Coleção pessoal de tatifera
O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse.
Brasiiiiiiillllll
Todos os peixes e pássaros
Dançam iluminando meus olhos
As corujas da noite
Os abutres com asas ávidas
Os galinheiros produzindo em série
Fartam a mesa de estrangeiros
E os meus olhos iluminam um cotidiano do avesso
As misérias
As favelas
O menino encardido
As mãos pedintes
Turvam a minha visão com sangue
A mulher caótica
Noite à dentro
Desfia filhos quatro por quatro
O lixo publicado
O arroz com feijão sem prato
A casa sem esgoto
Diante destes meus olhos impudentes
A raiz antiga
Digerindo a mesma ambição
Do rico cada vez mais rico
E do pobre iludido
Cavando a terra que não lhe acolherá
Nem o redimirá do sofrimento
Com olhos da indiferença
A palavra vendida como remissão
O pouco caso
A víscera exposta no ensino
O sino
O sino sem destino
Das religiões enganadoras
Sem olhos que as condenem
O serviço mal remunerado
A educação enfastiada
A violência estimulada
No breu
De olhos indiferentes
Esses focos de encenação
Congressual
Judicial
Invertem o homem que quer pão
E só recebe pão
Pão/pão seco
Sem remédios para curar seus olhos em chagas
À vista das lavouras do entretenimento
Os privilégios enganam
O peão sente-se também dono
Nas novelas
E encolhido vê o filho morrer de tiro
Os ovos
As asas
As pessoas
São miragens sem sentido
Distribuídas ao arbítrio desses poucos
Que conseguem enxergar o mundo cor de rosa
Sem amanhã meus olhos estão fechados
Não respiro
Não amo
O veio foi coberto
O mistério é incompreendido:
Quem pode viver sem estar vivo?
Postado por milton às 08:32
Louvação
A mulher na nuvem
Mulher parideira de antanho
O corpo libidinoso da mulher perquerindo sua odisséia
Mulher enfeitada voa com seu perfume
E fuma
E bebe sua graça ou a desgraça
Mulher deitada
O ventre que convida
O ócio de quem é amada
A cor de quem cativa
Mulher debaixo das paredes
Ao sol de todos os anos
Víbora
Meu anjo por segundos
Mulher irreprimida
Ave de asas cortantes
A mesma de antes
A mesma no sempre
Mulher de veludo
O poro
A lua
Mulher sol e lua
Mulher entre sonhos
Mulher mulher mulher
Hino
O vasto acumular de espantos
Grito
Dengue
Mulher de todo o sempre
Nas nuvens
Na cor dos meus sentidos
Mulher dos olhos
Explêndida
Mulher mãe do mundo
Deste e de outros mundos
Doce como um favo
Jardim
Abelha...
Falido!...
Sem potência o falo rumina
Abaixa a cabeça e confessa-se inútil.
A mulher sequiosa lambe-lhe horizontalmente,
Solta suspiros de desdém e súplica, mas nada acontece.
Após a tortuosa tempestade
Os corpos gastos pedem socorro;
Ela parte em direção a um monumento
Ele encolhe-se em concha pedindo solidão!
Longe...
Mais que o silêncio impões distância
Mais que distância pregas sossego
Mais que sossego clamas por fogo
Mais que o fogo só tua indiferença...
sem culpas
Nunca renegarei quem foi...
...Meus dedos obsequiosos...
Eu estava triste, mas li alguns livros...
Eu estava tardio,
Mas li versos de amor.
Nenhum homem pode trair em publico
Nada pode resistir um lamento.
Escrevi uma carta
Revi os amigos
Refiz os meus projetos esquecidos.
Nadei sobre a culpa
Bebi teu leite no azul dos meus sentidos.
Quem voa sabe mais de quem rasteja?
A luz deu sede aos poucos escolhidos.
Vinte e quatro horas por dia
Saem de tudo para abrigarem-se nas sombras.
Saio de tudo para ser ouvido
Por todos os que não fazem mais sentido!...
OLHOS
O fundo dos teus escassos olhos
Olham-me sem brilho
Vertem uma fotografia esquiva.
Os teus olhos mal me olham
Saem das orbitas
E dançam escabrosos em procissões sem passos.
Esses teus olhos
Magoam-me com a brisa da manha
E apaga o meu sorriso no inicio da noite...