Concreto
Matéria palpável incorpora-se à vida com toda praticidade
Sonho concreto e realista, conservador e sempre puro
Praticante da realização das idéias, a gerar estabilidade
Pragmático, fixa e mantém a terra firme e o porto, seguro.
Sei que apenas vi construções de concreto e luzes inventadas pelo homem, mas o simples fato de ter o céu acima de mim e sentir a brisa tocar meu rosto me faria ficar a noite toda ali!
Fé é trocar segurança num poder "concreto" deste mundo pela confiança, mesmo às vezes insegura, em um poder "abstrato" de um mundo invisível.
Minucioso, quiçá, precioso - o silêncio: quando bem executado sucedera um concreto comando sinfônico de corais.
Mimética
Sou da mata, não me acerto na cidade.
Defendo-me do cativeiro de concreto,
Num desejo violento de liberdade.
Desamarroto as asas do pensamento,
Extrapolo pés automotivos, passivos,
Sedentos... Olhos de onça pintada, radar de morcego,
Patas de guará correm no cimento.
Naturalmente anti-cibernética, instintiva, apelativa,
Permissiva... Sou bicho-palha, macaco-prego,
Saci de duas pernas, Caipora, trilha refrescante.
Toda mata vive no meu corpo, plagas verdejantes.
Em mim vivem formas selvagens,
Sonhos que devoram ansiedade, viragens:
Bosque de mil segredos e folhagens.
Minh’alma ponteia verde estandarte.
Disfarçada na anacrônica Campinas fumegante,
Sou anti-vigas de aço, primitivamente blindada.
Naco de floresta oculta por pele esbranquiçada.
Mimética, simbiótica, defendo-me da morte.
Mas se um talho, um corte...
Verão que é seiva meu suporte.
As paredes são como nossa mente, as vezes colocamos muito concreto e deixamos de sentir o que realmente importa e de ouvir o coração.
Escudos
Apesar desse concreto que te protege de mim..
Te sinto linda, doce e frágil…
Continuo a te buscar…
Ainda derrubo estes teus escudos…
Difícil ter algo mais concreto do que um bloco de concreto e nada tão abstrato quanto um bloco de abstrato.
CONCRETO/ABSTRATO
Eis aqui minha solidão
que desorganizadamente teima em existir.
Eis aqui minha guerra
que caleidoscopicamente procura ideal.
Eis aqui minha lucidez
que meramente quer ser visível.
Eis aqui meu amor
que inutilmente permanece acordado.
Eis aqui o imprestável
que interessa a muitos.
Eis aqui a limitação
do que é possível.
Eis-me aqui desarticulado - ironicamente vivo:
o poeta que não sabe amar inventando uma realidade.
Suponho me entender
desentendendo-me
s u b i t a m e n t e ! . . .