Coleção pessoal de WilliamPhilippe

1 - 20 do total de 28 pensamentos na coleção de WilliamPhilippe

Vermelho.

Cada dia que passo sem sua presença,
é um tiro no peito do ecossistema,
é vazio paralelo com a cheia,
de estar cansado de contar as teias
dessa armadilha presa em minha cabeça.

És o que não admito nem a mim,
ouço as paredes reclamar
do que eu não lembro.
Eu ouço o som do lamento,
lágrimas sendo levadas pelo vento,
eu tento, incremento, isento você da culpa.

Renuncio-lhe de mim!
Volte quando o nunca mais existir,
quando o nunca for usado corretamente,
quando o vocábulo estiver de acordo
com os sentimentos do remetente.

E os poetas choram, falam em versos.
ludibriam pobre alma,
nunca será estrofe inteira,
fora partida de maneira
que desces a ladeira,
caco em caco, aos pedaços.
Parecendo vosso amor.
Ficou incompleto.
Faltou você.

Poemas à morte - 6

Estranhos perante a luz
se refugiam no breu da noite,
onde é que se produz
força assim, cavalgando à foice.

Se a neblina densa lhe cobrir
não se assuste, há sempre alguém
a quem irá seguir.
Hoje não há ninguém.

Ontem o que lhe cativa,
hoje lhe repele.
Ontem o que lhe ilumina,
hoje lhe escurece.

O hoje é quem lhe matará,
se estará pronto não é questão,
a morte lhe sugará,
a morte é inquisição.

A morte é a sua alma,
a morte é luz em ascendência,
a morte está na vida mascarada,
a morte é um, sem insistência.

A insegurança de um touro.

O que me ilude é toda a incerteza,
é toda a possibilidade inscrita no riso,
o que foi visto valera
tudo que não foi dito.

O que matou a capacidade de raciocinar,
o que plantou o não saber,
tudo aquilo que faz esperar
faz a alma e o corpo tremer.

A insegurança de um touro,
a vontade que o cadáver exala,
se o segredo é vindouro
não fui eu quem contara.

A literatura é a fuga da alma,
o inferno é o recanto do espírito,
se no templo é onde queimará
o incerto corrobora o mito.

À minha mulher.

Apaixono-me dia após dia
pelo odor da sua ruminância,
pelo sabor do líquido que expelia,
pelo tato da sua carne em putrefância.

Expeli em mim, mostra-me
todo o seu resto de humanidade,
tudo o que tens de semelhante
com os animais, decomponha-me.

Se a podridão da morte vive
em teu fim, é onde sentir,
sentirei, serei quem convive

com o afago do enxofre
que ao meu cerébro a de subir,
fazendo meu último dia, hoje.

Os anjos não estarão conosco.

Quando chegarmos ao fim
entre a tênue linha da distância,
você voará por mim?
Submersos à insignificância.

Quando os anjos partirem
e os sonhos parecerem obsoletos,
onde as paixões se despedirem
me carregará em teu peito?

Vejamos bem, por toda a eternidade,
no tempo que dura um instante
manteremos a fraternidade.

Por todo o breu do céu,
na claridão da tempestade,
ponharás término ao véu,
seremos donos da cidade.

O que por hora parece simples
fará com que eternos sejamos
juntos, tenho certeza que mentistes
embora, que, ao fim, não nos segregamos.

É um desolador tormeto,
o fim inscrito em nosso peito,
por possuírmos sangue impuro
não seremos dignos do feito.

Corrosivos sobreviveremos,
as nossas vitórias são evasivas,
o que quer que reinemos,
viverá em eras destrutivas.

Isolantes.

Eu não tenho medo,
não temo o sangue jorrando
ou o diabo sorrindo,
eu morrendo e
você fugindo.

Eu não peço perdão,
não me arrependo de sorrir pra morte,
pular do céu,
deixar a par da sorte,
de arrancar o vel.

Azul Ciano.

Apreciava o som do silêncio,
não me diga onde
eu vou, eu sei que estou
morto por dentro,
vazio, eu invento
sentido em versos
inversos que um incerto
homem escreve calado.

O som do cabelo no rosto
deslisava a seu gosto
como a visão do olho
que via só você.

Entendia que podia
mudar o que queria,
insistia que veveria
sozinho, matara a si.

No carderno de versos,
confesso, é onde rezo,
não é pra deuses, aberto
o peito onde bate o sentimento
de que estar é inútil.

No fim da folha.

Eu estou no fim da folha,
quanto mais escondido de todos
melhor me sinto,
menos tolo estou.

E se por acaso,
um dia tentarem me vencer,
não conseguirão, não sou de duelos
nem de batalhas.

Eu sou o fim da folha,
que ninguém chega a ler,
que ninguém quer guerrear.

Eu sou o peixe fora d'água,
um pequeno empresário,
o início do nada.

São só sorrisos.

Eu gosto do meu sorriso bonito,
gosto do meu sorriso sangrento
que de madrugada no escuro
é que resolve sorrir.

O sorriso cortado
que por instantes anestesiantes
me tira de mim mesmo
e me trás o sonho que eu sonho depois de sorrir.

E se eu não sorrir a noite
eu passo o dia
pensando na noite.

E quando chega a noite
eu abro mais outros sorrisos
que me aliviam até voltar o dia.

Antes que eu me vá.

Temos tanto em comum
só que você não percebe.
Somos tão parecidos...
Vai percebe.

Por favor, já tô cansado desse jogo ralo.
Desse jogo ensaiado e tímido.
Desses riscos juvenis.
Tá esperando o que?

Tá esperando que o tempo mude?
O tempo não muda amor,
o tempo destrói.

Antes que perceba,
o tempo passou
e eu me fui.

Sobre ser nada.

Parado no tempo,
Sozinho em si mesmo,
Sentindo falta de tudo aquilo que não existe,
Vivendo a esperança de algo nascer desse nada,
Esse nada que provoca choro, náuseas, vômito,
Esse nada de mata, maltrata, deprime.

Isso tudo que em mim existe
catalogado seria o mesmo que nada.
E se caso me resumissem em uma palavra,
o senso comum seria nada.

Me perdoe por sentir muito,
pelo fato de não sentir nada.

Juventude.

É a juventude nascida fria,
o tentamento ao novo,
o que vos jura que faria,
morre, mas nega-se pedir socorro.

Ouvira chamar ao longe,
o chamado de guerra que quer.
O que mais quer se esconde,
quer a guerra, vinho e mulher.

Joga tudo por luta,
não tem respeito ao perigo,
mesmo que a derrota seja dura,
a tua alma anseia o risco.

Ávido, impetuoso e brilhante,
com aspecto bastante nítido,
de forma incessante,
quer o que nunca foi tido.

Forte ficaste tua alma,
em caminhos percorridos,
em busca da chegada,
daquilo que não lhe foi prometido.

Pobreza idiomática.

Não adianta o que eu disser,
sobre ti não sei falar.
Esteja aqui quando vier,
a carga psíquica que irá me levar.

Eu não encontro significados
e as palavras soam comuns,
eu só escrevo versos pobres
e pobre eu sou mais um.

Seu eu fosse Machado saberia falar,
mas eu sou eu e isto nem quero publicar.
Eu talvez tenha vergonha de ser,
mas eu só tenho desejo de encontrar.

Sem palavras bonitas eu queria dizer,
que meu eu sem você,
é mais fácil desistir do que viver,
é mais fácil morrer do que amar.

Estrelas.

As estrelas inacessíveis,
não sentimos pelo toque,
mesmo que toquemos,
não as subestimo.

A luz que nos chega,
nos clareia e incendeia,
nos cega e brilha,
nos faz estrela.

E as estrelas humanas,
que beijo na terra,
têm o mesmo brilho que as celestes.

No céu da tua boca,
eu faço estrelas, eu ponho sol.
No céu da tua boca,
faço-me teu igual nó.

Je Suis

Divirta-se com sua insanidade,
faça do terror obra de arte,
transforme harmonia em caos,
desordene a ordem das coisas.

Ordene que façam o errado,
seja o sádico,
faça um precipício,
atire-se e voe de olhos fechados.

Faça teu silêncio o grito mais alto,
queime-se por dentro,
corte-se por fora.

Ame a ti mesmo.
E morra, dignamente,
como o mais lembrado da história.

Continuação do sonho.

Quem diz que viu, mentiu,
quando queres controlar,
e quem lhe disse que um assobio,
é possível só ouvir e não palpar?

Não pense que estiveste errada,
a vida, é molde próprio pra moldar,
a vida é a continuação do sonho,
pouco após o acordar.

Quem vos disse que o fim é aqui?
E quem disse que o fim existirá?
Pouco após tu partir…
Rosas começaram a chorar.

Então palpando teu caminho,
pus-te em meu sonhar,
viajando só, sozinho,
a ti, continuo a imaginar.

Por si.

O que faz o teu alvo no abstrato?
O que tu miras que nem sabes se há?
Não tens medo de estar errado?
Acha mesmo que sempre ganhará?

Conto somente a ti, meu amigo,
que me ensinaram a desistir.
Até na escola da morte, iludido
me pus, otário, a tentar seguir.

Condensei, perfume em lágrimas,
choros ardiam perfumadamente,
perfumavam as auras,
agrediam a mente.

Mentiam as auras,
iludiam a gente,
então amigo, desista!…
Viva para ti, somente.

Imprevista.

De sangue enxuto,
nasceste em minha visão.
Em luto, mútuo,
morreste sem salvação.

E quando disseram: pareces triste.
E o que fizeste, olhei, eu sei.
A quem mentistes?
Por proteção, pensei.

Não queres simplórios,
todos os que vêem
não leem os olhos.

Então não existe mais,
esperança por fazer,
o que resta é estar,
viva, por assim dizer.

Entre sois sós, nós.

Entre vos há nós.
Entre vozes há versos.
Entre sós há sois.
Entre olhos, universos.

Entre em ti, e veja que.
Entre o agora e o após.
Sós, dirão à nós.
Somos mais que sois.

Entre luz há vista.
Entre vãos há vento.
Entre ventos, vozes.
Que falam de nós.

Nada.

Entre o vazio do nada
e quem está cheio de tudo,
encontra-se uma ambiguidade.
Em um nada de nada, tem algo,
em um cheio de tudo, há também o nada.
E se o nada anula o tudo, o cheio de tudo é farsa.
Quando algo está no nada, não há o nada.
E quem é o nada que nada fala?
Quem nada fala, não é esperto.
E quem tudo fala, fala nada.
Ao falar tudo, encontra-se o nada,
e basta apenas um sinal negativo para criar a força contrária.
E com nada, faz-se uma bagunça.
O que prova que precisamos, somente,
de nada. E quem somos nós?
Nada.