Coleção pessoal de Vitoria612

Encontrado 1 pensamentos na coleção de Vitoria612

⁠Impessoal

Como escrever sem deixar transparecer as verdades? Porque nem sempre é seguro sabê-las. Como escrever sem que soe como uma despedida? Nem sempre sabemos a hora de partir. Nem sempre queremos. A imagem de uma pessoa, segundo minhas concepções, é talhada com a vivência. Então vejo não somente a boca, mas o que dela sai. Não somente os olhos, mas o que se observa neles quando os seus olhos pousam nos olhos de outra pessoa. E quando o seu sorriso se encontra com o sorriso da outra pessoa, não é só a piada, não é só o momento, é a soma de tudo o que a pessoa é e isso exala e se mistura com o que se é e o ambiente se torna só eu e você. E o que se sente nem sempre é paciente, nem sempre encontra as palavras certas na hora exata. Mas qual seria? Existiria? Seria na hora das provocações? Quando o teor da piada se torna significativo porque é nosso e daqui a três anos eu ainda lembraria que você se utilizava de toda brecha em toda conversa para lembrar de algo que é interno. Que qualquer pessoa não entenderia a importância da provocação diária, mas eu sim. Ou seria no momento dos abraços, em que tanto de você se funde com tanto de mim? E no fim, aqui dentro só sobra você. Acho que todos os momentos poderiam ser momentos para falar o que se sente, eu não consigo. A necessidade de colocar tudo em folhas não é por gostar dos sons que as palavras tem no papel, não é por gostar de focar totalmente nas feições que uma pessoa faz lendo cada palavra. É por nunca ter dito um "eu te amo". É por nunca ter dito um "eu te amo" olhando nos seus olhos; e não saber como fazê-lo. É por dizer que te odeio querendo dizer o oposto. É por não saber como dizer que você é a minha meditação preferida, sem olhos fechados e sem a posição de lótus. Você foi o meu passado mais feliz. É o meu presente mais imersivo. E Sêneca não nos permite criar o futuro, mesmo que ele seja sempre daqui a um segundo. Eu não tentaria criar, porque tudo o que eu vivi com você foi no improviso dos milisegundos. E quando eu vi você de verdade, a cada passo que eu dava em sua direção e a cada passo que você dava na minha era uma parte do futuro que se desenhava na minha frente. Todos os detalhes, o sorriso, as esbarradas do meu braço no seu e talvez até um pouco dos vácuos nos apertos de mão, era a realidade que se moldava bem ali, sem máscaras e sem possibilidade de reformular uma frase. Era a vida. Tão delicada e avassaladora como ela deve ser. Quando fecho os meus olhos em seu presença, não é só por saber que estou em segurança, mas uma forma de provar para eu mesma que estou vivendo, que estou presente; o presente com você é tão inimaginável que soa como um sonho. E quando me vi rindo sozinha em uma sala vazia, lembrando de toda a paz que você me entrega de graça, fiquei com medo. Medo de perder você, não como se fosse um jogo, você sabe que eu detesto competições. Escrever um diário é como escrever um monólogo. Todas as cenas vivenciadas coletivamente são narradas por uma pessoa e as experiências se moldam de acordo com as percepções daquela pessoa. É sabido que depois de acessar as memórias várias e várias vezes essas acabem se modificando e até um pequeno sorriso pode ser acrescentado em uma memória de dor. Me pergunto se isso é inevitável. Me pergunto também se gostaria que fosse. Existem tantas lembranças que eu gostaria que se tornassem mais felizes, algumas até com mais cor; outras com menos sorrisos. Acreditava que você era sério. No fundo, gostei de estar errada, mas aquele lado (maléfico) ainda clama por meios de provar que os meus pré conceitos estavam certos. É engraçado que apesar disso, sempre que eu me levo em pensamento para aquele instante, a minha cabeça cria ainda mais sorrisos. Não sei se a explicação está na maior convivência ou se é por gostar desse sorriso. Talvez um pouco dos dois ou os dois em sua totalidade. Se criei inconscientemente cada detalhe daquele ser, gostaria de cada detalhe também. Improvável projetar somente para sentir ódio e fazer com que meu olho comece a tremer a cada exercício na barra. Seria possível? Tyler, é realmente gratificante saber que a única voz da minha cabeça não me leva a criar um clube da luta. E que no 'mínimo me faz pegar uma chuvinha e falar sozinha na porta de casa. Arrisco até a dizer que cuida bem mais do que me leva a comer gatos e roubar bebês. Que me salva de bicicletas e motos inexistentes. Nisso não posso dar o crédito para a minha mente. Como uma boa marijuana e perseguida por policiais, não criaria uma voz para me ajudar (estou tentando pegar uma patente melhor no morro). É bem mais provável que você, com a humildade no 'mínimo, se compadeceu da minha situação e criou sua própria personalidade e eu só tenho a (felizmente) agradecer por tudo isso. E eu não poderia classificar "tudo", por ser bem mais do que eu posso colocar em palavras. Eu disse que tentaria colocar, não está sendo fácil e nem gostaria que fosse. Não está saindo nenhum soneto de Shakespeare, mas já estou conseguindo encontrar algumas palavras certas.
Poderia deixar esse texto em aberto, continuar adicionando pequenas anotações, acreditava que viveria algo extraordinário com você assim que finalizasse esse texto, percebi que estou sempre vivendo, imersa em extraordinários, dessa forma sempre continuaria escrevendo essas memórias, mas se tem uma coisa que eu aprendi com você e que sempre vai ecoar aqui dentro é que o sentir é essencial, escrever é opcional, achar as palavras certas é sempre um desafio, mas que em relação a nós dois, um desafio perdido é sempre um motivo para se tentar novamente.
22/04/2022