Coleção pessoal de tassiobarreto
É 10 tarefa de melancia doidcha vea
Era época de fartura no sertão da Bahia, o recém inaugurado Perímetro de Irrigação de Mirorós em Ibipeba trazia ar de esperança aos sertanejos e a melancia era a fruta da vez. Enquanto irrigada, era grande, doce e o melhor, tinha preço bom.
É nessa condição que um velho trabalhador rural arrisca e investe tudo que tinha em 10 tarefas de melancia em um lote irrigado.
Começa o plantio... plantação verde que é uma beleza, os “coco de melancia” se apresentavam logo depois e o vei era só animação. E para completar, “tome subir” o preço da melancia.
Todo canto que chegava esse vei falava dessas “10 tarefa de melancia”. Alegre e satisfeito com a situação.
O tempo foi passando e o ciclo da produção foi chegando “na metade”. O plantio era uma beleza, mas o preço... a partir daí começa a despencar como umbu maduro em época de “inverno bom”.
Como dizem que “incutido é pior que doido”, o vei começa a “incucar” com a situação quando ver o preço da melancia baixar e todo canto que chegava falava como uma matraca:
_ É 10 tarefa de melancia, é 10 tarefa... é 10 tarefa!
A situação piorou quando o vei percebeu que a colheita das melancias não dava nem para pagar as despesas. Ai o vei endoidou de vez!
_ Ô jesus, tenha piedade de mim, é 10 tarefa jesus, é 10 tarefa de melancia.
No meio desse “muído”, com tanta “incutição”, o vei travou e num deu mais nada com sua vea. Uma impotência daquelas.
E ai o tempo foi passando e a vea foi coçando, coçando e o vei nada, nem futucar, futucava mais. Ai chegou um dia que a vea num aguentou na madrugada, futucou o vei, alisou e disse no pé do seu cangote com todo carinho.
_ Ô vei, nem uma chupadinha vei? Nem uma chupadinha?
O vei incutido, doidcho e bruto, saltou no meio da noite e respondeu.
_ Ô DOIDCHA VEA, É 10 TAREFA DOIDCHA VEA, É 10 TAREFA DE MELANCIA DOIDCHA!
"Menina, lindos olhos tem seu rosto. Ricas faces para mim ver. E as delícias da sua feição menina, é quem me traz para você.
Fui a cadeia cupida, saber da minha prisão, por isso peço compaixão por me ver padecer.
Porque lindos olhos tem seu rosto e ricas faces para me ver.
E as delícias da sua feição menina, é quem me traz para você.
A vida urbanizada
Urbanizaram a vida,
Passaram asfalto nas bordas,
Depois furaram para pôr a rede de fluídos
E depois, mais furos para a rede de conexões
Fecharam com mais asfalto
A vida ficou assim,
Cheia de redes, mas vazia, perfurada
Redes onde tudo passa
....e nada fica.
Do que adiantam as mil conexões, se não sobra nada?
Acaba energia, acabam os fluxos.
Em dias de muita chuva, as águas lavam a alma...
A alma dessa vida que já não tem mais nada
De verde, de azul, de vermelho-rosa.
Foi-se a essência,
O natural agora é o cinza, e o passo rápido.
O susto do desconhecido que cruza a esquina à luz do luar da meia-noite.
Cinza, branco, preto, frios e cálidos.
A vida urbanizada, cercou de grades a inspiração e a leveza.
A tranquilidade e o amor já são desconhecidos...
Mendigos a mendigar atenção...
Uma vida pobre e solitária.
Relações de trocas, só monetárias.
Acabando-se esse fluxo, acaba-se essa vida.
A vida urbanizada é a evolução da irracionalidade,
É o contrassenso da natureza humana,
É a marcha ré da ontologia da vida!!!
Por onde podemos começar a desmatar a urbanização?
[...] fugindo, vou embora para Pasárgada.
Escrito na primavera de 2014, em dias urbanos e cansativos.