Coleção pessoal de Lourencotiago

Encontrados 18 pensamentos na coleção de Lourencotiago

Não é fácil

amar e não ser amado
sofrer e esta dor não passar
morrer, e talvez
ainda estar apaixonado

não é fácil ligar todas as noites
e ser ignorado
tentar ser forte
mas na verdade, ser um derrotado

por medo de amar
pelo simples medo de sofrer
amar é sofrer
sofrer é amar.

Como eu te amo

Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;

Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua,

Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;

Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;

Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:

Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.

Se te amo, não sei!

Amar! se te amo, não sei.
Oiço aí pronunciar
Essa palavra de modo
Que não sei o que é amar.

Se amar é sonhar contigo,
Se é pensar, velando, em ti,
Se é ter-te n'alma presente
Todo esquecido de mim!

Se é cobiçar-te, querer-te
Como uma bênção dos céus
A ti somente na terra
Como lá em cima a Deus;

Se é dar a vida, o futuro,
Para dizer que te amei:
Amo; porém se te amo
Como oiço dizer, — não sei.

————

Sei que se um gênio bom me aparecesse
E tronos, glórias, ilusões floridas,
E os tesouros da terra me oferecesse
E as riquezas que o mar tem escondidas;

E do outro lado — a ti somente, — e o gozo
Efêmero e precário — e após a morte;
E me dissesse: "Escolhe" — oh! jubiloso,
Exclamara, senhor da minha sorte! —

Que tesouro na terra há i que a iguale?
Quero-a mil vezes, de joelhos — sim!
Bendita a vida que tal preço vale,
E que merece de acabar assim!

Amor só é grande quando se já repartiu todos os sonhos,
dividiu todos os planos,
quando já se entregou a senha e a chave de casa.
Amor, pra mim, é das coisas imensas.
Dos oceanos, desejos, constelações e galáxias.
Não vejo graça em dosar apoio, em poupar presença,
em guardar carinho.
Deixo para as estatísticas todas as casas decimais.

É ela! É ela! É ela! É ela!

É ela! é ela! — murmurei tremendo,
e o eco ao longe murmurou — é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura —
a minha lavadeira na janela.

Dessas águas furtadas onde eu moro
eu a vejo estendendo no telhado
os vestidos de chita, as saias brancas;
eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido,
nas telhas que estalavam nos meus passos,
ir espiar seu venturoso sono,
vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! que profundo sono!...
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!

Afastei a janela, entrei medroso...
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
um bilhete que estava ali metido...

Oh! decerto... (pensei) é doce página
onde a alma derramou gentis amores;
são versos dela... que amanhã decerto
ela me enviará cheios de flores...

Tremi de febre! Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
eu beijei-a a tremer de devaneio...

É ela! é ela! — repeti tremendo;
mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!

Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas,
Se achou-a assim tão bela... eu mais te adoro
Sonhando-te a lavar as camisinhas!

É ela! é ela, meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela...
É ela! é ela! — murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou — é ela!

LEMBRANÇAS DE MORRER

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade - é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas.
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei. que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores.
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo.
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Qual o valor do ser humano quando ele não tem mais nada a lhe oferecer? Ninguém é feio aos vinte anos, a fase sobre a qual todas as fases olham, endeusamos a fase da juventude e nós esquecemos do valor dos demais, a infância acaba precocemente, negamos as características próprias da fase em que vivemos, conexão é produção e quando você não é mais capaz de produzir você não tem mais valor, este é o reflexo de uma sociedade doentia.

Martírio

Existe martírio pior que não poder mais olhar para teu rosto?
De saber que em breve estarás com outro? Que serão outros braços a te afagarem,
Melhor me seria a guilhotina, e ter mesmo fim de Antonieta, por que viver, ao ter que saber, que nunca serás minha. Não sei se isso é minha vaidade, espero que não. Seria cobiça, espero que não.
Me enfeitiçaste com este teu canto, Igual da Yara, me vejo abatido, apaixonado, não sei o que digo, não sei se sonho, ou se estou acordado.
Ah menina. Que a mim deslumbra-te com tua beleza, que sejas feliz. E que os braços que lhe aquentares possas saber que é um felizardo, que a natureza decidiu presenteá-lo com uma deusa, e que se um dia vier a esquecer-te, lembre-se és espionado, é que num suspiro errado, tomarei seu lugar.

Certo dia de verão não sabia o que fazia ao inclinar meu pescoço ver chorar quem mais queria, não sabia o que fazer senti minha covardia, de não poder consolar a mulher que mais queria, para aumentar minha aflição, o motivo do teu pranto. Pôs desta minha inercia, o desespero a afligia, de ver o mundo desabar ao lado de minha querida. Queria muito enxugar as lágrimas que vertia. Desafoga-la desta terrível agonia, queria muito abraçar-te, não tive está ousadia, até hoje me espanto com tremenda covardia.

Certa vez conheci um ateu, que fazia acupuntura.

Hoje eu voltei a escrever sobre tristes circunstâncias, afinal qual poeta não escreve sobre a mesma sentença. Mais uma vez ela se foi, na verdade ela nem veio, sobre o véu da minha vaidade insistia em vê-la, mas ela nunca esteve lá. Isso me revolta por saber que nunca acerto no alvo, como se algum dia já tivesse atirado nele. Todas as vezes surgiu naturalmente, sem a menor pretensão (talvez minta um pouco em dizer não ter pretensão, mas só um pouco) afinal Fernando pessoa já nos ensinava, o poeta é um fingidor, porém o pior de tudo é quando você se torna o alva da própria mentira, o quanto isso o destrói, ainda que soubesse que era proibida pra mim, tentei e isso é mostruoso, pois sei que és feliz e não tenho o direito de tirá-la a felicidade. Não sou como esses cantores medíocres da atualidade que dizem que só pode ser feliz se for ao seu lado, eu não tenho tal ilusão, por que o tal que já se encontra a faz. Mas eu quero continuar acreditando sobre tais circunstâncias que um dia encontrarei alguém como você, que seja livre como um pássaro em busca de um galho a fazer seu ninho, em busca de braços que lhe possam abrigar. Eu quero uma cópia que seja exata a você, esse jeito protetor, de não deixar-me à atravessar a rua, ou correr na escada, ou no metrô não segurar no apoio. Instinto proteção, só dados a mulheres de aço. Mas o melhor não é isso, tal sorriso que traz estampando no rosto, que vê graça na mais boba anedota. Faz no coração estremecer como o estômago peristáltiar, e isso e sublime essa alegria que contagia me torna alado, e vivo a me ver sobre as nuvens como um pássaro em busca da primavera, ou como uma águia capaz de planar o céu. Que o universo por meio do dedo de Deus possa fazer uma outra que contenha todos os traços imperfeito da perfeição que só você tem. Tal beleza shakespeariana que não impacta o olhar, mais seduz o coração do mais bruto dos homens. Pior tipo de beleza, pois nós tira a força, não nos deixa dormir, não nos deixa olhar para outra mulher nem por um instante de vão descuido. Encantamento que perdura pelo finito da eternidade. Oh amada bela, se cometi eu um crime, o crime foi a paixão que a todos traspassa, sem ar de clemensa ou compaixão. Que você possa perdoar-me por desejar-te tanto assim, por vezes perder o controle de mim, por ver em teu sorriso a luz do Sol, em teu semblante a lua em meio ao céu estrelado de uma noite de verão. As palavras ainda me vem a mente mas preciso acabar este poema, caso contrário não pararei de desejar-te.

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia o pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.

Soneto 18

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

A VIDA É SONHO

É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.
Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.

Desespero
Certo dia de inverno, de uma manhã escurecida.
Toca o meu telefone, ao saber era um amigo.
Venho para aliviar, o que estas a procurar,
Saibas que desta inercia eu lhe velho tirar.

Ao ouvir essa noticia não sabia o que fazer,
Pois já há muito tempo estava eu a perecer.
Por muito não acreditei, achei que fosse brincadeira,
Ao chamar quem me indicas, trás consigo uma beleza.

Foi em uma segunda-feira, véspera de feriado,
Que ao cruzar teu caminho, fiquei enfeitiçado.
Não sabia o que dizer me fugiram as palavras.
Ao cruzar aquelas pernas me deixas-te arrepiado.

Foi então que me disseste, retornarei o contato.
Não podia acreditar no que estavas ouvindo,
Achei que fosse um desvario deste pobre menino

Foi então em uma sexta, já de sol a brilhar,
Que o meu telefone voltou a tocar;
Era ela me dizendo, tu começas na segunda.

Fiquei então estarrecido mal podia acreditar.
E a segunda-feira eu estava a aguardar

Foi então que comecei um trabalho sonhador.
Ao lado de uma donzela de sorriso encantador

E o fim dessa história não retrata esse poema.
Pois perdi aquele emprego e a mulher que mais queria.

Mas não me dou por vencido,
Sou um jovem sonhador.
Vou olhar o teu retrato. Até quando lá no além,
Farei eu um pedido ao senhor,
Deixe me voltar na história e reviver este momento.

Os indivíduos se perguntam, quem eu sou? Mas esquecem de perguntarem de onde eu vim, não percebem que para sabermos quem somos, precisamos saber de onde viemos; Se do macaco apenas mais um.