Coleção pessoal de valeriafarialeao

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TODAS AS FLORES DO MEU EXISTIR

Quero flores pela sala.
Em profusão no jardim.
Quero enfeitar meus dias,
com flores primaveris.

Quero flores enfeitando os dias.
Não importa a estação.
Quero-as todas multicoloridas,
paleta divina, matizes sem fim.

Quero flores, todas elas.
Quero rosas, orquídeas,
amor perfeito, azaleias, flores singelas,
memórias da infância de praças e jardins.

Quero flores do campo
hortências, violetas, jasmim;
infinidade de formas e aromas
que enfeitem e perfumem o meu existir.

VALÉRIA LEÃO

⁠DESABAFO

Almoços de família encurtados.
Amores abalados.
Encontros desmarcados.
Amigos dizendo "até nunca mais".

Em um mundo dividido,
em meio ao extremismo
os pacificadores não tem vez.
Será que a paz virou utopia
nesses nossos loucos dias?

Quero me reunir no domingo,
beber um chope com os amigos.
Deixar de lado as desavenças.
Sem ser taxada de "disso" ou "daquilo",
conversar sobre coisas banais.
Será que é pedir demais?

VALÉRIA LEÃO

⁠VALORES

O pano que cobre o meu corpo
custe dez, cem ou mil,.
não é o que me define.
Pouco ou nada diz de mim.
Tampouco o que te cobre,
diz muito sobre ti.

⁠ALMA IMORTAL

Trago comigo uma alma antiga
Uma alma outonal
(...)
Uma alma que aprendeu
Com o passar do tempo
De rodopio em rodopio
Que folhas secas
Não sentenciam o final

⁠Ressignificar acontecimentos, sentimentos, lugares e relacionamentos.
Ressignificar para reconectar.
Sempre que for possível.

Eu não posso vencer o tempo, mas posso fazer dele meu aliado.⁠

A RAZÃO DO MEU AFETO

Gosto de quintal,
do gosto da fruta tirada do pé.
Gosto de jardins,
de noites com cheiro de jasmim.

Gosto das lembranças
de domingos de horas sem fim.
Lembranças de um país rural, profundo, ancestral, que ainda vive em mim.

Valéria R. F. Leão

⁠REVERSO DA DOR

Me censuras pela minha poesia?
Acreditas, mesmo, que nela me ufano,
fujo da realidade, me refugio?

Mal sabes, meu caro senhor,
que, por vezes, é em cada verso
que busco o reverso da minha dor.

É nela, na poesia,
que restauro minhas forças
e venço a crueza de certos dias.

Valéria R. F. Leão

ALMA IMORTAL

Trago comigo uma alma antiga
Uma alma outonal
Que dança bolero
Que rodopia buscando o equilibrio
Que a ninguém deseja o mal

Uma alma que aprendeu
Com o passar do tempo
De rodopio em rodopio
Que folhas secas
Não sentenciam o final

Benditas sejam as almas
Que seguem pela vida
Buscando a evolução
Sejam elas de qualquer estação

Valéria R. F. Leão

DESENGANO

Na ilusão daqueles dias
Com pureza d'alma
Ela acreditou que o sorriso era sincero
Que o abraço era fraterno
Que existia um bem querer

(...)

Qual poeira levada pelo vento
Pelos caminhos dessa vida
O que havia de bom, se perdeu
A boa fé, sentindo-se traída
Com uma lágrima, disse adeus.

Valéria R. F. Leão

⁠POETA, SERÁ?

(...)

Se a rotina fez uma pausa,
se algum tempo há de sobra...
Poeta? Sim! Por que não tentar?

Sair da zona de conforto,
sempre é tempo de recomeçar.
Se a vida te convidar, não hesite.
Tome posse! Não deixe a chance passar.

Valéria R. F. Leão


PRESENTE OU PRESENÇA

Tem gente que é presente.
Tem gente que é presença.
Tem gente que mesmo presente
não é presença.

Tem gente que ouve.
Tem gente que escuta.
Tem gente que olha.
Tem gente que vê.

Nesse universo diverso
que tipo de gente é você?
Que tipo de gente sou eu?
Que tipo quero ser?

Valéria R. F. Leão

DEVANEIOS

Quem me dera

Da rosa o verso.

Do verso a trova.

De trova em trova

Uma boa prosa.

Quem me dera poeta, escritor, trovador.

Quem me dera

Da prosa a canção.

Canção de rosa toda prosa

Em verso e trova.

Poesia transbordando, arte em ebulição.

Quem me dera a inspiração.

Valéria R. F. Leão

⁠EU E ELA

Não sei se eu a escolhi, ou se foi ela,
a poesia, que me acolheu.
Só sei que graças a essa parceria
encontro alguma leveza
nas horas dos meus dias.

Valéria R. F. Leão

⁠ENGANOS

A gente se engana!
Com amigos e amores,
com expectativas e promessas
Com afetos que julgávamos garantidos.

A gente se engana!
A decepção bate à porta.
A realidade se impõe.
A lucidez nos deixa em alerta.

A gente se engana!
Frustrações nos amadurece.
Desilusões nos fortalece.
Despedidas, necessárias, nos entristece.

A gente se engana!
De que nos servem os enganos?Deixamos as ilusões de lado.
Entre perdas e ganhos nos curamos.

A gente se engana!

Valéria R. F. Leão



AMIGO IRMÃO

Todo mundo tem o amigo do momento.
Todo mundo teve amigos de ocasião.
Todo muito já teve um amigo por uma estação, seja ela inverno ou verão.

Tem amizades que ficam.
Tem amizades que passam.
Tem amizades que deixam marcas no coração.
Tem amizades que são na verdade graça divina, bênçãos sem explicação.

Amigos de momento e de ocasião.
Amigos de toda e qualquer estação.
Amigos "raiz" que se fixam no nosso chão.
Amigos flocos de neve, que se derretem diante da primeira provação.

Amigos de fé.
Amigos sem religião.
Amigos de direita,
centro ou esquerda.
Amigos que respeitam a nossa opinião.

Amigo não tem cor, raça, gênero,
ideologia ou religião.
Amizade é respeito mútuo.
Amizade é um querer bem sem definição.
Dentre todos os amigos, alguns deles se tornam irmãos.

Valéria R. F. Leão

RACISMO NÃO

Ela pode ser passista,
jornalista, cientista, ministra.
Mulher negra, decidida,
pode ser o que quiser.

Ele pode ser atleta,
poeta, astronauta, desembargador.
Homem negro, destemido,
pode chegar onde quiser.

Eles podem escolher qualquer caminho, seja ele, o caminho que for.
Sabem, bem, por experiência,
não há caminhada sem dor.

Ambos sabem que vivem a triste realidade de um mundo absurdo
que separa as pessoas
pelo seu gênero e cor.

Ambos sabem que suas escolhas enfrentarão barreiras invisíveis, disfarçadas, dissimuladas ou não.
Barreiras de segregação.

Barreiras, por vezes, escancaradas
que envergonham os cidadãos
de bem de uma nação.
Herança de um período cruel
em que irmão escravizou irmão.

Discriminação racial, social, cultural.
Discriminação ancestral.
Racismo estrutural.
Enraizado em mentes estúpidas
Continua semeando o mal

Mesmo que não seja esse,
exatamente, o meu "lugar de fala"
deixo aqui e agora
a minha posição.
Racismo não!

Valéria R. F. Leão


DIVAGAÇÕES

Dentro da noite,

aparentemente calma,

a inquietude ronda a alma.

Pensamentos, lembranças.

Ausências, vazios.

A porta da saudade escancarada.

O aroma da flor da "dama da noite"

acionando o gatilho da memória.

Retorno à fazenda da infância.

Devaneios de uma noite de primavera.

A imaginação rompendo as fronteiras.

O pensamento vagando pelo passado.

Tempo, dimensão,

pragmatismo, divagações.

A urgência da vida,

dos dias, dos meses,

entre chegadas e despedidas,

impondo o seu preço.

No silêncio,

resta a certeza de que nada foi em vão.

O atraso, o sonho desfeito.

O silêncio, o inesperado, a reflexão.

Valéria R. F. Leão

⁠UM TRAGO DE POESIA

Mesmo que seja difícil encontrar inspiração nesses dias repletos de agonia, na ausência de gestos de fidalguia, o poeta busca a paz na poesia e nela se refugia.

Há de existir um lugar onde se possa tomar um trago dr poesia, de utopia, de alegria. Há de existir esse lugar.

Valéria R. F. Leão


AGOSTOS


Ano após ano
A gente vai vivendo os agôstos
Na esperança de que os setembros
Nos tragam novos ares
E levem para algum lugar distante
A melancolia que nos sonda
Em cada entardecer sufocante
Dos dias de sêca

Ano após anos
A gente vai sobrevivendo
Carregando no olhar
As marcas daquelas tardes
E, em um de repente,
A gente estanca
Pode ser que exista mais passado
do que futuro a ser vivido
Nesse momento percebemos
Que é urgente afastar a melancolia
Para viver cada agôsto em sua plenitude

VALÉRIA R F LEÃO