Costura
Rio Sanguinhedo
No janelo do moinho
a aranha costura uma teia
no amanho do jantar!
-- josecerejeirafontes
Eu prefiro ter uma pessoa em minha vida sendo um “saco”, porque posso costurá-lo, lavá-lo, tingi-lo e usá-lo para outras finalidades. Eu tenho que vigiar é o individuo “faca” que sempre está me ferindo com sua ponta e pode me apunhalar profundamente pelas minhas costas quando eu menos esperar.
A COSTURA DA TRAMA
a trama foi costurada com dor
e o tempo analgésico
tomado a cada segundo
até nada mais sentir
exceto amor
Encolhe de novo! E faz-me lembrar! Daquelas teias de linha de costura que invadiam toda a casa!
Onde eu me encontrava na loucura de ser mãe!
Saudades da época daquele silêncio!
Que anunciava a próxima traquinagem.
Mulheres são como borboletas,
com asas que a vida costura,
num voo silencioso e forte,
carregam o peso e a doçura.
De casulos de sonhos quebrados,
renascem com a luz do olhar,
pintam o céu com suas cores,
em cada gesto, a liberdade a pulsar.
Suas almas, jardim de esperanças,
florindo na força do vento,
não se prendem ao chão que pisam,
voam alto, livres no tempo.
Liberdade é seu destino,
no bater de asas, o sentir,
mulheres borboletas, infinitas,
sempre prontas a se expandir.
Costura…
Unir dois lados
Distintos ou semelhantes
Com a linha tênue da vida
Ou o fio perene da alma
Costura
Por vezes uma sutura
Pra conter as fissuras
Transformando os traumas
Em doce calma…
Costura
Remendos no peito
Antes que esfarrape
Antes que rasgue de vez e não mais ame
Mesmo dilacerado
Pouco a pouco cerzindo
Até que se veja uma colcha de retalhos
Retalhos feitos de reminiscências da vida
Amores, dores, perdas, fracasso e alegrias
Costura
Não antes sem o encaixe perfeito da linha na agulha
A cada ponto
A junção das partes ajusta o tecido
Alinhavo não serve …
Com o tempo esgarça
Tem de ser ponto cruzado
Para unir com solidez os lados
Costura
Sem pontas soltas
Tua vida na minha
De que serve a agulha sem linha?
Faz comigo o mais lindo traje
Com a seda mais pura
Arrematando com um laço de fita e ternura
Nosso encontro pra eternidade
Na entrega mais pura que conheço, desfiz cada costura de mim para entrelaçar-me a você. Quebrei o chão sob meus pés, cortei laços e apaguei rastros. Num gesto quase sagrado, arruinei o que fui, transformando a mim mesma num altar de ruínas em nome desse amor.
"Há silêncios que doem como ecos de orações não ditas, onde Deus costura força nas feridas invisíveis e faz florescer beleza nas lágrimas que a alma chora em segredo."
Da costura que ergue
esta poesia Montanka
sou o fio da consciência
que dialoga com paciência
com os seis continentes,
e por rebeldia virou poema.
Em plena Era narcísica
onde se maquia a índole
maligna com falsas
notícias para glamourizar
causas devastadoras,
e naufragar em falsas
promessas e incertezas.
Do tecido e de outros fios,
eis-me o bastidor
e chamamento em nome
do que deve ser dito:
(Imperialismo não se
combate com Imperialismo).
Imperialismo só se combate
com a base do povo unido,
e não existe aplauso duradouro
que ampare pela eternidade
com a fortaleza da tranquilidade
de uma cabeça que busca
a senda do que traz tranquilidade.
Você que se comporta
como fizesse parte
de qualquer decisão
obstruindo a real informação,
Saiba que você nunca obterá
a desejável ascensão:
(Por migalhas e aplausos
você está se esquecendo
que neste tabuleiro qualquer
um sempre será um simples peão).
Olhar para o passado
e repetir o velho hábito
contra quem nunca foi
ofensivo te coloca
apenas como mais um
covarde neste mundo
que cada um deveria
perceber a sua própria
responsabilidade para que
guerras nunca mais se repitam.
E o tempo passava devagar, as nossas mães arrumavam as nossas roupas na máquina de costura que tinha em casa, a gente comia aquele doce de banana com colherzinha de madeira, e o futuro parecia distante como algo que não se pode alcançar, porquê a gente simplesmente vivia o presente.
Preciso reaprender...
Um dia após o outro!
Prefiro uma costura, até mesmo um reparo com algumas pequenas irregularidades feito por um humano a uma costura e um reparo perfeito e impecável feito por uma máquina. Porque afinal de contas temos que nos relacionar uns com os outros e não com as maquinarias projetadas para não falharem.
Muitos de nós esquecemos que somos seres suscetíveis a erros e acertos. Somos sábios e inteligentes, mas ao mesmo tempo habitamos um corpo e uma alma frágeis e corruptíveis.
Que saibamos comungar e tolerar uns aos outros em amor. E o amor engloba paciência, tolerância, respeito mútuo, gentileza e compreensão. Neste mundo ninguém é 100 por cento perfeito. Estamos longe de sermos irrepreensíveis e donos da razão. Portanto sempre é bom que sejamos espirituosos e amáveis uns com os outros.
Minha aula de balé
Meu cinema, minha cura
Às sete pego no pé
Às oito corte e costura
Há que se chegar a tempo
Senão dança a contra-dança
À noite aula de canto
Nunca sobra pra esperança
Às sete não conte
Às oito não conte
Às nove não conte comigo
Treze eu tenho azar
Treze eu tenho azar
E almoço executivo
Cinco horas chá das cinco
Sentado mas sem sentido
Onze horas jaçanã
Embarquei num trem já partido
Porque é assim, sentado sozinho na costura entre dia e noite: os sonhos ainda são mais fortes do que arrependimentos, o desejo supera a inibição, até que o sol nasça para nos envergonhar e levar nossos desejos de volta às tocas.
Encrespado Aureolo
Bloco de vida coisa que é dura.
Costura de agulha sem ter saída.
Nó de tristeza, embelezas a natureza,
Agarras-te aos vãos das manhãs,
Pois tecidos te envolvem a beleza.
És o ar rarefeito no meu peito,
Sabor a café e saliva que rejeito.
Musa toda assim delicado deleito,
És quem os meu olhos saboreiam,
Pele quente que ferve como efeito.
De leve suspeitas da mocidade,
Sinto encrespado aureolo que sabe,
Ao toque do lábio seco de inverdade.
A tensão sobe para mil sem fim
E eu no teu ventre afundo de mim.
Minha morte lenta meu medo cerrado,
Onde me enrolo, me excedo, me advenho.
Meu respirar venta no teu corpo molhado
E a cadência do teu coração tenta,
Percutir o auscultar do teu afago.
Que é ser só breve este momento,
Não pequei ao tragar-te o rebento.
Em ti eu sou a ternura do castigo,
O som que salivo e estremece por dentro,
O intimo ardor que partilho contigo.
Tragarei de ti inacabados amanheceres,
Tal como a agulha costura os doces plangentes,
Que a tua natureza pura de incastos prazeres,
Debita em mim dos teus segredos vigentes,
Que curo com a dura doçura de a mim tu te cederes.
Sou escritora e modelista. Se o mundo da escrita não der certo para mim, o mundo da costura e da moda me espera de braços abertos.