Coleção pessoal de TristePoeta
Amar-te
Ah, se um sorriso teu aflora
em teus lábios numa promessa
de beijos, é a ventura de te amar!
Ah, se um olhar teu se esvai
radiante de teus olhos de mel,
é a alegria de te amar!
Ah, se um sussurro teu se evade
de tua boca ornada de mil desejos,
é o prazer de te amar!
Ah, se com as tuas mãos me afagas
o rosto e se perdem no toque,
é o desejo de te amar!
Ah, se teus braços lestos me envolvem
em abraços, terna e infinitamente,
é o êxtase de te amar!
Ah, se teu corpo amante ao meu
se entrega exigindo mútua doação,
é amar-te eternamente!
Alucinação
És a minha realidade e o meu sonho,
a íngreme montanha escalada.
És o meu mais belo desejo secreto,
e eu a verdade que tanto almejas.
Permaneces irredutível,
mas não totalmente distante,
porque és um sonho de felicidade
e muito mais do que mera sorte.
És a minha mais bela ilusão,
és o pólo da minha juventude!
E na tua sombra está o eco
de tudo o que evocámos.
O meu coração tem uma história restrita,
Abandonado na dor e por desejo
no grande amor que te dedica.
A verdade é a tua alma de poetisa.
Onde nos beijamos, amantes
Perfeitos, no mundo do encontro
e de um desditoso adeus.
És a minha alucinação tecida,
A tua aura cheia de sol girou
fora deste meu inebriado sonho.
Que disse que serias, cruel,
apenas um volúvel encanto,
um símbolo farto de vaidade,
esmagadora, fria, desdenhosa.
Assim não existirias mais,
nem viverias dentro de mim,
pelo que choro no silêncio
do meu caminho errante.
Mas espero-te como o sol
no meu coração ferido.
Porém, és a chama que me abrasa
porque tudo que nós amamos,
teimosamente, nós vivemos!
Almas Gémeas
Cinco horas e treze minutos...
Madrugada!
Olho, pela minha janela, o mar.
O mar majestoso e manso,
por vezes cruel e traiçoeiro.
Raios obscuros numa metamorfose
de luz se projectam no seu seio
fazendo parecer mais e mais
um mar vibrante de pirilampos
que líquido salgado em repouso.
Algo me ocorre no pensamento,
como tantas outras vezes,
(que) deixo vaguear o espírito:
- Se o mar tem alma?
Como nós...?
Se ela é igual à nossa?
Alma com a mesma paixão
e defeitos que nós humanos,
e se matéria também...
Mas porquê alma?
Porque não espírito,
uma força motriz qualquer
provocada por nervos em vibração!
Porquê alma?
Porque não coração?
Apodero-me do momento,
dos ego, id e super-ego em ebulição.
Toda a reacção de um cérebro ao rubro
me rebentam na pele fria, arrepiada,
nos dedos febris em movimento,
na boca sequiosa de um ai,
nos olhos cheios de maresia…
Cativo folhas de papel virgem
e rasgo-lhes os ventres
com lápis acerado de negro.
Ordeno as ideias (vã tentativa)
e, de raiva, transmito à mão
mensagens sem fim.
E escrevinho letras a eito,
Sem jeito nem decoro,
Sem tino, demente,
palavras que não atino.
Mas escrevo, ditador,
o que sinto e me aterroriza,
como um louco furioso,
por algo descabido...
- UMA ALMA GÉMEA!
Parecidas como duas gotas de água,
que se encontram, enamoradas,
e se reproduzem sôfregas!
Algo utópico, algo ilógico…
Abortado pelo destino,
ou uma força estranha
e de poder misterioso?
Mas para quê lamentar?
Tudo que resta é o sonho!
Almas gémeas!
Quem as viu ou as sentiu?
Se conhecerem algumas,
digam-me...
- Diz-me mar!
- Diz-me céu!
- Diz-me chuva!
- Diz-me vento!
Nada?
Nada!
Não haverá amor, entre vós,
um par sequer, dois seres
para formar uma alma gémea?
Nada?
Nada!
Só passar por esta vida
deixando apenas impressa
a nossa presença
numa reles fotografia que obtemos,
então: "matemo-nos"!
Oh! Seis horas e vinte e um minutos.
Vai despontar a madrugada,
num qualquer dia mais.
E eu???
Mudo a máscara do drama,
da circunstância e do preceito.
Vou voltar à realidade...
"Almas gémeas"?
Aldeia de Menino
Na aldeia, perdida no alto monte,
estreitada num vale verde,
rústica de odores matinais.
Meu olhar vagueia no horizonte,
limitado de céu e se perde
em mil sussurros de adágio.
Aldeia de fragrâncias naturais,
de cores divinas matizadas:
os verdes, os amarelos, os laranjas…
Os fumos do lar em espirais
voam como danças orquestradas,
pelo vento, em farrapos e franjas.
Minha alma rejubila feliz,
livre da escravidão de amores
inventados por cruel nostalgia;
Meu corpo, renova, qual petiz,
sangue, lágrimas, suores...
Esvai-se em vida de rebeldia.
Minha boca sorri, desabrocha
líricos de louvores eternos
à natureza pejada de vida;
Minha boca grita e desbocha
canções, desafios de infernos,
toada monocórdica perdida...
Desculpai aves, desculpa rio,
por quebrar as vossas melodias,
desculpa vento por seres arauto
do meu patético desvario.
Desculpai, cedo virão calmarias
para vós e dores para mim, incauto...
Na aldeia, meu paraíso real,
liberto do mal, perdido de mim,
sou menino travesso, sorrindo...
Por irmãs e por irmãos, afinal,
tenho a rosa, o cravo e o jasmim,
que me acenam - sinto-me bem-vindo!
Adágio do Silêncio
Se, um dia, alguém te disser
Que este amor é eterno
Deves logo desdizer
Que não foi mais que inferno.
Diz que nunca houve amor,
Não dormimos em alcova,
Jamais trocámos suor
ou vimos luas, cheia e nova.
Foste, nos meus olhos e alma,
Um adágio silencioso,
Um abjecto belicoso,
sem ternura, paz ou calma.
Foste o leito podre de água,
De coração estagnado,
O vazio, o erro, a mágoa,
O nada deste pecado.
Não serás jamais viola
Que tange nas cordas, vibrante,
Sussurros e gritos de amante -
Apenas ais por esmola.
Este adágio não existe,
Nem sequer é nasciturno,
Pobre acto taciturno,
Sangue sujo que esvaíste.
No silêncio do adágio,
Tentei amar-te, por plágio,
Mas em pranto irrompi,
Perante tal monstro, fugi…
(Des)Ilusão
Calem-se os poetas,
Ruam as paixões,
Matem-se os ascetas,
Afastem-se ilusões,
Cativem-se as musas,
Destruam-se uniões,
Imagens difusas,
E bobos corações.
Vivam os cobardes,
Que ao som de trombetas,
Dancem em alardes,
Quedas de cometas!
Vivam, os errantes,
Obtusos, patetas!
Morram os amantes,
Estirados em valetas!
Viva eu, senhor cruel,
De ti, um tirano,
Lábios de mel?
Danado insano
Destilando fel
De ti flor, profano,
Actor de papel:
Fim! Fim! Desce o pano...
Vem! Vem, doce Morte,
Abriga os sem sorte,
Traz ventos do norte,
Faz-me teu consorte,
Cede à minha corte,
de noivo sem porte,
Prisão negra, forte,
Vem, querida morte!