Coleção pessoal de Wnmoura
De um instante ao outro, tudo paralisou.
Era como se o mundo parasse e o tempo fosse visto lentamente, não se ouvia nada além de um sussurro ao fundo, como quando colocamos uma caixa sobre o som.
Visão turva, aos poucos se alinhavam, coração que não costuma-se ouvir, aos gritos pulava feito um almirante, adrenalina ao sangue fez-me dilatar a pupila.
Mãos trêmulas perdem o sentido, linhas tortas formam-se sob sua direção, palavras me faltam, apenas pequenos espaços ditos distorcem o ar, outros espaços faltantes permanecem ao alento.
Sobre um foco direcionado pude avistar o que parecia ser um rosto, certamente era um rosto.
Seus olhos pequenos e levemente puxados, por milésimos de instantes se contraiam, quase se fechando.
Junto a eles, seus lábios se retorciam mostrando parcialmente seus dentes, movia-se lentamente a boca, formando palavras sobre o vento.
Não podia ouvir, como poderia ouvir se os meus pés não podiam tocar o chão?
Estranha sensação de poder voar sobre as nuvens...
Com certo foco conseguir avistar bem, rosto conhecido, deveras conhecia bem.
Por que só agora pude sentir?
Pele morena, porém, clara, cabelos lisos e traços leves, sua delicadeza me encantou.
Como não se encantar, por que não se encantar?
Ela, apenas ela, por que não ela...
Imaginem-me com planos futuros, precipitados, prováveis.
Seria errado sentir? Por que não sentir, não queria parar de sentir..
Não sentira o mesmo com tamanha intensidade há tanto tempo...
Acho que o mais errado seria não se permitir sentir
Tentei pintar com papel e tinta, mas nem as mais leves das pinceladas conseguem transmitir as cores que agora enxergo no céu...
Queria mesmo era tornar a vida mais colorida, mas não consigo. Então me prendo a pintar no papel...
dia 21 de março, dia mundial da poesia, e ao seu dia entrego minhas palavras, que ao menor dos esforços subsistirá. Ainda que eu me for, numa bela tarde chuvosa e ensolarada, voará pelos ventos alísios, e ao mais tardar das belas letras, se eternizará...
Na atual conjuntura, não posso perder o luxo de saber o que havia acontecido. Apenas me lembro de resquícios, pequenas lembranças do que me foram roubados. Então, me perdi, nesta questão existencial, neste mar sem fim de perguntas, nestes dias que me sobraram. Hoje, não sei mais onde estou, apenas sei que não é meu lar, sei que já estou distante demais para voltar. Desconheço este caminho, estas pedras que hoje piso, as árvores não são as mesmas e as aves não cantam iguais. Me ponho a acreditar que um dias desses, encontro o meu lar, os meus dias e meus segundos. Não consigo mais me encontrar, estranho a mim mesmo, não consigo respirar o mesmo ar e nem correr com os mesmos pés. Os olhares e sorrisos forçados que me encaram, não conheço mais nenhum, embora suas vozes sejam conhecidas.
inconscientes andamos através de pedras pontiagudas, inconsistentes atravessamos um rio que nos afoga, inconformados desviamos de caminhos que nos fazem tropeçar. Inconveniência, sim, inconvenientes nós somos por dizer aquilo que não é dito. Palavras duras são doloridas, atravessam o corpo como uma espada, machuca até mesmo o coração.
sobre rosas vermelhas no chão, se encontra árvores escuras e sombrias. Uma neblina se sobressai através do ar, norteia todo o ambiente, é finita a sua sombra. Não é possível avistar o céu nublado pois os galhos que ali se encontram o encobre.
O silêncio era ameno e todo o espaço misterioso, se ouvia apenas o som dos meus passos pisando nas folhas secas.
hoje, não sei mais quem eu sou, a cada instante me perco dentro de mim, as profundezas do meu ser cobrem toda a minha feição. há um desenrolar entre nós de palavras perdidas, de sentimentos entrelaçados e de memórias que quero esquecer.
Talvez essa chuva me faça enxergar o que os meus olhos não querem ver, talvez esses pingos no meu rosto me faça fugir da realidade e viver da minha imaginação.
Não posso carregar essa dor, está pesada demais.
todos os dias andamos sobre as mesmas pedras, atravessamos as mesmas ruas e admiramos as mesmas flores. Mas, todos os dias adquirimos uma nova percepção sobre o mundo.
Tentamos absorver tudo o que está ao nosso redor. Mas, sem saber, acabamos nos afundando numa infinidade de saberes existentes.