Coleção pessoal de tinlbsb
Os olhos verdes dela são abençoados como as nascentes da Costa Verde Fluminense,
fluindo dentro de sua cabeça extraordinária.
Há tanta vida ali, quanto aqui fora.
E quando ela põe eles em cima de mim,
quando eles se dilatam e eu consigo ver as bordas do universo se dissipando em todo o seu globo ocular,
eu me sinto abençoada.
Obrigada - eu digo na minha cabeça.- Seus olhos são lindos. A alma que sai da sua boca, quando você fala, também.
Como é que se começa uma carta para mãe? "Ei, mãe?" , "olá, mãe!", "como vai a senhora?"
Bom, acho que me dou melhor com um "oi."
Oi...
Sinto falta de dizer que a tua comida está sem gosto, mesmo sem ter a menor intenção de ofender. Era só um dia ruim e meu paladar estava péssimo.
Falta de sentar na varanda da tua casa e perguntar como quem não quer nada o que achou daquele meu sonho da noite passada... De ti, alimentando minha fé naqueles meus sonhos juvenis. - vai ficar tudo bem. - você dizia.
Sinto tanta saudade daquelas tuas convocações, reunindo as irmãs da igreja para orarem pelo meu coração. Daquele óleo que sempre passavam no auto da minha testa dizendo me ungir. De tuas queixas sobre meus dogmas e afins...E das vezes que deixava teu cheiro na minha roupa limpa? Não devo mais ter nenhuma peça com aquele cheiro de cuidado, de horas a fio no tanque, da gripe do dia seguinte por passar horas estendendo e buscando-as no varal.
Obrigada.
Eu só não consigo sentir saudade das músicas altas às sete da manhã, mas sorrio ao me recordar... Ter que sempre sair contigo para que me apresentasse aos teus amigos. - ah, essa é a minha menina. Sabiam que ela vai gravar um CD? Canta para eles, filha aquela tua música! Ela compõe também. Felipe, vá buscar o violão pra tua irmã. Ela chegou de Brasília há duas semanas. Vai morar comigo agora. Finalmente Deus me devolveu ela. Dias com esse joelho dobrado pedindo por essa Vitória. Olhem como ela é bonita, cresceu tanto. Só fico triste por terem cortado o cabelo dela. Era tão grande. - mas tudo bem, estamos nos conhecendo ainda. Hoje, não quero mais gravar aquele CD. Acho que devia te dizer. Há anos que não componho.
Eu gosto de escrever. A senhora não vai me ouvir nos rádios como sei que até hoje espera. Descanse disso. Mas quem sabe, se um dia resolver ir até uma livraria, me ache perdida numa prateleira. Vais saber que apesar de tudo, eu te amo. Sinto a sua falta todas as vezes que me pego lembrando da doçura dos teus olhos.
Desculpe não ter atendido.
Às vezes eu preciso preparar meu coração.
Quando eu falo sobre a teoria das cordas,
não sei exatamente do que estou falando.
A questão é: isso te afastaria?
Eu posso dizer quando você fala sobre coisas das quais você não tem muita propriedade.
A casa é agora.
A vida está em toda parte.
Eu gosto de pessoas que me sentem.
Só hoje você não me entendeu cinquenta vezes, mas me sentiu a cada segundo.
Você acha que não pode me amar, mas você já me ama.
Li uma vez sobre usarem ‘corpos das outras mulheres como nossos campos de batalha’ e me ocorreu que muito além do corpo
usam também a nossa essência para guerrear em batalhas pessoais.
Por que não percebemos o quanto isso é cruel?
Permitir que nos usem como se não existissem milagres acontecendo dentro de nós a todo momento.
Moramos juntos por uma primavera.
Foi o nosso acordo até ela se restabelecer na cidade.
-me avisa quando você quiser ir lá em casa. - e desapareceu porta afora.
Rápido,
porque nós dois somos péssimos pra despedidas.
Pronto!
Agora as tampas
dos tubos de pasta de dente
ficarão enroscadas.
O sofá,
absolvido das toalhas úmidas.
A louça,
protegida pelo armário
e salva dos escorredores.
Tudo no seu devido lugar.
Agora que estou sentado e bêbado penso sobre essas coisas.
Me sinto aliviado,
mas meus olhos parecem molhados e alguém está apertando a minha garganta como quem faz um suco de limão.
Malditos acordos que chegam ao coração.
Não procure pela foto dela,
nem abra a conversa,
não diga olá.
Não faça convites,
não abra o portão,
não a recepcione na porta
do seu apartamento alugado
no subúrbio da cidade.
Não a deixe sentar no sofá.
Seja esperto,
não a deixe entrar.
Expulse ela da cozinha,
das suas dietas.
não confunda as roupas no fundo da arara.
impeça o alcance da cama.
Tranque as portas do banheiro.
Caso contrário ela se infiltrará na sua mente.
revirando
por dentro das suas entranhas.
E você terminará a noite agaixado
com a cara no sanitário
tentando tirar ela de você.
Nos cafés elas enfeitam
o ambiente.
Com as suas pernas grossas e finas;
cruzadas,
em poses
Iguais monumentos
decorando a estante estilo home.
Todas elas,
tão bonitas
e acentuadas em seus jeans.
Algumas seguram livros,
outras
inalam cigarros
enquanto escutam blues
em seus fones pequenos
abafando os sons dos carros
que correm pra lá e
pra cá.
Seus narizes
apontados para o sul
como as montanhas dos Alpes
emolduram suas seguranças viris.
E nenhuma delas
carregam em seus olhos
brilhosos e oblíquos
a vontade de me enxergar.
E eu as admiro por isso.
Sentamos no sofá como enamorados dos anos 80.
Ela se encolheu no cantos de mim
me cobrindo com seus braços e panturrilhas.
Você viu o documentário dos heróis nazistas na tv?
Ela respondeu que não.
Pensei sozinho que sou como eles perto dela.
Altos,
Cheirados,
Nas nuvens.
Mas quando ela sai por aquela porta e tira as suas panturrilhas e braços de cima de mim, me sinto desolado.
Baleado pelo mínimo descuido.
Um soldado estúpido.
De rebordosa pelos cômodos.
Ele fala sobre os avanços farmacêuticos da época, respondi.
Ela atravessou a cozinha
até a sala improvisada
se sentou no sofá
e o cobriu com seu vestido rodado
de flores que parecia linho
e macio como sua pele
branca sem pó e sem enfeites.
trouxe consigo chocolates
a moda cortês e
gentilezas quanto seus olhos.
Ela parecia ter saído de um filme de Hollywood
mas estava ali
na minha sala
conversando coisas que eu estava encarregado de ouvir.
Minha Monroe
em sua versão castanha
e ela me deixará.
eu sei.
Antes mesmo d’eu pensar em abandoná-la.
Uma blusa branca
poliéster
com tentativa falha de regata
no fundo
com outras roupas perdidas
exalando a naftalina
e amarelada pelos dias.
Me pergunto porque não a devolvi
e já que não
porque não a usei
ao menos
para tirar poeiras.
talvez tenha sido o tecido
e minha mobília delicada.
O jazz diz
[não sobra nada do amor, baby.
a não ser roupas
alguns livros
outros objetos inúteis
que não são seus
e centenas de mensagens.
“Separa a minha blusa, Ranch
[irei buscá-la domingo”.
Hoje é dia de faxina.
Chet Baker no rádio e
arrisco passos pela cerâmica.
O beck no cinzeiro
que queima enquanto vou
ao lixo mais próximo
imitando um Jeté mal feito
a enterrei lá no fundo.
Baker
agora posso dizer
[não sobrou nada
Apenas uma casa
gloriosamente
arrumada.
Minha deusa de 1,65cm
do Colorado
que canta blues
compõe soul blues
escreve poesias
lê artigos
e ama documentários nacionais,
não me escreveu hoje.
Enquanto pedaços
cósmicos de mim sobram no edredom
penso que pode ser isso
e aquilo
devia ter dito isso
e não aquilo.
Foy Vance
Feel For Me
e aguardo
algum sinal.
Penso em seus olhos
negros
puxados de pincel,
[eu me prenderia fácil neles
como uma mosca do oeste
distraída e
sua aranha.
Ninguém nessa cidade
tem aqueles olhos.
São dela esses pares.
Fios coloridos
e me sinto
pateticamente
igual
querendo engoli-la
como uma pílula
e sentir
todos os
seus efeitos
colaterais.
E me entorpeceria,
eu sei.
Se ela ao menos me escrevesse.
Escutei a moradora
do 105 falando
[tóxico.
Essa palavra é comum
em embalagens
com conteúdos que podem
causar danos
a um sistema imunológico.
[Nós terminamos.
Ele me sufocava.
Brigávamos há uma semana.
Ele andou me ligando, sabe?
Mas não irei atender.
Ele é extremamente tóxico
inseguro.
Uma hora ele esquece.
Eu colocava o lixo para fora
nesse instante.
Fechei a porta
abaixei
passei a palma da mão
no tronco do meu gato.
A voz dela ainda ecoava
entre as escadas e o corredor.
Peguei uma banana na fruteira
a descasquei e a
levei até a boca.
Sua voz ficando cada vez mais
distante.
Não sei o que
exatamente causou o término
mas sei que
há toxinas nessas laranjas
e maçãs
e nesses tomates
e nas nossas misturas de carne
e tantos outros produtos
por ai
circulando como se não
nos matasse
aos
poucos.
toxinas
na comida
seja ela qual for.
Faltam 7 minutos para às 20h e estou me arrumando
para mais uma madrugada repleta de rostos que
são flashs sempre nos dias seguintes.
Uma multidão de vozes e
batidas para me preencher
com doses e cigarros vermelhos
inteiramente.
E hoje merece um White Horse
e todo o visco do seu sabor de madeira
no fundo.
Vestirei a minha melhor roupa e
beberei uma grande dose
até o fim de um breve episódio
e ficarei aquecido como se eu estivesse na Ilha de Ischia
eu espero.
Afogar uma chama antes que ela exploda
no hall
com todo o suor dos meus pés..
Eu poderia ser sua BMW R-32 de pré-guerra
antigo, abatido
mas aspirando o pó das engrenagens
dirigindo por todo esse horizonte
e estacionando no seu cais.
Me envolveria nos fios do seu cabelo
e no cheiro da sua loção hidratante enquanto o vento
nos assopra a pele.
E ao chegar
mergulharia no seu oceano
tão fundo quanto a Fossa Mariana
e conheceria todas as espécies de você
que se escondem.
Ficaria imergido em oito toneladas por polegada quadrada
das suas profundezas.
Sendo o seu Kaikõ
te explorando até me perder na sua tempestade.
Apareça.
Entre por essa porta, querida
deslize por esse porcelanato.
Eu quero ser a Ilha Fais em você.