Sem pressas nem aflições que perturbam,
Contemplo a vida com a serenidade de quem se entrega,
Não à procura do amanhã, mas à plenitude do presente.
Vejo as pessoas correndo atrás de ilusões fugidias,
Esperando encontrar a felicidade num horizonte distante.
Mas eu, na quietude do meu ser, prefiro saborear o agora,
Pois a alegria reside na simplicidade que exploro.
Não sou poeta de grandes feitos ou narrativas épicas,
Prefiro a delicadeza das palavras que acarinho.
Por que complicar o que é tão simples e belo?
Viver é o caminho, sorrir é meu consolo.
Assim, vivo o momento com serenidade e sem receio,
A vida é para ser vivida, no presente e com meu apreço,
E a paz interior no agora é a chave para minha felicidade.