Comunicação
Quando uma língua morre, uma maneira de entender o mundo morre com ela, uma maneira de olhar para o mundo.
Escutar é o mais perigoso, é saber, é ser inteirado e estar a par, os ouvidos não têm pálpebras que se possam fechar instintivamente ao que é dito, não se podem resguardar do que se pressente que se vai escutar, sempre é tarde demais.
Quando o Homem falou sua primeira palavra, ele se tornou o fio que treme eternamente entre o mal e o bem, o Céu e o Inferno.
Ele queria pensar em palavras que fariam alguma diferença, mas não havia nenhuma língua que ele soubesse que fosse suficiente para o momento ou que mudasse uma única coisa.
Palavra brincante
A palavra dança ao som da escuta do viajante à espera de sinais. Movimentos mostram buscas e um possível encontro. É na tinta esfumaçada de um papel rascunhado que a palavra cai, florida, finalizando seu último rodopio do esconde-esconde.
Palavras quanto nada ou tudo
A magia da linguagem à distância é perceber a distância entre a intenção e as palavras usadas numa fala. As palavras caminham, caminham, caminham e, de repente, surge um dado que não faz relação com as palavras, mas com a intenção num curvo-turvo caminho...
Se as pessoas discordam, geralmente é resultado de diferentes pontos de vista decorrentes de diferentes crenças fundamentais, não de que uma esteja certa e a outra errada.
Ficar sem WhatsApp é praticamente redescobrir a avenida que passamos todos os dias, é dar bom dia olhando pro rosto da sua mãe, dos seus irmãos e dos que caminham a passos largos na mesma ou em outras direções, é menos grupo, menos contato porem muito mais aproximação, é sair da casinha tecnológica e finalmente olhar pra fora. Hoje olhei pras pessoas caminhando com seus olhares firmes mirando o horizonte. Não mais olhavam para baixo como zumbis cabisbaixos focados nos seus mundinhos de ilusões, hoje acordei sem pegar o telefone pra descobrir novas mensagens, hoje acenei pra quem andava na rua, olhei o céu, reparei até no chão, hoje havia cheiro de livro entorpecendo quem passasse pelas praças da cidade. Havia jogos de dama, tabuleiros por toda parte, um grupo ao longe davam um rolê de bike, outras já gargalhavam da tal "desgraça" - Fim dos tempos, esbravejavam. 48 horas de vida tal qual foi na distante infância.
Hoje quem sentir minha falta irá me ligar só pra ouvir minha voz, outros chegarão após dois dias reclamando da falta de comunicação, impedidos como se de mãos atadas pela puta sacanagem das operadoras de telecomunicação.
Hoje eu acordei reparando muito coisa. Serão 48 horas de reflexão.
Tamires Carvalho
A ironia é oxigênio, né? É o olhar de quem entende que tudo é um grande engodo, que a vida é um circo e que não existe dentro e fora da lona. Tudo é lona e estamos todos dentro dela. A ironia é uma reação inevitável em um mundo que navega sobre a espuma sem nunca mergulhar. Um mundo que se abstém do abismo. Toda arte verdadeira está impregnada de uma farta dose de ironia. E principalmente de um mergulho profundo no tal abismo. O resto é perfumaria.
Você jamais conhecerá alguém apenas por vê-la, para tal, deverá ser ela. Como isso é impossível, jamais a conhecerá. Você precisa ser uma ilha para reconhecer outra ilha; portanto, nada podemos compreender sobre algo enquanto for "aquilo". Desta forma, tudo o que em mim qualifico como verdade, é mentira em qualquer outro lugar e vice-versa.
E se passássemos menos tempo gritando no vazio e sendo inundados com gritos de volta - e mais tempo conversando em salas com aqueles a quem nossas palavras se destinam?
Vivemos em uma sociedade em que a mídia, que nós mesmos alimentamos, demostra o quanto não somos sociais. Retrocessos.
Tudo o que podemos fazer é colocar uma palavra nas mãos daqueles que colocaram uma palavra na nossa.