Cristianismo
Assim, usando muitas parábolas como estas, Jesus falava ao povo de um modo que eles podiam entender. E só falava com eles usando parábolas, mas explicava tudo em particular aos discípulos.
Naquele dia, de tardinha, Jesus disse aos discípulos:
— Vamos para o outro lado do lago.
Então eles deixaram o povo ali, subiram no barco em que Jesus estava e foram com ele; e outros barcos o acompanharam. De repente, começou a soprar um vento muito forte, e as ondas arrebentavam com tanta força em cima do barco, que ele já estava ficando cheio de água. Jesus estava dormindo na parte detrás do barco, com a cabeça numa almofada. Então os discípulos o acordaram e disseram:
— Mestre! Nós vamos morrer! O senhor não se importa com isso?
Então ele se levantou, falou duro com o vento e disse ao lago:
— Silêncio! Fique quieto!
O vento parou, e tudo ficou calmo. Aí ele perguntou:
— Por que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?
E os discípulos, cheios de medo, diziam uns aos outros:
— Que homem é este que manda até no vento e nas ondas?!
Faltava pouco tempo para a Festa dos Pães sem Fermento, chamada Páscoa. Os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei procuravam um jeito para matar Jesus em segredo porque tinham medo do povo.
Então Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze discípulos. Judas foi falar com os chefes dos sacerdotes e com os oficiais da guarda do Templo para combinar a maneira como ele ia lhes entregar Jesus. Eles ficaram muito contentes e prometeram dar dinheiro a ele. Judas aceitou e começou a procurar uma oportunidade para entregar Jesus a eles, sem que o povo ficasse sabendo.
Chegou o dia da Festa dos Pães sem Fermento, dia em que os judeus matavam carneirinhos para comemorar a Páscoa. Então Jesus deu a Pedro e a João a seguinte ordem:
— Vão e preparem para nós o jantar da Páscoa.
Eles perguntaram:
— Onde o senhor quer que a gente prepare o jantar?
Jesus respondeu:
— Escutem! Quando entrarem na cidade, um homem carregando um pote de água vai se encontrar com vocês. Sigam esse homem até a casa onde ele entrar e digam ao dono dela: “O Mestre mandou perguntar a você onde fica a sala em que ele e os seus discípulos vão comer o jantar da Páscoa.” Então ele mostrará a vocês uma grande sala mobiliada, no andar de cima. Preparem ali o jantar.
Os dois discípulos foram até a cidade e encontraram tudo como Jesus tinha dito. Então prepararam o jantar da Páscoa.
Quando chegou a hora, Jesus sentou-se à mesa com os apóstolos e lhes disse:
— Como tenho desejado comer este jantar da Páscoa com vocês, antes do meu sofrimento! Pois eu digo a vocês que nunca comerei este jantar até que eu coma o verdadeiro jantar que haverá no Reino de Deus.
Então Jesus pegou o cálice de vinho, deu graças a Deus e disse:
— Peguem isto e repartam entre vocês. Pois eu afirmo a vocês que nunca mais beberei deste vinho até que chegue o Reino de Deus.
Depois pegou o pão e deu graças a Deus. Em seguida partiu o pão e o deu aos apóstolos, dizendo:
— Isto é o meu corpo que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim.
Depois do jantar, do mesmo modo deu a eles o cálice de vinho, dizendo:
— Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue, derramado em favor de vocês. Mas vejam: o traidor está aqui sentado comigo à mesa! Pois o Filho do Homem vai morrer da maneira como Deus já resolveu. Mas ai daquele que está traindo o Filho do Homem!
Então os apóstolos começaram a perguntar uns aos outros quem seria o traidor.
Os apóstolos tiveram uma forte discussão sobre qual deles deveria ser considerado o mais importante. Então Jesus disse:
— Os reis deste mundo têm poder sobre o povo, e os governadores são chamados de “Amigos do Povo”. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, o mais importante deve ser como o menos importante; e o que manda deve ser como o que é mandado. Quem é o mais importante? É o que está sentado à mesa para comer ou é o que está servindo? Claro que é o que está sentado à mesa. Mas entre vocês eu sou como aquele que serve.
— Vocês têm estado sempre comigo nos meus sofrimentos. Por isso, assim como o meu Pai me deu o direito de governar, eu também dou o mesmo direito a vocês. Vocês vão comer e beber à minha mesa no meu Reino e sentarão em tronos para julgar as doze tribos de Israel.
Jesus continuou:
— Simão, Simão, escute bem! Satanás já conseguiu licença para pôr vocês à prova. Ele vai peneirar vocês como o lavrador peneira o trigo a fim de separá-lo da palha. Mas eu tenho orado por você, Simão, para que não lhe falte fé. E, quando você voltar para mim, anime os seus irmãos.
Então Pedro disse a Jesus:
— Estou pronto para ser preso e morrer com o senhor!
Então Jesus afirmou:
— Eu digo a você, Pedro, que hoje, antes que o galo cante, você dirá três vezes que não me conhece.
Depois Jesus perguntou aos discípulos:
— Por acaso faltou a vocês alguma coisa quando eu os enviei sem bolsa, sem sacola e sem sandálias?
— Não faltou nada! — responderam eles.
Então Jesus disse:
— Pois agora quem tem uma bolsa ou sacola deve pegá-la; e quem não tem espada deve vender a capa e comprar uma. Pois as Escrituras Sagradas dizem: “Ele foi tratado como se fosse um criminoso.” Eu afirmo a vocês que isso precisa acontecer comigo, pois o que está escrito a meu respeito tem de acontecer.
Aí os seus discípulos disseram:
— Senhor, aqui estão duas espadas.
— Basta! — respondeu ele.
Jesus saiu e foi, como de costume, ao monte das Oliveiras; e os seus discípulos foram com ele. Quando chegou ao lugar escolhido, Jesus disse:
— Orem pedindo que vocês não sejam tentados.
Então se afastou a uma distância de mais ou menos trinta metros. Ajoelhou-se e começou a orar, dizendo:
— Pai, se queres, afasta de mim este cálice de sofrimento! Porém que não seja feito o que eu quero, mas o que tu queres.
[Então um anjo do céu apareceu e o animava. Cheio de uma grande aflição, Jesus orava com mais força ainda. O seu suor era como gotas de sangue caindo no chão.]
Depois de orar, ele se levantou, voltou para o lugar onde os discípulos estavam e os encontrou dormindo, pois a tristeza deles era muito grande. E disse:
— Por que vocês estão dormindo? Levantem-se e orem para que não sejam tentados.
Jesus ainda estava falando, quando chegou uma multidão. Judas, um dos doze discípulos, que era quem guiava aquela gente, chegou perto de Jesus para beijá-lo. Mas Jesus disse:
— Judas, é com um beijo que você trai o Filho do Homem?
Quando os discípulos que estavam com Jesus viram o que ia acontecer, disseram:
— Senhor, devemos atacar essa gente com as nossas espadas?
Um deles feriu com a espada o empregado do Grande Sacerdote, cortando a sua orelha direita.
Mas Jesus ordenou:
— Parem com isso!
Aí tocou na orelha do homem e o curou. Em seguida disse aos chefes dos sacerdotes, aos oficiais da guarda do Templo e aos líderes judeus que tinham vindo para prendê-lo:
— Por que vocês vieram com espadas e porretes para me prender como se eu fosse um bandido? Eu estava com vocês todos os dias no pátio do Templo, e vocês não tentaram me prender. Mas esta é a hora de vocês e também a hora do poder da escuridão.
Eles prenderam Jesus e o levaram até a casa do Grande Sacerdote. E Pedro os seguia de longe. Quando acenderam uma fogueira no meio do pátio, Pedro foi e sentou-se com os que estavam em volta do fogo. Uma das empregadas o viu sentado ali perto da fogueira, olhou bem para ele e disse:
— Este homem também estava com Jesus!
Mas Pedro negou, dizendo:
— Mulher, eu nem conheço esse homem!
Pouco tempo depois, um homem o viu ali e disse:
— Você também é um deles!
Mas Pedro respondeu:
— Homem, eu não sou um deles.
Mais ou menos uma hora depois, outro insistiu:
— Você estava mesmo com ele porque também é galileu.
Mas Pedro respondeu:
— Homem, eu não sei do que é que você está falando!
Naquele instante, enquanto ele falava, o galo cantou. Então o Senhor virou-se e olhou firme para Pedro, e ele lembrou das palavras que o Senhor lhe tinha dito: “Hoje, antes que o galo cante, você dirá três vezes que não me conhece.” Então Pedro saiu dali e chorou amargamente.
Os homens que estavam guardando Jesus zombavam dele e batiam nele. Taparam os olhos dele e perguntavam:
— Quem foi que bateu em você? Adivinhe!
E diziam muitas outras coisas para insultá-lo.
Quando amanheceu, alguns líderes dos judeus, alguns chefes dos sacerdotes e alguns mestres da Lei se reuniram. Depois mandaram levar Jesus diante do Conselho Superior. Então lhe disseram:
— Diga para nós se você é o Messias.
Ele respondeu:
— Se eu disser que sim, vocês não vão acreditar. E, se eu fizer uma pergunta, vocês não vão responder. Mas de agora em diante o Filho do Homem se sentará do lado direito do Deus Todo-Poderoso.
Aí todos perguntaram:
— Então você é o Filho de Deus?
Jesus respondeu:
— São vocês que estão dizendo isso.
E eles disseram:
— Não precisamos mais de testemunhas. Nós mesmos ouvimos o que ele disse.
Em seguida o grupo todo se levantou e levou Jesus para Pilatos. Lá, começaram a acusá-lo, dizendo:
— Pegamos este homem tentando fazer o nosso povo se revoltar, dizendo a eles que não pagassem impostos ao Imperador e afirmando que ele é o Messias, um rei.
Aí Pilatos perguntou a Jesus:
— Você é o rei dos judeus?
Jesus respondeu:
— Quem está dizendo isso é o senhor.
Então Pilatos disse aos chefes dos sacerdotes e à multidão:
— Não encontro nenhum motivo para condenar este homem.
Mas eles insistiram:
— Ele está causando desordem entre o povo em toda a Judeia. Ele começou na Galileia e agora chegou aqui.
Ouvindo isso, Pilatos perguntou:
— Este homem é da Galileia?
Quando soube que Jesus era da região governada por Herodes, Pilatos o mandou para ele, pois Herodes também estava em Jerusalém naquela ocasião. Herodes ficou muito contente quando viu Jesus, pois tinha ouvido falar a respeito dele e fazia muito tempo que queria vê-lo. Ele desejava ver Jesus fazer algum milagre. Então fez muitas perguntas a Jesus, mas ele não respondeu nada. Os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei se apresentaram e fizeram acusações muito fortes contra Jesus. Herodes e os seus soldados zombaram de Jesus e o trataram com desprezo. Puseram nele uma capa luxuosa e o mandaram de volta para Pilatos. Naquele dia Herodes e Pilatos, que antes eram inimigos, se tornaram amigos.
Pilatos reuniu os chefes dos sacerdotes, os líderes judeus e o povo e disse:
— Vocês me trouxeram este homem e disseram que ele estava atiçando o povo para fazer uma revolta. Pois eu já lhe fiz várias perguntas diante de todos vocês, mas não encontrei nele nenhuma culpa dessas coisas de que vocês o acusam. Herodes também não encontrou nada contra ele e por isso o mandou de volta para nós. Assim, é claro que este homem não fez nada que mereça a pena de morte. Eu vou mandar que ele seja chicoteado e depois o soltarei.
[Na Festa da Páscoa, Pilatos tinha o costume de soltar algum preso, a pedido do povo.] Aí toda a multidão começou a gritar:
— Mata esse homem! Solta Barrabás para nós!
Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na cidade e por assassinato.
Então Pilatos, querendo soltar Jesus, falou outra vez com a multidão. Mas eles gritavam mais ainda:
— Crucifica! Crucifica!
E Pilatos disse pela terceira vez:
— Mas qual foi o crime dele? Não vejo neste homem nada que faça com que ele mereça a pena de morte. Vou mandar que ele seja chicoteado e depois o soltarei.
Porém eles continuaram a gritar bem alto, pedindo que Jesus fosse crucificado; e a gritaria deles venceu. Pilatos condenou Jesus à morte, como pediam. E soltou o homem que eles queriam — aquele que havia sido preso por causa de revolta e de assassinato. E entregou Jesus para fazerem com ele o que quisessem.
Então os soldados levaram Jesus. No caminho, eles encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene, que vinha do campo. Agarraram Simão e o obrigaram a carregar a cruz, seguindo atrás de Jesus.
Uma grande multidão o seguia. Nela havia algumas mulheres que choravam e se lamentavam por causa dele. Jesus virou-se para elas e disse:
— Mulheres de Jerusalém, não chorem por mim, mas por vocês e pelos seus filhos! Porque chegarão os dias em que todos vão dizer: “Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos, que nunca deram à luz e que nunca amamentaram!” Chegará o tempo em que todos vão dizer às montanhas: “Caiam em cima de nós!” E dirão também aos montes: “Nos cubram!” Porque, se isso tudo é feito quando a lenha está verde, o que acontecerá, então, quando ela estiver seca?
Levaram também dois criminosos para serem mortos com Jesus. Quando chegaram ao lugar chamado “A Caveira”, ali crucificaram Jesus e junto com ele os dois criminosos, um à sua direita e o outro à sua esquerda.
[Então Jesus disse:
— Pai, perdoa esta gente! Eles não sabem o que estão fazendo.]
Em seguida, tirando a sorte com dados, os soldados repartiram entre si as roupas de Jesus. O povo ficou ali olhando, e os líderes judeus zombavam de Jesus, dizendo:
— Ele salvou os outros. Que salve a si mesmo, se é, de fato, o Messias que Deus escolheu!
Os soldados também zombavam de Jesus. Chegavam perto dele e lhe ofereciam vinho comum e diziam:
— Se você é o rei dos judeus, salve a você mesmo!
Na cruz, acima da sua cabeça, estavam escritas as seguintes palavras: “Este é o Rei dos Judeus”.
Um dos criminosos que estavam crucificados ali insultava Jesus, dizendo:
— Você não é o Messias? Então salve a você mesmo e a nós também!
Porém o outro o repreendeu, dizendo:
— Você não teme a Deus? Você está debaixo da mesma condenação que ele recebeu. A nossa condenação é justa, e por isso estamos recebendo o castigo que nós merecemos por causa das coisas que fizemos; mas ele não fez nada de mau.
Então disse:
— Jesus, lembre de mim quando o senhor vier como Rei!
Jesus respondeu:
— Eu afirmo a você que isto é verdade: hoje você estará comigo no paraíso.
Mais ou menos ao meio-dia o sol parou de brilhar, e uma escuridão cobriu toda a terra até as três horas da tarde. E a cortina do Templo se rasgou pelo meio. Aí Jesus gritou bem alto:
— Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!
Depois de dizer isso, ele morreu. Quando o oficial do exército romano viu o que havia acontecido, deu glória a Deus, dizendo:
— De fato, este homem era inocente!
Todos os que estavam reunidos ali para assistir àquele espetáculo viram o que havia acontecido e voltaram para casa, batendo no peito em sinal de tristeza. Todos os amigos de Jesus e as mulheres que o tinham seguido desde a Galileia ficaram de longe, olhando tudo aquilo.
Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia, na região da Judeia. Ele era bom e correto e esperava a vinda do Reino de Deus. Fazia parte do Conselho Superior, mas não tinha concordado com o que o Conselho havia resolvido e feito. José foi e pediu a Pilatos o corpo de Jesus. Então tirou o corpo da cruz e o enrolou num lençol de linho. Depois o colocou num túmulo cavado na rocha, que nunca havia sido usado. Isso foi na sexta-feira, e já estava para começar o sábado.
As mulheres que haviam seguido Jesus desde a Galileia foram com José e viram o túmulo e como Jesus tinha sido colocado ali. Depois voltaram para casa e prepararam perfumes e óleos para passar no corpo dele.
E no sábado elas descansaram, conforme a Lei manda.