Colegas de Escola
Quando o tempo não tinha mais tempo, quando a esperança já estava sepultada, quando minha mente estava há muito deteriorada, quando eu não mais precisava, vocês roubaram palavras da parte de suas línguas que se salvava, a parte em que nunca antes haviam tocado, roubaram palavras e as despejaram frente aos meus olhos, esperando que me ajoelhasse em sinal de gratidão. Mas vocês nunca estiveram lá por mim, nunca quiseram me ouvir dizer que pra mim bastava.
Era quando meu corpo entrava em colapso e meus olhos se afogavam, quando meus pulmões se tornavam pequenos demais, quando meu coração ultrapassava a velocidade de um guepardo, era nestas catástrofes internas que eu ainda podia ver a luz. Mas a vocês só interessava o riso advindo do choro, a piada pontual a não ser perdida; comentários em série encontraram ali sua chance de glória, e bastou, em desespero, expor minha carne ao mundo que o coro ao redor se colocou a gargalhar e reduzir à própria miséria a garota da pele rachada.
Lembranças se esparramaram em minhas veias e minha mente foi transportada aos sofridos dias de um ano passado e com toda a proteção armada, com todo o peito fechado eu digo, digo que doeu.
Nada se fez, nada se faz. A saúde de um aluno só interessa aos bolsos cheios ao final do mês. De nada adiantou tentar se importar com toda aquela história de hospital, a ligação só chegou quando eu já saia de lá.
É apenas o mundo cão a mostrar que até para sofrer é imprescindível chorar. Suas palavras quando ditas não valiam nada; naquele momento eu já não mais precisava escutá-las, pois elas somente eram necessárias quando suas salivas eram desperdiçadas dizendo que era Gillete quem me patrocinava.