Coleção pessoal de vanessaneves09
The light from friendship won’t reach us for a million years. That’s how far away from friendship we are
METADE
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.
Se eu tivesse contado essa história para as moças da minha terra, teria de explicar a elas como foi possível me afogar num rio de gente e ao mesmo tempo me sentir tão imensamente sozinha. Mas de verdade, não acho que teria palavras.
Sê
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
Dialética
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender
1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.
2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.
3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.
5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.
6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.
7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".
8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".
9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.
10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.
Ainda que não soubesse do que eu falava, ou conhecesse alguém que passou por isso, fez com que eu não me sentisse só.
Sei que tem gente que diz que essas coisas não acontecem, sei que tudo será história um dia, e que nossas fotos vão se tornar lembranças. Mas no momento, esses instantes não são histórias, estão acontecendo.
Eu consigo perceber, o momento em que você sabe não ser uma história triste, você esta vivo, você se levanta e vê as luzes dos prédios e tudo o que te faz pensar
E nesse momento, eu juro... Nós somos infinitos.
Bem no fundo
no fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas
Amigo não se escolhe
Em pouco tempo, já estava íntimo da solidão. Divertia-me contemplando a beleza despercebida da cidade, ouvindo as frases soltas declaradas com tanta efusão ou deixando minhas lágrimas correrem sem timidez no cinema. Para espairecer, brincava de decifrar a personalidade dos passantes pela disposição dos traços retos em seus rostos. Não sabia se acertava algo sobre eles, mas gostava da sensação de desvendar tudo o que era possível no novo ambiente.
Mas, de vez em quando, algum detalhe ativava uma lembrança. Alguém magro e com uma barba esquisita, por exemplo, era idêntico a um grande amigo de infância, outro com óculos de aro grosso e andar apressado me lembrava um amigo designer, já aquele com cara de John Lennon se parecia mais com um amigo professor do que com o próprio Beatle. Uma expressão ouvida por acaso, uma peça de roupa familiar, um corte de cabelo diferente, gestos, trejeitos, vozes, meros detalhes percebidos em desconhecidos e que possuíam sempre alguma característica em comum com gente que agora estava longe. E por mais entretido que eu estivesse com tantas novidades, esse pessoal estava me fazendo uma falta tremenda.
Então, passar despercebido tinha perdido a graça. As amizades recentes ainda eram superficiais demais e eu tinha pressa para me sentir em casa. Logo, decidi escrever para quem eu queria como amigo.
Selecionei pessoas com as quais gostava de conversar, quem eu considerava interessante e que eu desejaria encontrar mais vezes — ou alguma vez, no caso das conhecidas apenas pela internet — e fiz um e-mail para cada uma. Escrevi sobre o quanto suas companhias me agradavam, sobre locais que com certeza iriam gostar e procurei saber da disposição para ir a algum desses lugares e jogar conversa fora. Sabia do possível ridículo, mas tentei transpor em palavras a mesma sinceridade que eu esperaria de alguém que gosto. Porém, a única resposta que recebi ficou na promessa.
Desisti de insistir e voltei ao estado inicial. Não tinha sido a primeira das minhas frustrações e nem seria a última. Felizmente, já havia aprendido a lidar melhor com isso.
Até que, saindo de um mercado, vi um rosto familiar. Essa sensação não era novidade, porém, dessa vez era alguém conhecido de fato! Fiquei abismado não só pela raridade que era encontrar alguém conhecido na rua, como também pela simpatia com a qual fui tratado. Um “vamos marcar” concretizado depois me garantiu a amizade de um dos casais mais incríveis do Rio, além de minhas primeiras aulas de culinária.
E oportunidades como essa continuaram a surgir com os tipos mais diferentes de pessoas. Como uma mesa de poker na casa de um webdesigner incapaz de seguir regras e fonte inesgotável de frases geniais, aulas de desenho (que nunca levei adiante) com o ilustrador mais talentoso e mais gente boa que existe, partidas de basquete com um DJ-triatleta-programador incrivelmente inteligente e com quem tenho uma dívida eterna pelas inúmeras vezes que já me ajudou no Rio, sem contar os bares com o grupo de “imigrantes” com quem tenho uma afinidade óbvia e os papos eternos sobre assuntos tão interessantes quanto inúteis na hora do almoço com os colegas do trabalho.
O tempo passou, e as adversidades da mudança também. Se em outro momento forcei a barra escolhendo meus amigos, agora vejo que não era bem uma questão de escolha. Posso não saber a razão, se é que existe alguma, mas o fato é que nunca imaginei que parar de insistir iria me garantir justamente o que eu tanto queria.
"My wife and I have been married 16 years."
"Children?"
"Nope."
"Any particular reason?"
"I was just never sure I wanted to have a child. And I always thought that with a decision that big, it was better not to guess and be wrong. I've just always had this anxiety about fulfilling myself and accomplishing my dreams. I love kids, and I love my friends' kids, but I just didn't think there'd be room in my life for a child. Some of the parents I know think that not having a child is a selfish decision to make. But then again, a lot of those same people, after two or three beers, have told me that they envy my freedom."
O prazer é a prova da natureza, o seu sinal da aprovação. Quando somos felizes, somos sempre bons, mas quando somos bons nem sempre somos felizes.
"It's important to be open."
"Open to what?"
"Changes in your life, mainly. I've always been a planner. So it's very difficult for me to handle things that don't go as planned. But I'm learning to accept that unplanned events-- even negative ones, can lead to positive changes."
"What happened that you weren't planning for?"
"Well, I didn't marry the man I thought I was going to marry."
"Why not?"
"He cheated and had a kid. We had a house and everything. But you know what? That horrible event created a domino effect that brought me to New York, and introduced me to a new life, and a new group of friends that I never would have known otherwise."
Felizmente já faz tempo. Pensei que ia contar com raiva no reviver das coisas, mas errei. Doer se gasta. E raiva também, e até ódio. Aliás também se gasta a alegria, eu já não disse?
[...], nada volta mais, nem sequer as ondas do mar voltam; a água é outra em cada onda, a água da maré alta se embebe na areia onde se filtra, e a outra onda que vem é água nova, caída das nuvens da chuva. E as folhas do ano passado amarelaram, se esfarinharam, viraram terra, e estas folhas de hoje também são novas, feitas de uma seiva nova, chupada do chão molhado por chuvas novas. E os passarinhos são outros também, filhos e netos daqueles que faziam ninho e cantavam no ano passado, e assim também os peixes e os ratos da dispensa, e os pintos... tudo. Sem falar nas moscas, grilos e mosquitos. Tudo.