Coleção pessoal de viviane_1

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⁠Penduradas nos galhos
as maçãs prontas
serão mordidas.

As apressadas
apodreceram na terra.

⁠O mar secará um dia
toda a sua sede.
O mar perderá todo o sal
num longo dia azul.

Sem sabor e sem ímpeto
o mar de ondas molengas
ficará desativado
de qualquer romantismo.

Plebeu e plausível
descortinará outro infinito
que não este gelatinoso
mistério-matriz.

Á força da metamorfose
o mar se desmarinhará
desmaiando aos poucos
sobre si mesmo.

Não perca:
Grande Teatro de marionetes!
Amanhã. Na orla da praia.

⁠Um resto de hora
varre os telhados
em despedida.

Como outros calendários
sucumbiram
em outros quartos de hotel.

Idêntica mentira: a noite
alonga o corpo da fera
no escuro das velhas ruas.

A viagem termina. O dia
fecha os olhos á própria água.
Devagar: sem protocolo.

⁠Á mesa do jantar ele se cala.

Que outros falem demasiado
remoendo os chocalhos das próprias ideias
não o incomoda tanto.
Conheceu muitas borras de palavras
e teve de discernir a sós
os afetos que lhe serviram de caminho
ao lado de Dora, sempre.
Tantos jantares gastos em torno a
opiniões
essa esgrima imaginativa
a sentenciosa: ele já o sabia.

Os outros falam
e ele basta um aceno de cabeça.

⁠Tire-se o número e o mês
e o ano
a este clarão diário.

Tire-se a manhã
que o arremessa
- parábola no olho,

as horas fogem de si mesmas.

Sem as paredes noturnas
onde as tardes se acomodam
vencidas.

Sem o impulso de ontem e amanhã
a girar-lhe o eixo:

Tire-se o número e o mês
e o ano
ao que é vertente

Sempre

_________ agora.

⁠Adormecido
Numa constante apatia.
Não sinto paz,
Também não sinto agonia.
Tudo para mim tanto faz,
Perdi o frio na barriga.
Acho até que já morri,
Mesmo acordando todos os dias.

⁠Nada!
Horas e horas neste ponto morto
Onde caiu agora a minha vida
Nem um desejo, ao menos!
Só instintos pequenos:
Apetite de cama e de comida!
Nem se quer ler um livro
Ou conversar comigo, discutir...
Nada!
Neutro, morno, a dormir
Com a carne acordada.

Eu sou nostálgica demais, pareço ter perdido alguma coisa não se sabe onde e quando.

⁠A vida são deveres,
Que nós trouxemos para fazer em casa
Quando se vê já são seis horas
Quando se vê já é sexta-feira
Quando se vê já é Natal
Quando se vê já terminou o ano
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida
E quando se vê, passaram-se 50 anos.

⁠Há dores fundas agonias lentas, dramas pungentes que ninguém consola, ou suspeita sequer!

⁠Porque? Porque tanto desespero? Nesta noite as horas mortas, a escuridão me traz o frio, já a saudade fechei portas. Deixei seu lugar vazio.

Mas lembrar-se com saudade é como se despedir de novo.

⁠Hoje vai ser igual ontem, projetando na frente de todos uma postura de alegria, por dentro com o medo de me ferir, me machuco todos os dias.

A partir de uma certa idade os anos passam voando e os dias são intermináveis.

⁠Segue minha alma sozinha cansada de mais um dia. Estranha essa minha vida, ora feliz, ora feita de melancolia.

A vida é um escárnio sem sentido. Comédia infame que ensanguenta o lodo.

Deixo a vida como deixo o tédio.

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro.

É muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade.