Consigo
Você não precisa morrer feliz quando seu dia chegar, mas deve morrer em paz consigo mesmo, achando, ou melhor, sabendo que viveu sua vida do início ao fim e que a vontade do Ka foi servida.
O que você é te controla, e ecoa tão alto, que eu não consigo ouvir o que você diz ao contrário.
Depressa: o tempo foge e arrasta-nos consigo: o momento em que falo já está longe de mim.
Autoridade: sem ela o homem não pode existir e, no entanto, ela traz consigo tanto o erro como a verdade.
É tão indulgente o homem para consigo mesmo, que nunca julga ter-se aproveitado bastante da liberdade de se portar mal.
Quem quer a guerra está em guerra consigo.
Então!
Disfarçar minha dor
Eu não consigo dizer:
Somos sempre bons amigos
É muita mentira para mim...
Primeiro passo para a paz: reconciliar-se consigo próprio. É o que a gente pode fazer de mais concreto, por mais abstrato que pareça.
Agora que tudo perdeu a magia, se magia houve, e havia, eu não consigo mais ver nenhum anjo em você.
Não tenho facilidade de escrever. Jamais consigo expressar-me como teria desejado. Escrever é uma múltipla escolha entre mil expressões das quais nenhuma me satisfaz, ou melhor, nenhuma me satisfaz isoladamente
Não consigo me acostumar a ti, meu companheiro de caminhada que levo em meu pulso. Tua verdade é brutal. Cospes os segundos como balas de uma metralhadora. E teu arsenal é suficiente para te servir, leviano Nada.
Teus números são os números de mortos. Teu pulsar é frio como a foice.
Não consigo deixar de pensar nos tempos em quartos solitários, quando as únicas pessoas que batiam à minha porta eram as senhorias cobrando o aluguel atrasado ou o FBI. Vivia com ratos e camundongos e vinho, meu sangue escorria pelas paredes em um mundo que não conseguia compreender e ainda não compreendo. Em vez de levar a vida que eles levavam, eu passava fome. Fugia para dentro de minha própria mente e me escondia. Fechava todas as cortinas e ficava olhando para o teto. Quando saía, era para ir a um bar onde eu mendigava por bebida, andava a esmo, apanhava nos becos de homens bem alimentados e confiantes, de homens idiotas e com vidas confortáveis. Bem, ganhei algumas lutas, mas só porque era louco. Fiquei anos sem mulher, vivia de manteiga de amendoim e pão amanhecido e batatas cozidas. Eu era o idiota, o estúpido, o louco. Queria escrever, mas a máquina de escrever estava sempre penhorada. Então eu desistia e bebia...