Coleção pessoal de Verissimoandrade
ESCRAVO DE SER LIVRE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Minha sina é ser preso à liberdade;
suportar as algemas da soltura;
rastejar nas alturas, não ter solo
pra firmar estes pés que apenas voam...
Uma dura verdade o sonho exposto;
a fiel utopia enfileirada;
levo todo meu nada sem pra onde,
quem ou quando; nenhuma explicação...
Sou escravo da carta de alforria
que alcancei de nascença e natureza;
correnteza; corrente que me arrasta...
Meus amores me arranham na passagem,
minha casa é pastagem sem cercado,
meu estado nasceu sem capital...
Diferente das prestações de serviços e bens de consumo, cujos valores crescem de acordo com a qualidade, o amor verdadeiro não tem preço. Ama de verdade quem ama de graça.
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Sonhemos com um mundo no qual nenhuma criança precise ter dois pais e/ou duas mães, pois bastarão simplesmente os que a natureza lhe deu generosamente. Um mundo cujas novelas lindas e sensíveis não preguem que quanto mais rodízio conjugal melhor para os filhos, pela multiplicação dos pais.
APOLOGIA DO AZUL
É a distância que azula o céu, as montanhas e ganha espelho no mar. Também azula o paneta em que vivemos, quando visto ao longe.
A distância é bela exatamente por ser distância. Por não estar ao alcance de nossas mãos. Ela sempre há de azular o sonho; a saudade; a poesia; o futuro desejado; a esperança mais dispersa.
Agora já sei por que nos depreciamos tanto. Por que nosso amor é tão agressivo e saturado na presença, mas ganha doçura e nostalgia quando estamos ausentes. Por isso a volta constante. A reconciliação.
O azul dá suporte à ilusão; à fantasia. É a cor da beleza, mesmo do que não é belo. É a natureza do abstrato; a roupa do que não é corpo.
VIVER ENQUANTO HÁ VIDA
Uma vida foi pouco prás minhas emendas;
de repente me flagro equivocado e torto,
a pessoa enguiçada e sem rumo de sempre;
um navio sem porto pra pousar seus ferros...
Foram tantas as pausas, os repensamentos,
os conceitos mudados e as visões enxutas,
minhas lutas insanas para ser melhor
do que nunca entendi por que não pude ser...
Hoje ainda me prego, me soldo, costuro,
corro contra o meu tempo e já não corro tanto,
planto minhas sementes em terra cansada...
Só não posso deixar de querer algo mais
de quem sou, do que sinto que posso avançar,
pra deixar este mundo como quem tentou...
MILAGRE DA VIDA
São muitas as dores de quem vive. No entanto, é importante que o ser humano seja maior do que tais dores ao longo do caminho. Supere as pedras da vida real; sem poesia. Cada espinho tem que ter sido apenas mais um, quando a luz de um novo dia florescer.
É preciso atinarmos prá realidade, sem que a vertente sonhadora se perca de nossas veias; nossa mente; nosso coração. Precisamos desbravar a cidade, os seus desvãos, e fluir como rios entre florestas. Nada pode secar a fonte que nasce de nossa fé no mundo, nas pessoas, no tempo e até mesmo numa certa força maior.
Eis aqui o presente, a nos pedir o melhor de quem somos. Nossa idade, seja ela qual for, quer muito mais do que a erosão pura e simples do nosso olhar sobre o passado... Nossa visão estendida sobre o percurso a ser cumprido na direção do futuro. Creiamos nesse futuro, pois ele pode guardar surpresas que a preguiça tenta estragar.
Há um céu entre nós o tempo inteiro, esperando para ser descoberto por nós. Não por alguém em razão de nós. Queiramos mais do que auxílios misteriosos. Algo mais do que o Cristo milagreiro que nos cure da vida como é... Ou exatamente como tem que ser.
A escola está muito ocupada com o excesso de questões burocráticas e as pressões de cunho políticoeconômico, para fins de visibilidade, lucro e verba ... Não sobra tempo para educar.
Saberemos que os nossos filhos são felizes, quando eles gostarem mais de casa do que do Bob´s, do MacDonalds ou da Disney.
A ETERNIDADE TRANSITÓRIA DO AMOR
É uma pena que ontem não é mais ontem... Bem cedinho tornou-se hoje, para me fazer constatar que te foste. Que já não estás ao meu lado e não terei os teus traços dormidos para requentar no mormaço dos meus beijos. Resta esperar que o dia passe, outra noite adentre minha solidão, para que retornes do cativeiro das convenções... Fujas mais um pouquinho e te refugies comigo, até que as horas inevitáveis te resgatem.
Disseste que virás amanhã. Pena que hoje, sem nenhuma piedade ainda é hoje... Um agora pesado e lerdo no meu anseio; minha saudade. Meu desejo incendiário de violar o lacre da tua embalagem social, de modo a revelar o quanto és minha, mesmo não sendo. Mesmo eu não tendo a tua escritura, os impostos em dia, os carimbos da oficialidade que pretende autenticar o amor, mesmo depois de findo... Sob os laços de presentes e presenças desbotados... De velhos tempos que só as fotos atestam.
Não faz mal... Tenho tua promessa. Sei que hoje terá de ser amanhã. Se já fosse, nós estaríamos lá, como logo estaremos... Assim que o futuro se nos der de presente, na medida real da expectativa do fogo... Até que o presente, ou ex-futuro, caia no lugar comum do passado, ex-presente, para que “a fila” garanta sua rotatividade. Agora entendo que amores podem mesmo ser eternos, mas trocam de corações e alvos.
TEMPO É DEUS
Creio mesmo é no tempo, nele aposto
como a cura dos males e dilemas,
meus poemas me ajudam na viagem
para o dia em que a vida fará jus...
Não importa se os dias serão poucos
a partir do momento com que sonho,
se vierem com toda a plenitude
que suponho nas minhas esperanças...
Tenho fé, rezo ao tempo, esse meu deus
milagreiro de outrora e do futuro,
luz no escuro de quando estou perdido...
Ponho nele os pedidos e desejos,
como quem deposita numa conta
os valores humanos que lhe restam...
E Se Fosse Natal?
Não apenas 25 de dezembro, mas todos os 365 dias do ano.
Nos menores gestos de amor, de confraternizar, de apoiar na vontade de sorrir, de amparar, de entender, de perdoar, de receber e repartir.
Na capacidade de sofrer, de calar, de vencer, de estimular, de perder e de novo buscar.
Sem fugir, nem evitar, sem influir, nem invejar, sem omitir, nem negar, sem punir nem matar.
E se fosse sempre natal?
Sem dor, só amor.
São nossos sinceros votos.
Têm sido e serão cada vez mais numerosas as mortes físicas e ideológicas causadas por profissionais em guerras de reivindicações trabalhistas.