Conceição Evaristo

Cerca de 31 frases e pensamentos: Conceição Evaristo
Maria da Conceição Evaristo de Brito (29 de novembro de 1946) é uma escritora brasileira, autora de poemas, contos e romances. Militante e ativista do movimento negro, a sua obra reflete sobre o panorama social, sobretudo as discriminações raciais, de classe e de gênero. Algumas de suas obras de maior destaque são "Ponciá Vicêncio" (2003), "Becos da memória" (2006) e "Olhos d'água" (2014).

Gosto de escrever palavras inteiras, cortadas, compostas, frases, não frases. Gosto de ver as palavras plenas de sentido ou carregadas de vazio dependuradas no varal da linha. Palavras caídas, apanhadas, surgidas, inventadas na corda bamba da vida.

Conceição Evaristo
Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.

Eu sei que não morrer, nem sempre é viver.

Conceição Evaristo
Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.

⁠Fêmea – fênix

Navego-me eu–mulher e não temo,
sei da falsa maciez das águas
e quando o receio
me busca, não temo o medo,
sei que posso me deslizar
nas pedras e me sair ilesa,
com o corpo marcado pelo olor
da lama.

Abraso-me eu-mulher e não temo,
sei do inebriante calor da queima
e, quando o temor
me visita, não temo o receio,
sei que posso me lançar ao fogo
e da fogueira me sair inunda,
com o corpo ameigado pelo odor
da chama.

Deserto-me eu-mulher e não temo,
sei do cativante vazio da miragem,
e quando o pavor
em mim aloja, não temo o medo,
sei que posso me fundir ao só,
e em solo ressurgir inteira
com o corpo banhado pelo suor
da faina.

Vivifico-me eu-mulher e teimo,
na vital carícia de meu cio,
na cálida coragem de meu corpo,
no infindo laço da vida,
que jaz em mim
e renasce flor fecunda.
Vivifico-me eu-mulher.
Fêmea. Fênix. Eu fecundo.

Conceição Evaristo
Poemas da recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2017.
Inserida por pensador

A vida era um tempo misturado do antes-agora-depois-e-do-depois-ainda. A vida era a mistura de todos e de tudo. Dos que foram, dos que estavam sendo e dos que viriam a ser.

Conceição Evaristo
Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.
Inserida por pensador

Enquanto o sofrimento estivesse vivo na memória de todos, quem sabe não procurariam, nem que fosse pela força do desejo, a criação de um novo destino.

Conceição Evaristo
Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.
Inserida por pensador

Relembrava a vida passada, pensava no presente, mas não sonhava e nem inventava nada para o futuro.

Conceição Evaristo
Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.
Inserida por pensador

O amor pedia o direito de amar, somente.

Conceição Evaristo
Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
Inserida por pensador

Às vezes a morte é leve como a poeira. E a vida se confunde com um pó branco qualquer. Às vezes é uma fumaça adocicada enchendo o pulmão da gente.

Conceição Evaristo
Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
Inserida por pensador

As palavras, às vezes, feriam segredos e escorregavam pela ladeira abaixo parando lá na delegacia.

Conceição Evaristo
Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
Inserida por pensador

Escrever funciona para mim como uma febre incontrolável, que arde, arde, arde…

Conceição Evaristo
Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
Inserida por pensador

⁠Quando eu morder a palavra, por favor, não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo, para assim versejar o âmago das coisas.

Conceição Evaristo
Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.

Nota: Trecho do poema Da calma e do silêncio.

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Inserida por lubaffa