Contraste
Tem poesia na moça da cidade e na moça da favela
Num clássico de Beethoven e num samba da Portela
No sangue que corre pelas veias dos valentes generais
E no sangue que escorre das tão cheias notícias de jornais
Tem poesia em uma criança que nasce e em seu comemorativo porre
Em uma pessoa que esvai-se e lentamente morre
No operário que luta pelo seu pão
No pobre salafrário que acaba na prisão
Nas águas que inundam o sul e se esquecem do sertão
Nos batuques, nas cachaças que rolam pelos botequins
Nos preconceitos sem graça dos cabelos pixains
É poeta quem aprecia e solta
Não fica mudo
Quem vê a poesia
Em todos e em tudo
Olhe aonde a polícia bate e mata mais se é em um bairro nobre ou em uma favela...
Olhe aonde está a pobreza e a riqueza...
Olhe aonde predomina a raça Branca e a raça Negra...
Olhe aonde as pessoas estudam mais...
Olhe aonde vivem melhor...
Olhem pra tudo que esta na nossa volta...
Pense e tire as suas conclusões porque as minhas eu já tirei...
Não sou feito de aço,
nem de pedra erguida contra o vento.
Sou o que passa em silêncio,
o que cresce nas sombras,
longe dos olhos que só veem
o músculo tenso, a muralha imponente.
Mas o que é a força, afinal?
Será o grito que se impõe
ou o sussurro que resiste,
a raiz que, sem alarde,
se infiltra nas fendas do chão duro
e ali permanece, paciente,
até que a pedra ceda?
Desprezam-me,
os que se acham donos do mundo,
os que medem o valor
pelo peso que carregam nos ombros.
Mas o que carregam, realmente,
senão o vazio de não entender
que a força também é delicadeza,
que o músculo pode ser frágil
diante do silêncio que dura?
Não sou deles,
nem preciso sê-lo.
A verdadeira força não grita.
Ela cresce,
como a erva que ninguém vê,
até o vento mudar,
e a muralha cair.
Hiperbólicos ou eufemísticos, a vida é fruto de contrastes da união de tudo isso, que nos faz crescer e amadurecer, pois temos que viver e conviver com tudo isso!
Ao contrário da moto, que pode ser letal, o mato não nos mata, mas oferece um refúgio seguro. A sonoridade e o contraste das palavras ressaltam quão acolhedor um ambiente pode ser.
Nem sempre conseguimos definir o que se passa
em nossa alma, que pode ficar intranquila por razões
que a própria razão desconhece...
Talvez por certos acontecimentos que tiram a paz de espírito
de qualquer criatura...
Quem nunca passou por fases assim?
UM CONTRASTE DE SENTIMENTOS
Marcial Salaverry
Por vezes, um contraste de sentimentos
nos abala a alma,
tira a nossa calma...
Será amor no coração,
ou dor provocando escuridão?
Um contraste de sentimentos...
Talvez, causando alguns lamentos...
A escuridão revela problemas que atormentam a alma...
tirando a tranquilidade, tirando a calma...
São dramas, circunstâncias da vida,
que nem sempre tem a atenção devida...
Causam tormento?
Trazem lamento?
Mas passam, como passa a tempestade,
dando lugar à calmaria, à felicidade,
como a escuridão cede espaço para a luz,
que para a vida novamente conduz...
As chispas de luz que surpreendem,
mesmo que ofuscando a visão,
mas dando vida ao coração,
é o amor que surgiu de inopino,
cumprindo o ciclo do Destino,
iluminando a vida com uma boa sensação,
minimizando os efeitos da escuridão,
ajudando e trazendo uma linda emoção,
dando forças para superar traumas e problemas,
eliminando todos os dilemas...
Dessa surpresa, vem a paz
que seu coração buscava sem encontrar,
entregue-se a essa luz,
que é a vontade de amar...
Sou uma religiosa
Sem religião
Sou uma ateia
Cercada de deuses
Sou uma peregrina
Parada no tempo
Sou uma profana
Que embeleza o templo
Sou o riso puro
Na sordidez desmedida
Sou a palavra dada
No silêncio da noite
Sou a ternura plena
Na entranha do vil
Sou a estranha imagem
Do meu próprio desvario
Contrastópolis (poesia)
A cidade que me adoece e cura.
Que me machuca e afaga.
Me afugenta e acolhe.
Me odeia e ama.
Me corrompe e educa.
Me toma e dá.
Me endurece e sensibiliza.
Me rouba e enriquece.
Me desumaniza e empodera.
Me amaldiçoa e bendiz.
Sem ressentimentos.
São Paulo é o Templo Divino dos Contrastes e entre seus altares quero morrer e viver.
Não te prendes a atenção, a mentira que se tornou verdade,
Silêncios absolutos que deram ao som contos de sua realidade?
Caos em perfeita desordem, que te trouxe essa paz turbulenta,
Ou o equilíbrio que tanto buscava, que, por tão forte segurar, hoje te desalenta?
O contraste engraçado de que tudo tem um lado desagradável.
Não te encantas tudo isso que te deixa vulnerável, ser o que te faz de tão amável?
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