Coleção pessoal de teretavares22
As vagas travestidas sob a derme, entranhadas na carne, não se esgotam no engano. Do torpor que obstrui os meus passos, replica-se uma agulha dessecada pela chaga inconsumível, sorrateira como as leoas que não declinam da caça, mas fogem atentas às abnegações que lhe são próximas.
É na rotina que se obtém o atestado da dedicação pura.
De Campos errantes, livro!
A inteligência artificial não acabará com os escritores e escritoras. Pode haver imitações, nunca a literatura em seu estado puro e criativo.
A maturidade não é gratuita. Não me sujeito a modas ou cânones que considero inapropriados. Sou dona de mim e da minha vida.
Há que desvencilhar-se dos ditames externos ao nosso ser.
Não seria justo ultrapassar o tempo a nós destinado sem alguma, ainda que mínima, contribuição para nosso próprio aperfeiçoamento e, com alguma sorte e total desapego, estendê-la ao próximo.
Uma pessoa aparentemente feliz. Talvez lhe faltasse autoestima algum amor. O sorriso em desalinho. Os maltratados dentes. Soube-a imediatamente ao conhecê-la da sua solidão agravada pela dedicação à casa decadente e adoecida antiga como a sua disposição para buscar uma saída mais honrosa e vivificante. Desilusões ao longo da vida não deveriam servir aos desânimos ou aos desestímulos. As unhas por fazer as raízes brancas nos cabelos. A maquiagem avessa. A tez seca. Queixas esquecidas. Roupas sem uso. Puídas. Abandono de egos e vaidades. As agulhas ímpares e branquíssimas como se entremeadas por fios de caramelo. A cabeça nas nuvens só para destoar dos amanheceres e crepúsculos mais ardentes. As choupanas que visitara numa juventude passada. Machucada de lua. Não aprendera sobre as perdas. Que só os que sabem do desapego conservam a dignidade e resistem.
Levou consigo as petúnias que um dia se abriram e logo murcharam. Levou a neblina o pretenso braço desguarnecido de euforia e sobretudo capturou o que não foi nem inventara e tampouco fez de conta que eram contas silenciáveis. Deixou somente um fio contrastando com a erosão para não ser totalmente estéril e ouvir em sua quase declinação. “Não seja um inseto dos destinos. Foi brevíssima e dúctil a docilidade com que numa farta ironia satirizou a indumentária como um lapso mordaz. Não me sobrecarregue com adjetivos como se fossem graças disponíveis em que não mora nenhuma gramática. Nesse quase mensurável êxtase aceito que partas sem partilhar-me silêncios ou livros ou cetins. Sou dos cortes não cerzidos mas polidos pela simbologia pelo gesto isento de tragédia. Sou uma concepção atípica um cajado sem declínios”
Uma guerra em que não se ouve estrondos de bombas ou disparos de armamentos pesados. Mas das assustadoras sirenes das ambulâncias. O esquecimento engole velozmente a sucessão das mortes. As estrelas são as estatísticas. O silêncio pesa em todos os espaços. Sem passos o ser humano obriga-se a deter-se de forma inimaginável ante a sua natureza. Via dolorosa. Lumes vagam na escuridão narrada prolixamente. Extraio o sumo. Sumindo. Numa não soma. Vejo sobre a areia restos de festas. Do mar retorcido pela aridez cresce uma voz de fúria. Da profundez da Terra um organismo invisível avança multiplicando-se exponencialmente. Ninguém percebe seus sintomas. Sua necessidade de instalar-se e manter-se vivo. Toda a humanidade é punida. Haverá maior consciência enquanto se fala tanto em resiliência? A Terra necessita renascer. E age certo por vias holísticas e desconhecidas.
Credo nei fiori anche quando non c'è primavera. Sento tutto il mondo in un fiore, tutta l'umanità in un'anima.
Creio nas flores mesmo quando não há primavera. Sinto o mundo todo numa flor, toda a humanidade numa alma.
É na tinta e na tela e no papel e na palavra que destruo a nostalgia e alargo os olhares. É essa mãe chamada Arte que me rouba o tempo de chorar.
Há Aqueles que veem somente o corpo.
Porque perdidos da alma.
Do mundo. E do mundo da alma.
Os abissais. Os fatiados e fatídicos. Aqueles.
Há coisas que permanecem, para sempre, inexplicáveis. Como só o silêncio fundo e palpitante dos rios.