Cotidiano
Obras póstumas de alguém que está vivo, ao menos fisiologicamente:
Ao meu filho
É possível transformar qualquer coisa que vc ame muito fazer em uma fonte rentável. Essa e a única forma saudável de se obter um bom emprego. E é também a forma mais simples de ser bem sucedido nele.
Ao meu grande amor
Vamos combinar faltar a um compromisso acontece, mas faltar a uma existência? Francamente.
A mim mesmo
Você tem noção do quanto é inútil escrever um recado para você mesmo? PS. Vá trabalhar...
Ao mundo
A genialidade está escondida no cotidiano, recondicionar a sua forma de ver as coisas é o principal elemento para dar publicidade generalizada a este fenômeno.
Baldeação ou a ação de passar
Eis a multidão que sigo ou a multidão que me persegue. Caras, cotidiano indiferente com o outro ao lado. Uma PlayList furreca tocando. Me lembra o tempo do picadeiro, lona, cadeiras, e a vontade de de assistir o que a minha mãe nunca deixou. Mas nada disso é sobre minha mãe. Já falei várias vezes para o meu terapeuta. Subo as escadas, nádegas, várias, de todos os tipos. Algumas eu foco e várias desfoco. Passou um agora cheirando a merda. O que faz uma pessoa a sete da manhã sair de casa fedendo a merda. Cruzo com a multidão do sentido oposto, alguns correm, vários correm. Outros seguem a olhar as coisas no chão, ou nada vejo. Penso o que faz uma pessoa seguir andando olhando para o chão. Normal? Mas o que seria o normal? Para muitos eu não sou normal por ser Gay. E eu vejo que ser Hétero não é o ser normal, mas o padrão. De qualquer processo. O elemento base para a criatividade. E o metrô que não chega. A multidão cresce, parece que a cada segundo que passa as pessoas ficam mais ansiosas para o que vem. Um vagão vazio ou uma vida cheia.
Chegou. Conseguir sentar e a música riponga continua ao pé do ouvido, porque continuo e insisto com essas músicas para começar o dia. Terça, me leva um dia que é sequência, sabe relação saturada que não anda? Entendo de terça - feira. Ninguém quis mudar o mundo em uma terça. Cheguei. Ufa. Seguimos. Fui.
Não tenho afirmativas, descartei negativas, mas cismo com exclamações que, muitas vezes, me rendem interrogações, reticências de esperanças e pontos finais que doem décadas. Vivo assim: gramaticalmente eu, dentro de concordâncias absurdas e impostas pelos meus próprios limites.
Coisas que a gente não vê todo dia: mulher de cabelo azul, tatuagem de girafa colorida e allstar limpo.
Hoje eu prefiro: VALSA!
Há vantagens no transporte público. Ler um livro, ouvir histórias interessantes de desconhecidos que por alguns minutos pensam que você é um terapeuta ou um guru capaz de dar respostas prontas aos seus dilemas... e a mais valiosa na minha opinião: observar! Hoje, o que me comoveu foram os passos acelerados. A urgência em chegar! O som aos meus olhos era foxtrot mas a melodia do meu peito era bem outra. Hoje prefiro uma valsa. Minha única urgência é ser mais gentil com o meu próprio passo.
Mundo Mecânico
O mundo se mecanizou, trabalho, estudos, repetimos as mesmas atividades todos os dias, em meio a essa "robotização" falta tempo pra sermos nós mesmos. Quanto tempo faz que você não se pega pensando sem nenhuma preocupação? Apenas curtindo a vida, curtindo simples mas vitais sensações? Qual foi a última vez que pisou descalço na areia de uma praia? Qual foi a última vez que tomou um banho de chuva (não acidentalmente)? Ou sentiu o sol da manhã arder prazeirosamente a pele do seu rosto?
A busca incessante por uma vida melhor acaba nos fazendo ver a vida passar diante dos nossos olhos, espectadores de nossas próprias histórias, onde poderíamos ser os protagonistas.
Não conhecemos ninguém, somos robôs do lado das esposas, amigos, vizinhos e colegas de trabalho, nossa rotina nos permite ver apenas a ponta do iceberg, cada pessoa é praticamente um universo a ser explorado, fonte imensurável de amizade, amor e calor humano, o mundo precisa de mais contato....precisamos nos humanizar novamente....afinal o termo humano é muito mais que um termo meramente biológico.
Miojo
Pode mais que, em um tempo tardio,
onde flores já não podem mais
Regar as dores com um sorriso frio
e dormir vazio dentre os jornais?
Pode eu, não mais tão meu,
viver dos ardores pela tv impostos?
Comer da sede de quem sacia
a supremacia de cobrar impostos?
Fosse tarde não mais diferenciaria
o torpor da carne, suor da escarne
a pingar no mar que está a lavanderia.
E se da culpa não mais me entorpecer
é da saudável vida, âmbar mordida
que de fadiga, hei de cozer.
A tênue linha que separa a sanidade de seu avesso mental é apenas a capacidade de elaborar cada situação vivenciada cotidianamente
Na maior parte do tempo o ser humano consegue complicar tudo aquilo que poderia ser extremamente simples de lidar.
Aprecie enquanto é tempo
Senta aqui do meu lado,
Vamos ver o sol se por.
Aprecie enquanto é tempo,
Tudo que é bom e o amor.
Se eu te disser que vivo
É porque eu não ligo.
Quem não aproveita a vida
Não tá vivendo.
Não tenho bens materiais,
Mas que falta me faz?
Aonde vou sempre encontro alguém
Que me quer bem.
O mundo não tá perdido,
Ficar parado é o pior perigo.
Siga teu sonho irmão,
Não veja a vida na televisão.
Tudo está ao contrário e ninguém reparou
"Falamos de vida no espaço,
De viagem interestelar.
Mas não conseguimos gostar
De quem está aqui do nosso lado.
Se fala por aí que o mundo está chato.
E nas ruas não nos cumprimentamos,
Baixamos a cabeça quando passamos.
Não tem algo de errado?
Preferimos ficar ao celular,
Ao invés de curtir a família
Quando nos reunimos pro jantar.
E querendo o mundo melhorar,
Vamos fazendo tudo ao contrário
Triste onde vamos chegar..."
Geração desapego
"Devo estar sonhando,
Vejo pessoas felizes.
Mas parecem atores, atrizes.
Só posso estar delirando.
A máscara é de um sorriso aberto,
Mas os olhos não mentem
A solidão que sentem
Quando se chega mais perto.
Na tela demonstram alegria,
Querem ser vistos
De noite ou de dia.
Não conhecem o amor.
Pregam uma vida de liberdade.
Mesmo assim não se livram da dor."
Hoje procurei desenho em nuvens
"Hoje olhei pro céu,
Estava encoberto,
E não sei ao certo
O que me aconteceu.
Procurei desenho nas nuvens.
Lembrei da minha infância,
Brincadeiras de criança,
De muitas traquinagens.
A gente cresce, fica sério.
Nada mais tem graça.
Nos divertimos só pra fugir do tédio.
Faz bem pra alma mudar a sintonia.
No calendário da rotina,
Volte a ser criança por um dia."
►Logo Pela Manhã
Logo pela manhã, eu escuto as flores acordando
O vento se esgueirando, procurando aberturas
O Sol ainda está se alongando, se preparando para um novo dia
Eu falei das flores? Ah, são tão lindas
E as nuvens? Tão limpas, branquinhas, não vejo nenhuma cinza
Algumas das estrelas da noite ainda podem ser vistas,
Ainda há outras, maiores, a procura de suas filhas
Logo pela manhã, eu escuto o nascer de uma nova sinfonia
Ah que maravilha, quanta maestria.
E começa a caminhada do vento,
Que friamente passa acompanhado pelo tempo,
Que, ao abrir das janelas, nos provoca aquele arrepio
Não me lembrava que ele era tão frio
Sem falar dos bocejos contínuos,
Que nos fazem assumir a forma de leões, rugindo
Não esquecendo do bom dia aos vizinhos,
E também a orquestra de latidos matutinos,
Dando início a rotina canina.
Um café da manhã reforçado,
Para prevenir a fome em um dia agitado
Desejar um bom dia para quem estiver ao lado
E logo ao nascer do Sol, já queremos a vinda da noite
Mesmo acabando de acordar, nossos corpos não querem levantar
Talvez eles devem pensar,
"Calma aí, vamos ficar mais um pouquinho aqui"
Algumas vezes é até triste levantar, mas tempos que avançar
O tempo não nos concederá descanso.
Vamos então começar tomando o café
Usando o adoçante, ou uma colher para misturar o açúcar
E aquele vaporzinho que sai do copo?
Dá água na boca? Eu concordo
Há quem gosta de comer pão com manteiga,
Ou pão com queijo
Afinal, cada um tem o seu "menu perfeito".
Ah, olha lá o céu, vejam como ele está
Ele mal acordou, mas já está começando a clarear
Talvez as seis ele já esteja totalmente azul,
Acompanhado pela luz,
Tão belo, que me seduz.
E quando olho para o céu vejo borboletas, mas não vejo mais as estrelas,
Elas se foram, então vejo outras belezas
A natureza não dorme, ela me envolve
Sou apenas sua presa, disso tenho plena certeza,
E não possuo defesa que a detenha, não consigo resistir,
Então quando acordo, eu fico ali, na janela
Olhando bem reservado, do outro lado da rua, aqueles pássaros
Com plumas amarelas, cheias com o espírito da primavera
E as pessoas, atarefadas feito escravas, não notam essas paisagens belas
Mas talvez quando ficarem bem mais velhas,
Elas passem a apreciar, e perceber o que perderam.
Logo pela manhã, eu vejo os morros despertando
Logo pela manhã, eu sinto a vida me abraçando.