Crise
SOMOS FUMAÇA
Estávamos discutindo. Eu acho. Ela me olhava com uma expressão magoada e eu não expressei nada, não queria que ela soubesse como eu me sentia. Era melhor assim. Eu acho. A parte mais confusa é que eu não me lembro muito bem sobre o que estávamos discutindo. Alguma atitude minha ou dela que fora errada? Não... Creio que foi sobre o que acontecia entre nós dois. Ah, desisto. Não lembro. Só sei que estávamos discutindo. Sim, tenho certeza disso.
"SOMOS FUMAÇA!" ela disse.
Eu não entendi. Não fazia muito sentido dizer isso. Ela se virou e foi embora, eu nunca mais a vi. No dia seguinte eu pensei que ela voltaria, como sempre voltou quando brigávamos, mas algo havia mudado nela.
Ela não aturava mais minhas besteiras e passou a criticar meus erros sem medo. Ficou destemida, de repente. Mudou. Porque será? Eu fiz algo errado? Perdi minha melhor amiga, minha companheira, por causa de alguma ação mal pensada?
Levei dois anos para entender. Somos fumaça. Não somos fogo. Somos passageiros, bipolares sem perceber, depressivos e simpáticos. Sempre fomos instáveis. Nunca soubemos o que tínhamos e assim ela desistiu e eu também. Errei. Eu a amava. Juro que amava. Me preocupei tanto em ser enigmático que não percebi o quão difícil era para ela lidar comigo. Acho que ela se tocou que fazia papel de trouxa, mesmo eu não achando isso. Mesmo eu a amando de coração sem demonstrar direito.
Nunca tive jeito com relacionamentos. Eu tentei com ela. Tentei uma, duas, três vezes... sempre acabava. Sempre eu a magoava. No entanto, ela voltava. Sempre. Sempre. Não dessa vez.
Cinco anos passaram e eu me vi a beira do precipício. Somos fumaça. A voz dela ecoava em minha mente toda vez que eu acordava e toda vez que eu ia dormir. Eu pensava nela todas as manhãs e chorava por ela todas as noites. Meus pais começaram a se preocupar, sai de casa, arrumei emprego. Cresci. Amadureci. Não superei.
Eu queria mais um instante com ela.
Queria dizer que a amava e que ia demonstrar direito.
Perdi essa oportunidade.
Oh felicidade... porque tão temporária?
Eu sorri essa manhã quando tirei do correio uma carta com o nome e a letra dela.
Sorri.
Sorri como nunca.
Ela vai voltar. Pensei que ela voltaria depois de dez anos, mas a carta me quebrou por dentro. Ela não voltaria.
Eu li a carta devagar, incrédulo.
Querido Adam,
Se essa carta chegou até você é porque realmente o câncer me levou. Eu nunca tive a coragem de te dizer tudo o que eu queria naquele dia. Vou ser breve...
Eu te amo. Sempre amei e sempre vou amar. Não estou sendo romântica ou exagerada, como você insistia em me chamar, estou sendo realista. Não posso te esquecer e não quero. Eu queria mais um instante contigo.
Só um instantinho.
Uma eternidade pequena...
Prometo que iria ser suficiente. Um momento seria ótimo.
Ainda somos fumaça, meu amor, mas onde tem fumaça, sempre há fogo.
Amo você. Viva.
Doeu. Saber que ela estava morta, doeu.
Eu morri dois dias depois.
Acidente de carro.
Cinco minutos depois de minha morte eu encontrei Luana.
Ela estava linda. Perfeita. Usando um vestido branco e com os cachos loiros marcando seu rosto angelical. Enfim unidos.
Ela estava ali.
“Somos fumaça”, ela disse.
Eu sorri.
Me aproximei.
Tomei ela em meus braços e suspirei.
“Nós fomos fumaça, hoje somos só nos dois mesmo, sem analogias ou metáforas... Só nos dois.”
Beijamo-nos.
Se quem se vangloria soubesse o que os outros acham de sua conduta, frearia mais a língua e compreenderia que a humildade é o melhor caminho para o reconhecimento.
Alomorfia
E aqui estou novamente, em minha própria angustia perdida,
sem saber o que fazer da própria vida.
Vivo em uma crise existencial,
onde me pergunto se a vida seria mais interessante se eu fosse normal.
Minhas ideias e planos se misturam em turbilhão,
passando por uma constante transformação.
E eu como sempre petulante,
me satisfaço mesmo sendo essa metamorfose ambulante.
"O homem que reconhece o absurdo da vida ou a vive intensamente ou a perde de vez, deixando a segurança desse mundo. No entanto, aquele que não o reconhece, nem a vive intensamente ou nem a perde de vez, pelo simples fato de que ele não existe. O absurdo é a razão lúcida. Como dizia Platão: 'Uma vida não questionada não merece ser vivida.'"
Agorazepam
Volta, cabeça
Do ar pro seu lugar
De novo eu aqui
E você aí a flutuar
Ouvindo o estalar seco
De um canavial tão verde
Mas também tão cinza
Árido, de vento sem eco
Eu aqui e você aí
Na copa de um arvoredo
Que resiste em meio
Ao deserto verde traiçoeiro
Volta, cabeça!
Do ar pro seu lugar
Um, dois comprimidos
Amortece, acalma, adormece
Ouvindo qualquer barulho
Desperto, estado semi-consciente
E penso, vale o que vejo,
Ou vale o que piso?
Será que subo o corpo
Ou será que apago a mente?
Flutuar atualmente parece
tão inconseqüente
Mas lá de cima talvez
Minha mente quer mostrar
O que entre cascavéis e vinhaça
É impossível mirar
Ainda não sei o que é
Mas sei que há de haver
Um ponto de encontro
Um rumo que seja
Então volta, cabeça
Do ar pro seu lugar
Quero ver o horizonte daqui
Um, dois comprimidos, despertador
Cada um nasceu para enfrentar os próprios dragões, as próprias tempestades e as suas próprias erupções.
"Amores líquidos, ressaca brava e costumaz. Tempos acelerados por crises, vazio existencial, distâncias e aparências.
Amargamos a fase de falsas expectativas, radicalismos, intolerâncias, conflitos e rompimentos"...
Para as lunáticas amorosas, suas próprias crises de ciúmes são meios imperfeitos de provarem que o sentimento existe.
Vivemos em tempos difíceis... Após 2020 muita coisa mudou, o mundo ficou mais estranho, as pessoas não pensam mais. Agem como animais domados por um sistema que só faz destruir o próprio ser-humano.
No futuro, será se o nosso povo vai ser mais esperançoso? Se vamos finalmente vencer o mal que assola a mente da nossa geração? Se o medo que existe em nossos corações sobre o futuro incerto vai finalmente cessar?
Ou só iremos adicionar mais problemas que nos mesmos inventamos a conta, como queimadas, uso extremo e indiscriminado de matéria prima, poluição, aquecimento global, doenças modificadas em laboratório, matança gerada por guerras... Será se nós realmente temos salvação? Ou vamos sucumbir a nós mesmos?
Entretanto, engana-se aquele que tomar a universidade apenas pelo que ela faz em termos de ensino e de formação profissional
Risquei mesmo todo mundo que não tava fazendo diferença, e risquei também quem tava fazendo bagunça demais.
Zero paciência pra gente chata, indecisa, gente que fala muito (porque esse papel já é o meu). Zero paciência pra lugares pequenos, pra olhares de medição e sorrisos entre os dentes.
Eu deixei pra trás aquelas incertezas, deixei aqueles caras que me achavam merecedora de amor demais, e eles não estavam prontos, aqueles que ficavam indo e vindo toda vez que o relacionamento entrava em crise. Deixei pra trás principalmente aquele que só vem as 3h da manhã.
Eu quero vida! Quero porres de tequila, quero bolhas nos pés de tanto dançar...
Quero que falem de mim, quero segurar a vida tão apertada em minhas mãos que eu sinta falta de ar mas ainda assim não a solte nem afrouxe.
Eu preciso, e mais do que precisar, eu mereço!
Vivendo uma vida vazia,
os objetivos que ansiava já nem quero mais,
mas mesmo assim não tenho paz.
Tenho até demais e mesmo assim não tenho paz.
Vivendo um marasmo psicológico que vem do centro do âmago,
amargo como limonada sem açúcar,
açucarando uma falta de propósito que
cada dia me cabe mais,
ocupando meu coração que já nem tem mais tanto espaço assim.
E sigo vivendo na esperança de que algo me faça querer tentar novamente.
O mundo todo é um grande mal entendido. As pessoas estão ficando doentes e não se entendem, elas não se ouvem, e com isso uma arena global esta se formando. Estamos no século dos mal entendimentos e poucos saírão vivos dele.
Em meio a um mar de sabedoria, encontrei-me navegando pelas águas de puro sofrimento, pois carregava a lucidez dos problemas em cada onda
Precisamos ter Cristo como Senhor da nossa vida, para que as decepções sejam apenas momentos de crise e não se tornem tragédias permanentes.