Coleção pessoal de zizabrooks

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A minha história?
Bem, pra começar ela acabou.
Pra terminar eu prefiro não falar.
Eu fiz a ligação que eu tive que fazer
Eu disse adeus para quem tinha que dizer
Eu senti todas as coisas que me permitiram sentir
E mais, eu fui além de todos os limites de felicidade,
de todo bem ou mal
Eu criei qualquer coisa mais que sagrada
Eu esperei por todos os anos que me foi possível esperar
E eu cruzei a linha que jurei nunca cruzar
Eu falhei e eu voltei
Mas você já tinha partido
E você já tinha encontrado
todas as coisas que encontraríamos juntos
Eu fui até o outro lado,
e eu voltei para o mesmo espetáculo
com outros olhos
E foi quando eu percebi a troca
Eu vendi minha alma ao diabo
E recebi todas as piores coisas
Eu nunca soube sobre essa coisa de barganha
Eu perdi
Eu me afundei e levei o mundo comigo
E eu levei todos comigo
E tudo comigo
E eu abri mão de todos os prazeres
Por uma dor amiga
Por uma mão fria e imaginária
Pelo direito de poder lembrar
Hoje
e Sempre.

Pois lhes digo que toda minha vida foi um lapso de amor próprio. A minha procura era pela perfeita harmonia comigo mesma. Quando passava dias eufóricos rodeado de outras pessoas, rindo com elas e deixando que elas vivenciassem qualquer coisa comigo, era apenas para fazer com que ressurgisse a novidade em estar só, afinal, nenhum homem é uma ilha, mas eu bem que poderia ter sido.

Eu nem sei por onde começar.
Parece que a cada início eu teimo em acabar.
E quando digo acabar não falo de algo,
falo de mim,
como se um projeto eu fosse
sinto-me acabando
e
concluindo
sem nunca desejar
acabar-me
ou
concluir-me,
desejo ser um eterno projeto em construção,
mas isso é ser inconcluso,
incompleto,
e eu não consigo gostar de ser incompleta.
Que fazer?
Pergunto a qualquer vento.
Não há resposta.

Ah! Se vocação pra santa tivesse, entrava pra escola católica e estudava a teologia que tanto amei nos tempos de criança. Juraria amor eterno e fidelidade ao nosso senhor. Fechava as pernas e olharia doce para os rapazes da cidade. Pensando nisso não contenho o desejo de ter nos olhos a tal doçura, pra que qualquer canalha me queira arrancar a divindade, me abrir as pernas, me erguer as saias, me tomar no altar - vestida de branco?
Não, de santa.
Ora, se casta devo ser, que seja em outra vida, que essa tirei férias do bom comportamento, tapei os ouvidos pra hipocrisia dos amigos, de papai, da cidade, de deus. Nessa vida me deixa aqui, se te incomoda olha pro outro lado porque vou expôr o que não queres ver. Ou queres?
Tanta blasfêmia nunca achou tanto conforto em outra mente. E há quem diga que não existe sujeira maior do que a que se esconde em mim, mas meu coração mantenho puro, juro. Nunca será banalizado, mas meu corpo? Bem, de meu corpo será feito o que vier à flor da pele como vontade de ser feito, que um desses dias, virará alimento para os vermes, pois que seja impuro, mas doce.

Não chamemos a minha conclusão de culpa. Não tentemos achar o ponto de partida do estrago que sou. Que rudez, chamar algo como eu de estragado. Digamos que eu gosto do que gosto, pois acho bom o que é bom. E que ainda acho muito, e muito pouco o que sou. Queria eu ter a fúria de todos os deuses pra gritar o grito dos gritos e ser ouvida de polo à polo com verdades que são só minhas e de mais ninguém. Pois não há neste vasto mundo, quem possa achar certas as ideias que de mim saem. E eu, enquanto tomo café da manhã às duas da tarde pareço muito com alguém que pensa no pão que morde, mas só consigo focar no dia de minha morte e no que dirá o espelho quando tiver de encará-lo. Pois é, acho que se houver um juízo final ele será um espelho, um espelho nos jogando na cara todas as coisas que não fizemos, seremos julgados e considerados, todos, culpados, pelas coisas que contivemos. Enquanto a tua religião te diz "Pare", a minha me diz "Se parares estarás, em verdade, avançando todos os sinais contrários." Então eu sigo em frente, afinal, que é do homem sem sua religião? Que seria de mim sem essa voz que me incita a cometer todos os reprováveis atos que o mundo me oferece? Que seria do mundo, sem um pouco da minha religião, tão deliciosamente avessa?

Hoje olhei no espelho e vi a face de uma pessoa inteira. Justo hoje, que disse adeus a uma parte grande e até importante da minha vida. Vi de novo nos meus próprios olhos uma coisa que achei que tivesse perdido, uma felicidade nata, uma alegria gratuita, um foco em qualquer coisa, mas não tem nada focalizado por aqui. Finalmente minha bagunça se tornou organizável, finalmente, depois de todos esses anos, aquele vento fez sentido. Hoje eu olhei no espelho e não desviei os olhos de meus próprios, hoje eu olhei bem fundo nos meus olhos e lá de dentro pesquei qualquer coisa bonita e leve, hoje renasci mais uma vez, e no amanhã já não vejo tantas nuvens, tantas dores, tantas complicações.
Hoje eu agradeci com um sorriso, agradecimentos gratuitos a quem ou o que quiser receber um "obrigada", inclusive a mim mesma.
Hoje não digo "adeus", tampouco "olá". Hoje só digo: "te cuida, a gente se vê".

Eu só desejo não esquecer o que realmente sou, porque todas as ambições parecem a mim superficiais e descartáveis. Eu quero a liberdade de ser simples, a liberdade de uma extravagância diferente, o excesso de bagagem, de teor alcoólico, de nicotina, de amigos e de risadas. Eu desejo andar o mundo inteiro, mas nunca possuí-lo. Eu quero fazer parte, não dominar um todo. Eu quero uma vida inteira, uma vida de verdade. Viva eu setenta anos mais ou dois, que valha a pena, eu não consigo conceber uma vida desperdiçada, eu não consigo conceber a mim mesma sendo supérflua, eu só consigo conceber a vida, receber a vida, eu quero sugá-la, respirar todo o ar possível, enxergar tudo o que for visível e ouvir tudo o que tiver qualquer valor. Eu quero poder descansar em paz um dia, e para isso sei que é necessário viver, realmente viver, com todos os elementos que compõem um viver. Sei também que é impossível viver todas as coisas, e portanto, jamais descansarei realmente, mas eu vou dar o meu melhor.
Essa é a minha essência, e essa é a melhor parte de mim. Só desejo não perdê-la.

Eu precisei estar só para poder focar em mim. Desde que o último furacão passou pela casa me deixando com escombros, eu soube que esse dia chegaria. É como se fosse impossível para mim me reconstruir sem a reclusão.
Talvez por isso sempre tenha dado certo comigo as relações distantes, o dia-a-dia com alguém nunca me foi uma ajuda, as pessoas se aproximavam e me faziam companhia sempre que tinham uma oportunidade julgando minha solidão um fardo, mas era o contrário, era uma escolha.
Agora eu - verdadeiramente - caminho. Porque finalmente estou livre para caminhar.

Uma voz me diz
Adeus
E outra voz me diz
Por favor, fica
E enquanto tudo se vai e se fica
Eu não sei quem sou ou se sou
Eu não sei se vejo ou se é tudo uma ilusão da minha cabecinha
Louca, estranha e feia

"De todo o amor que eu tenho"
Metade dele é por mim
E a outra metade é do mundo
Mas não há metade no amor
Nem distinção entre eu e o mundo
Há apenas um todo
Um todo que amo
E não sei se amo
Ou se é amor
Ou o que é amor
Sei que vivo
Sei que saio de casa às vezes
E vejo o mundo do lado de fora
Que é dentro
Que é tudo

Sei que de tudo ficou uma saudade
E essa saudade eu abafei com um sorriso
Um sorriso amarelado pelos cigarros que consumo

A minha insônia tem tantos nomes
Que se soubesse ditá-los não teria eu insônia
O meu medo é de fantasmas
Mas eu sequer acredito neles
Talvez meu pavor seja descobrir, que no fim
Não existo eu
Talvez ocupe eu um lugar que não me pertence
Em um mundo que idealizei dentro da minha cabecinha
Louca, estranha e feia
Talvez Deus seja o sol, afinal.
Então eu o olho para que saiba que o vejo como ele me vê
Talvez Deus seja mesmo um delírio
Mas quem diz que também não sou?
Ora, se sou solitária como o Deus que não acredito
Talvez devesse eu amá-lo, apesar de tudo.

Eu pude perdoar a todos
Meus pais, meus irmãos, meus avós
Meus amigos, meus vizinhos, meus inimigos
Mas nunca tive eu inimigos
Tampouco o perdão de qualquer um
Lembro até hoje do dia que fui crucificada
Não em minha pele
Nem julgada com meu próprio nome
Mas fui queimada em tantas fogueiras
E olhada de tantas maneiras cruéis
Justo eu, que nada fiz se não dar ao mundo o que fui
Mas ninguém entendeu
Ninguém aceitou
E ninguém perdoou
Mas eu os perdoo
E eu me perdoo por eles.

Você que me disse adeus
Respondo, se puder,
Adeus.
E você que me disse, por favor, fica.
Bem,
Eu fico.

O que eu quero é que anoiteça e a gente dê boa noite para todos. Que a gente vá se afastando de casa bem lentamente que é pra respirar bem calmamente o ar já umedecido. E que a gente faça silêncio em algum momento, pra já de longe ouvir o barulho que vem do mar. A cada sete passos quero te parar e te beijar a boca, às vezes devagar, às vezes violentamente, e te virar as costas como se nada tivesse acontecido, como se eu tivesse parado o tempo e te beijado sem que você notasse.
Então eu quero entrar na rua que tem ao fundo o horizonte infindo que guarda o nosso mar. E nesse momento eu espero poder segurar tua mão gélida e úmida, pra que a gente possa dizer boa noite pra'quela cena de cinema juntos.
Eu quero sentar do teu lado e talvez deitar no teu ombro. Eu quero abraçar meus joelhos e quero que você veja como eu sou bonita mesmo quando não pareço tão segura quanto no dia em que me conheceu, quando você perceber que eu sou mais um ser humano nesse mundo cheio deles. E eu espero que você não fuja quando me olhar e eu estiver sorrindo sem motivo aparente, porque eu gostaria de não ser deixada só nessa noite de brisa calma, a não ser que você tenha desaprendido a fazer silêncio gostoso, então eu vou preferir que você se vá. Você sabe como eu prezo quem sabe fazer silêncio.

Pois eu digo que ninguém, ninguém, merece a minha liberdade. E eu não abrirei mão de nada que for meu. Eu vou ser incrivelmente insana se assim me ocorrer a vida. E eu vou chegar aos lugares e dizer apenas o que gostaria de dizer, sem nunca, e repito, NUNCA, permitir que as gélidas e tristes almas me tirem do transe da loucura que me guia, me envolve e me ensina todas as coisas que os homens de bem jamais conseguiram me ensinar. E a vida segue me ajudando a cultivar todas as coisas que tentaram me tirar desde o berço, que mamãe desde sempre me falou que era errado, que era feio, que as pessoas olhariam para mim diferente. E hoje eu sei, ela estava muito certa. Mas mamãe e papai falharam em me ensinar a ser preocupada com essas coisas. Eu aprendi sem eles a ver a beleza do feio e o certo no errado, e a quando alguém me olhar com vergonha eu fazer eles verem em mim um espelho, um espelho refletindo seus podres e sujos espíritos decadentes e fedorentos. E as pessoas fogem de mim e se escondem quando eu passo na rua, porque elas temem, elas temem pois eu sou a verdade, eu sou a imagem da mais pura, verdadeira e bela essência humana, e saber que algo tão impuro como eu, pode na verdade ser tão divino, assusta-os como o próprio diabo. E eu rio, e à noite minha risada soa maléfica e ecoa em seus quartos, como se um anjo caído eu fosse, e agora sussurrasse em seus ouvidos para que façam todas as coisas do mundo, pois tudo é verdadeiro e puro. Tudo é santificado pois nascemos, e pecamos, e isso é o que somos. E eu os perdoo, então não devem temer. Eu estarei aqui quando o mundo lhes virar as costas, mas com a filosofia do diabo, os abraçarei enquanto rio de suas desgraçadas faces, mas sempre presente, pois somos senhores de um mesmo pecado.

Não é mais medo da morte,
Tampouco ânsia de vida
Não é infidelidade
Também não ligo pros erros dos outros.

Eu sei o que todos pensam
Que penso no quanto errei
E no tanto de coisas do mundo
Que deixei pra trás sem pensar

A verdade é um pouco mais estranha
Complexa, embora pequena.
Penso no tanto que penso
E se penso o que deveria pensar.

O tictac do relógio se cala
E sem cessar eu o busco ao lado
O escuro é escuro demais
E o claro me fere os olhos

Tem alguém do meu lado coberto da cabeça aos pés
Eu não o conheço bem
Mas sei seu nome e lembro de seu rosto
Quase que perfeitamente

Penso nas dores que já não sinto
Penso nas coisas que não me importo de ter perdido
Penso no futuro que não tenho pressa pra que chegue
Penso na vida que estou levando calmamente


Corro o dia todo
Desafio a mim mesma e venço a mim mesma
Me perdoo também
Como ensinou Zaratustra

Nada porém me ocorre
Nada me cerra os olhos
Nada deveras existe
Que me faça adormecer em paz

Nada se não palavras.
Estou cheia delas.
Para que eu não exploda o mundo usa a noite
Para que as solte

Pois que se vá
Estou superlotada
E vocês não me pertencem,
Palavras.

E se nada vier a melhorar? E se quanto mais foco tivermos mais lúcida ficará nossa podridão? E se o futuro que tanto almejamos chegar com cores vazias? Não terá valido mais o tempo em que apenas esperávamos e não a conquista de fato? Eu vejo meus pais, tios e avós, e eles estão perdidos em algum lugar de suas mentes, eu vejo suas fotos e eles sorriem dentro de paredes escuras, eles estão felizes, e eu gostaria de dizer a eles que aquele momento, aquele passado onde lugar tudo é novo e escasso, onde tudo parece prematuro e em desenvolvimento, que aquele momento é o momento de suas vidas. Que o que viria à frente nem sempre seria tão bom. Eu sei, eles querem um futuro bom para nós, seus filhos, sobrinhos e netos, eu sei que eles lutaram e continuam lutando por nossos próprios momentos futuros, mas eu gostaria que eles parassem um pouco, parassem e agradecessem o momento exato que vivem.
Um dia tudo se resumirá em fotos mal focalizadas em lugares que já não se reconhece. Um dia todos os sorrisos doerão por alguma saudade, ou várias. E eu só desejo que vez ou outra eles tenham parado, olhado para o céu e agradecido à qualquer força, à qualquer acaso, aos seus deuses, quem sabe. Agradecido pelo presente momento, pelo exato instante.
Veja, eu também esqueço de vez em quando, esqueço que não há nada "para além da curva da estrada". Às vezes eu também me apego à ilusão de que o tempo é uma linha reta, então eu me lembro, me lembro que a vida é incrível, que as coisas estão acontecendo à minha volta e tudo é muito bonito agora, eu me lembro de tudo o que eu tenho, mesmo não possuindo nada, e eu agradeço mesmo sem ter a quem agradecer, eu agradeço ao mundo e deixo que todos sintam a minha gratidão.