Coleção pessoal de Shirley-Cavalcante
MÃE
Uma mulher me esperou por nove meses, por que acreditou que eu era um presente divino! Ela nem sonhava com os transtornos, aborrecimentos, e também as alegrias que lhe proporcionei.
Deu-me sua juventude, sua beleza, todo o seu viço, de tanto se preocupar e cuidar, daquele que nada mais era que uma vida, que ela acreditava ser sua. Mas dela não era, e foi graças a ela que esta vida frutificou.
Tenho marcas na alma das vezes que eu não a compreendi, o seu excesso de zelo, e o seu enorme amor, pois para ela trava-se de uma extensão de si.
A vida foi passando, eu seguindo a minha e ela sempre me esperando, com uma palavra, um sorriso, uma visita, enfim um gesto de carinho e de compreensão.
Hoje sou um homem maduro, e minha vida é com ela, não que isto tolha a minha liberdade, mas, na verdade, completo o meu ser, e na sua velhice aprendo com sua sabedoria!
Todo dia colho uma flor no jardim da vida, que levo para dentro de casa para alegrar o nosso lar.
Sei o quanto ela não dormiu preocupada nas noites que dormi fora, nas vezes que teve que me amparar dos problemas que criei hoje tais lembranças são motivo de risadas.
Um dia dei uma chance a mim, e ao fazer isto transformei minha mãe em mais feliz, passei não só a comungar problemas, mas alegrias também!
COMUNICAÇÃO
Às vezes, me pego a pensar sobre a dificuldade de se comunicar. Sou escritor, e o escrever não é um fim, mas um meio, uma forma de falar. O importante é dizer as idéias e o objeto pretendido, já a forma com que faço: sou eu!
Procuro ser simples, não procuro me revestir da autoridade por muitos pretendida, por isto meus textos são datilografados, e não aos garranchos, nem utilizo palavras meramente difíceis, algumas incompreensíveis, para me revestir de uma autoridade que nunca pretendi ter.
Procuro achar nas coisas simples a razão do meu comunicar, utilizo palavras simples para me retratar, assim sou eu!
Antes de escrever me lembro de um discurso de um político de uma cidade de interior, que como não tinha o que dizer, abriu o dicionário e recheou sua fala de palavras difíceis de impossível compreensão. Foi aplaudido, e então? Deve ter ganhado a eleição, pois o julgou o mais preparado. O que construiu? Um nada como sua fala, só aumentou seu patrimônio pessoal.
Quanto a mim, o que pretendo?
Que me entendam! Não só o que tenho a dizer, mas a forma com que sou!
CARTA DE CONSELHOS A UM CANDIDATO
Caro candidato à presidente,
Quando tomares posse, não se esqueça de tirar as suas fotos com a faixa, pois este vai ser o ato mais público, apesar de privado, que participarás. As fotos serão espalhadas aos quatro cantos do país, as outras aparições que acontecerem, não terá o mesmo impacto, e serão sempre acompanhadas de notícias, que alguns aprovam, mas nem todos.
Lembre-se que estará assumindo um Estado, onde há muita gente que sabe o que fazer, e o que menos sabe agir é você. E poderá se perder em detalhes, o diabo mora nos detalhes, então se limite a ser figura de proa, representante político da nação, e deixe a parte administrativa aos funcionários públicos, que já fazem isto há muito, e sabem como fazer.
Seja feliz com o salário e vantagem do seu cargo afinal concorreu para isto, e só para isto. Não venda favores para enriquecer mais, pois já terás uma boa aposentadoria depois, e é melhor deixar um legado de um político honesto, que perdurará por gerações, do que dinheiro que logo acaba.
Na escolha de seus assessores, esqueça a política e pense administração, as duas não se misturam como água e azeite.
Faça isto e serás feliz, honrado e sempre lembrado, como quem honrou seu nome, o cargo e a pátria.
TITO
O SER MULHER
O ser mulher é transitar entre opostos sem se arrepender. Ela precisa de seu corpo para atrair ao outro e filhos terem, que na gestação destes, põe todo o seu corpo a perder, e ela pacientemente, com uma alegria sem igual, que só a maternidade pode trazer, cuida de mais um ser, visto que de um ela já cuida, aquele que o filho ajudou a ter. E com a paciência incrível da insegurança de dois, que agora dependem dela, transita entre o ser e o não ser, pois é mãe de dois e amante de um, e um lar ajuda a manter.
O homem no auge da sua estupidez a uma mulher procura compreender, não há de se pensar em entender, e sim e aceitar, amar e assim conviver. O mundo para ela tão real, é para ele totalmente impensável, se o entende sem sentimento, jamais procurará saber os detalhes que aquela guarda no íntimo do seu ser.
Na estranha estupidez masculina, ao que não entende procura dominar, e não aceitar, e cheia de atos de violência à história feminina é contada em todo planeta. Agora se deu a ela um dia, quem a nós nos dá a existência, é muito pouco um dia para retribuir, mas deve ser então apenas para lembrar, homenagear e conscientizar.
Mulher, a sua parte na criação está a fazer, cabe a mim o mínimo apenas enaltecer, e minha forma de fazê-lo, é usar meu texto para conscientizar.
Site do escritor
http://www.titolaraya.com/
SOBRE O ESCREVER
Nem tudo o que se faz deve ser solto aos quatro ventos, alguns detalhes e fatos da vida devem ser guardados no maior sigilo, este é o grande desafio do escrever!
Não que eu acredite em inveja que de per si destrua coisas boas, mas em pessoas invejosas que conspiram contra o feito, para o bem executado transformar-se em mal feito.
O mal sempre trabalha nos corações frustrados dos que não fizeram não no intuito de criar forças e condições para construir, mas para destruir o que já existe.
O sigilo é um lema a ser seguido para ser bem sucedido, pois uma idéia deixa de ter dono quando se torna pública.
Ainda mais há a grosseria de proferir palavras sobre atos indizíveis, que por si só deveriam permanecer ocultos.
Lembro-me o ensinamento de uma amiga que ouvi proferindo ao seu então namorado:
“Fulano, comer e arrotar não é feio?
É uma profunda falta de educação e grosseria, disse ele.
Sexualmente falando: também, querido!”
UM CONVITE PARA O FUTURO
Era a primeira vez que a via, e presenteou-me com um belo decote. Os meus olhos perdidos no colo dos seus seios imaginavam a razão de tão nobre gesto.
Primeiro sonhei com seus seios, com a forma com a beleza, mal sabia ela o quanto isto me atraia.
Concomitantemente pus-me a sonhar com a fonte de prazer que eles me proporcionariam, e a fonte de vida que eles eram.
Pois são eles que nos meus momentos de angústia e de tristeza que me acalmarão, reconfortar-me-ei e arrumarei forças para enfrentar as auguras da vida. Será ela a primeira visão que dela terei quando quiser lembrar-me dela, e são deles que o meu rebento com ela irá arrumar forças, quando pequeno, para enfrentar a vida, assim como o pai o faz, este mesmo que sonha com o que será.
Admirar a feminilidade é um convite para o futuro, um porvir de felicidade, uma certeza da imortalidade, pois será no filho que virá que me perpetuarei.
Já o faço no que escrevo, mas eles continuam a ser fonte de atração, um convite para o futuro, um sonhar com o que será um querer se perpetuar.
O ANO NOVO
Um dia, há muito tempo, sonhei que o criador havia retirado uma pena de uma asa de um anjo, e havia me dado.
O que fazer com uma pena de anjo?
Lembrei-me que as primeiras canetas eram penas molhadas em tinta, e aí me pus a escrever.
Comecei a escrever sobre o que me vinha à mente, e pude ver que os meus textos, que eram momentos de reflexão, estavam modificando e melhorando a minha vida.
Segunda etapa foi divulgar o meu trabalho, hoje sou escritor!
A partir daquele sonho reescrevi minha história sobre o que já era, e tracei as linhas do que será.
Foi o começo de um ano, que passava sozinho, que havia trocado a bebida e a alegria transitória, por uma reflexão do que foi, e sonhar com o que será.
E o futuro apresentou-me brilhante, como nunca havia sonhado. Uma nova etapa da vida surgiu em mim.
Faço a todos um convite neste ano: “Procurem no passado a razão do que se foi, e tracem para o futuro o motivo do que será. Troquem a alegria esfuziante sem razão, por uma vida mais profunda com razão, e a felicidade dos pequenos atos, encontrarão então.
CÓDIGO DO SER
No meu convite de formatura existe a Declaração dos Direitos do Homem, uma beleza!
Segundo esta carta magna todo ser humano vivo neste planeta tem direito a todos os direitos ali escritos, segundo esta todos os direitos serão protegidos, e o Homem será em si na sua plenitude.
Eu sou Homem, advogado e defendo esses direitos por profissão e sacerdócio, mas como ser humano sabe que os direitos que afligem ao cidadão jamais foram escritos em carta magna alguma.
Visto esta brilhante exposição de motivos, resolvi escrever o CÓDIGO DO SER!
Todo homem tem direito a amar, de forma livre constante e sincera, sob pena de que se não o fizer, se embrutecerá e não mais será humano.
Todo homem tem direito a questionar, a si, ao mundo, a tudo, se este direito for violado, perde-se o livre arbítrio, e o homem jamais será ele mesmo.
Todo homem tem direito de chorar, de alegria, de tristeza, de emoção...
A inobservância deste direito levará o ser humano à tristeza de não saber chorar.
Todo homem tem direito a sorrir, do mundo, de si, da vida, de seu semelhante...
A falta disto o tornará maçante.
Todo homem tem direito a acreditar, se não o fizer tornar-se-á angustiado.
Todo homem tem direito a ter dúvidas, de si, dos outros, de tudo...
Se este não souber duvidar, jamais saberá acreditar.
Todo homem tem direito a errar, pois o reconhecimento disto lhe trará paz.
Todo homem tem direito a sonhar; pois sem isto a vida perde o encanto.
Todo homem tem direito a se contradizer, para que possa achar o melhor caminho para a felicidade.
Todo homem tem direito a se revoltar, pois sem isto se abafa parte de si.
Todo homem tem direito a sofrer em paz, pois a dor do sofrimento de hoje, constrói a alegria do amanhã.
Todo homem tem direito a ter medo, por que se o tem do desconhecido, e a falta deste implica na ilusão da onisciência.
Todo homem tem direito a perdoar, a si, aos outros, ao mundo, pois se não puder perdoar, não poderá ser perdoado.
Todo homem tem direito a falar, de suas virtudes, seus defeitos, de si, enfim, com sinceridade. A falta deste direito levará a incompreensão de si.
Todo homem tem direito a ter fome e sede, de amar, de viver e de conhecer, e a falta disto o levará a morte.
Todo homem tem direito a compreender, a si, aos outros, ao mundo, se tal direito for usurpado, será infeliz.
Todo homem tem direito a ser feliz, e para tanto se faz mister, que os direitos explícitos nesta carta não sejam violados.
Todo homem tem direito a ter paz, e para tanto é necessário: “O reconhecimento de seus direitos e de seu semelhante”.
O PATINHO, FEIO!
Era a primeira vez que ele entrava em uma roda de poker, dinheiro tinha as pencas, era o suficiente para o final de semana, poderia sair com a namorada, ir a um cinema, teatro, jantar e tudo o mais. Estava bem fornido, e aquela noite que ambos sonhavam, e que já havia tantas vezes se prometido, até a decisão dela, estava marcada para o dia seguinte, ela teria prova na universidade, não iriam sair, e tudo ficara adiado por vinte e quatro horas.
Um pouco possesso, um pouco desiludido e se sentindo só, saíra para jogar com os amigos, ela havia concordado nisto. Entre risos e sorrisos seus companheiros haviam lhe dito que iriam jogar a leite de pato, lhe pareceu ofensivo, mas não sabia o que era então foi logo que pediu para ser a dinheiro, afinal isto ele entendeu as palavras, e gostava de decidir e fazer sobre o que entendia, mas seu orgulho lhe impedia de perguntar sobre o que não sabia.
As cartas iam e vinham, com as apostas; algumas vezes ganhavam, outras perdia, mas não se preocupava, havia guardado no outro bolso o dinheiro da noitada, e jogavam apenas o resto do seu salário. O patrimônio dispunha oscilava conforme, seu pai dizia as cotações na bolsa, mas o jogo era outro...
Moral da estória terminou a noite com o dinheiro da noitada, e uns poucos caraminguás que lhe sobraram para passar o mês. Até aquele momento, sobre o calor do jogo, não havia percebido o drama, a tragédia que havia se metido, só agora, só no seu quarto, é que tinha a sensação da encrenca que havia entrado.
Pensou em não pensar nisto, mas o porvir não lhe permitia. A única forma de passar o mês era abrir a mão daquela noitada, ou contar a ela...
Não poderia imaginar, que mesmo se ele abrisse mão, ou adiasse tão esperado evento, ele teria que explicar o porquê, o desmascarar sem razão iria levá-lo a complicações maiores, do que ele poderia imaginar.
No dia seguinte, como havia pensado desmarcou o evento, e como única razão foi: a falta de dinheiro. O que Lee não imaginara é que ela se recordava que dois dias antes ele havia recebido.
O clima foi horrível, teve que explicar o inexplicável; ela pôs em dúvida tudo, sua fidelidade, sua honestidade, até sua masculinidade, um caos! Preferiu brigar a ter que se humilhar perante ela, só que ele não esperava a longa semana que viria.
Foi horrível, não teve com quem falar seu carinho não recebeu, e tudo foi com um gosto amargo na boca, de que o culpado de tudo isto era exclusivamente ele. Isto chegou quase a um delírio, mas conseguiu marcar de falar com ela.
Ele cabisbaixo, ela ainda maluca de ódio do ocorrido, ele ia a seu encontro, e sua autocrítica era tão grande, que do piscar do sinal de seta do carro à frente ouvia: o-tário, o-tário...
Decidiu, encontrou-a e contou tudo a ela, ela só disse: que feio, patinho! Doeu na alma, mas a ela não perdeu, e aquela noite esperou o mês que vem, e, lógico: sem poker!
A FIDELIDADE
Ouvimos muito falar em ser fiel, animais são mais fiéis conosco do que nós com eles, por que a forma da criação é a fidelidade.
Muitas vezes nos perguntamos por que ser fiel?
A fidelidade é a forma de preservar relacionamentos, sejam amorosos, afetivos ou comerciais. Para termos um relacionamento temos que fazer investimentos, em nós e no outro.
Quando não agimos com retidão desprezamos todo investimento feito anteriormente, nossa consciência chama-nos atenção, criando conflito, pois existe uma diferença no que queremos no que investimos para acontecer, com o que fazemos.
Em conflito, de uma forma imperceptível, criamos uma confusão entre nossos planos, e nossos medos e paixões. O resultado disso é várias atitudes inconseqüentes que comumente são chamadas de burrices, e não vemos que estamos prejudicando a nós mesmos!
Em suma, ser fiel é a forma inteligente de viver, é quando o dia a dia constrói o porvir, onde os conflitos não andam soltos por aí, é onde nossas perdas não se revestem da nossa responsabilidade, em suma é o sempre viver com tranqüilidade!
MINHA MADRINHA
Ela sempre me ensinava que não devia aceitar a responsabilidade de fazer algo, que não fosse capaz de desenvolver. Algo que estivesse além de nossas forças, e o gozado, muitas vezes me pegou fazendo castelo de cartas de sonhos, sem saber que na primeira lufada de realidade tudo iria a chão, e aquilo que era realidade, não passava de mais nada do que ilusão, então só restaria estórias para escrever
Até hoje não sei se escrevo poesia, verso, prosa poética ou o que, só sei que sou um poeta, pois vivo com um pé na realidade, outra na ilusão e a cabeça buscando a perfeição.
São curtas e pequenas minhas estórias, um pouco intensas demais, pois levam a pensar em tudo que está aí, e muito mais... Algumas vezes no que serão outras no sentir, questiono a mim e a vida, pergunto-me não se é sofrida, mas se é bem vivida. Está no meu escrever a razão e o fim do meu viver, sei que não escrevo poesia, mas pura filosofia, esta que um dia me disseram ser a ciência tal, que o mundo sem a qual, viveria tal e qual.
No começo gostei da frase, mas não gosto do sentido dela, e vi que tinha que construir não mais um castelo de sonhos, mas uma casa, cujos tijolos fossem palavras, que exprimissem sonhos, desejos e ilusões, analisadas pelos sentimentos e pela razão!
No começo procurei assunto, achei que a solução estava no mundo exterior, na vida dos outros, no viver em sociedade, e outras coisas mais que são tantas, que me cansa até em pensar nelas. Hoje sei que a minha realidade está em mim, na minha casa, na rua em que moro, no meu pequeno mundo, que todo tem igual: aí sou universal!
Livros
Quem que na minha solidão me ilumina
Com idéias, frases, estórias que são a sina
De pensar, meditar, e a conclusão
Que leva sempre a uma grande iluminação?
Algumas vezes o meu ser atina
Em abrir a caixa de pandora que há em cada esquina.
É um livro essa maravilhosa invenção
Que a todos incomoda, agrada e leva a divagação!
Esses foram na minha infância os amigos que tinha
Hoje são a razão e o porquê da vida que me ensina,
Por isso escrevo página com dizeres acima
Sou amigo do Tito, do José e do João,
Aos homens nunca faço distinção,
Basta me abrir e páginas lerão!
O NATAL DA MINHA INFÂNCIA...
Minha avó gostava de ler,
Ao final da festa de natal, chamava os netos,
E a cada um dava um livro, investindo no que iam ser!
Não imaginava, que dentre todos havia um neto
Que devorava as páginas, sem perguntar nem ter
O porquê dizer, do seu amigo, que no Natal ia ter!
Este encontrava na palavra escrita o querer
Foi achar um dia a razão do viver!
Esta criança sou eu,
Que agora estou a escrever,
E o meu encontro com Deus
Deu-se nas páginas que me por lê-la
Desde a mais tenra idade, sem saber
Do rumo que a vida iria ter
E que escritor iria ser
E esta estória de Natal iria escrever!
EU GOSTO DE LIVROS
O homem quis criar a mais terrível arma para o mundo mudar:
Pôs palavras em um papel e a outros pôs a conhecer, então...
Com isso criou, filosofias, idéias e revolução,
E, além disto, várias religiões começaram a brotar...
Era livros esta tão terrível coisa que estavam a criar,
Construindo estava então, uma forma de ser com razão
Sem morte, sem violência, apenas idéias que são
A base de ideais, a quem se formam governos de todo par!
Essa em poucas linhas fala o que a escrita traz a pensar,
Formas de ser, e de pensar estão a divulgar
Em páginas de um livro, objeto simples sem par.
E ainda perguntam sem muita razão:
O que é que o homem faz sem divulgação?
Palavras soltas ao ar que se perdem então
A PENSAR
Muitas vezes me pego a pensar, meditando sobre as características do que eu era, e concomitantemente traço as linhas do que serei. O exercício do raciocínio livre, desprendido, sem necessidade ou praticidade alguma ao par, leva a uma reflexão mais profunda sobre o ser e o existir.
É como se vivesse em constante ato de amor, e nos intervalos dele escrevesse, é assim a minha existência. Depois de tudo ocorrido, do prazer sentido, vou colocar os frutos do meu viver; é para isto que serve o meu escrever.
Ao terminar de colher o fruto cabe-me ler e meditar, é apreciar o fruto da colheita, e este ato solitário me permite crescer, evoluir e caminhar na estrada que me leva à felicidade.
Valorizo os estados de espírito, as emoções, e as conclusões lógicas tem uma pitada de emoção e um tempero de realidade em uma substância que é puro sonho.
Destes momentos traço as linhas futuras do meu seguir, seja escrevendo, talvez melhor fosse dizer: vivendo.
Não preciso de muito, meu material é uma caneta, um papel e uma alma solitária que almeja caminhar rumo à eternidade.
Muitas vezes me pergunto como?
Está no meu escrever, no meu meditar, a solução para esta pergunta; afinal, procuro a consciência do ato, para ter uma forma livre de exercer o meu livre arbítrio.
O CAMINHAR
Eu tinha começado a andar rumo ao infinito com ela. Sempre de mão dadas, mal sabia eu, que não precisava estar junto, lado a lado, para sentir o apoio e a segurança da mão que ampara.
Tinha meus textos a escrever, sempre precisava de idéias novas, que nasciam do fruto da conversa com ela. E desses momentos de diálogo, apresentavam-se novas idéias, que não eram nem minhas, nem dela, mas fruto de um diálogo e se pode dizer: nossas!
O andar é dinâmico, envolve um caminhar feito de assuntos, algumas vezes conflitantes, que juntos chegávamos a uma verdade maior.
Eu ariscaria dizer que o caminhar é um equilíbrio dinâmico, feito de momentos de desequilíbrio, aí tenho uma mão que me segura, que não me deixa cair, e ela tem a minha também, pois a recíproca é verdadeira.
O caminhar é o viver, é a vida, o equilíbrio dinâmico é o próprio construir, enquanto o estático, o marasmo, a mesmice, representa a morte.
E um casal está unido para viver, para ver a vida brotar de seus atos, e juntos procurar uma verdade, cada vez maior, que é a razão de estarem juntos.
Muitas vezes, só, no escuro do meu quarto, eu penso: “Meu amor dê-me sua mão, eu amo longe, a miragem, vamos deixar nossos passos na areia inexplorada, tudo o mais, não vale nada!”
O ALMOÇO
Ela estava longe, e fui convidado para almoçar com um amigo. Mais do que depressa, aceitei, era uma diversão, uma distração, poder ver um amigo de tanto tempo!
No almoço, conversávamos sobre o perdão e a caridade, ele um judeu, eu um católico.
Jesus falava de perdão aos inimigos, e ele não via praticidade nisto, pois perdoar a um inimigo é como criar uma cobra em casa, mais cedo ou mais tarde ela vai te morder!
Contei a ele uma experiência minha:
Um dia me senti injustiçado, logo e princípio, como é normal, uma onda de ódio e de rancor tomou conta de mim. Era difícil conviver comigo mesmo com aquele sentimento.
Pensei em fazer meditação para dominá-lo, mas meu cérebro me levou a várias situações adversas do passado, todas parecidas, todas frustrantes, que expliquei o passado, mas não resolvi o futuro.
No dia seguinte resolvi ajudar a quem me deixava nervoso; uma onda de paz me atingiu, e por algum tempo o mal estar melhorou.
Mas ele voltou!
Fui ao meu canto, e só toquei violão, me veio à solução: era o perdão pleno, sem razão aparente, deveria subsistir apenas por si.
Quando perdoei, a paz voltou!
Pensei no que escrevera antes: “Pode ser que o outro não mereça seu perdão, mas você também não merece perder a paz”.
Era esta a solução!
Ao falar sobre isto meu amigo se calou, quis pagar a conta, e uma sensação de clareza e de luz, tomou conta de sua feição, e seus olhos se iluminaram.
Fui para casa com a nítida sensação de que aquele almoço valera à pena!
O FRIO
Este tempo frio e úmido me enregela os ossos, mas deixa-me feliz e contente. Vivo na expectativa do amanhã, do porvir...
Medito muito, penso mais ainda sobre a expectativa de vida. Queria, muitas vezes, que as pessoas dessem um tempo na sua vida para pensar, para raciocinar sobre o quotidiano, ao invés de viver por espasmos e em um frenesi alucinante a mercê dos acontecimentos.
Quem assim atua, desrespeita o livre arbítrio, que é o maior dom que Deus nos deu. Despreza o direito de escolher entre o certo e o errado, não tem consciência do ato, e culpa ao desenrolar dos acontecimentos às derrotas da vida.
O andar da carruagem se resume assim: se tudo dá certo, é conseqüência da enorme capacidade do indivíduo, no contrário, foi Deus quem quis.
Como se o viver fosse uma enorme prova que Deus dá, e os méritos coubessem apenas ao homem!
Não é bem assim! Se existe uma força maior que age no universo, e ela é justiça e amor, sua intenção é que todos sejam felizes.
A busca da felicidade é a grande prova que cada um tem que passar. Não a felicidade transitória de alguns momentos, mas de algo mais profundo que a própria existência, e na solução desta se resume a razão de viver.
Se pensarmos assim, concluiremos que céu ou inferno se resume a um estado de espírito, e o iluminar-se é preencher os vazios da alma, levando-a e a sua existência ao ápice da felicidade.
Muitas vezes há dúvidas sobre o caminho a seguir, sobre qual a escolha a fazer, e está aí a importância do livre arbítrio. Pois o estado de graça é o contato íntimo com a divindade de amor, de justiça e de paz, já a desolação é o viver na ausência da divindade, caminhando na aridez do deserto.
IDÉIAS
Uma palavra simples e que exprime tanto!
Aparentemente do nada elas vêm, brotam na mente de alguém, que sobre elas reflete e depois as transmite, e graças a elas se criaram impérios, ideologias, ideais, que muitas vezes levaram seres humanos ao ápice, ou ao sofrimento, ou até a morte.
Estes frutos da imaginação, da lógica e do sentimento, brotam, muitos acreditam que do nada, mas sempre há uma razão maior por detrás, que até quem as teve, muitas vezes desconhece.
Pode ser um ato, um fato, uma frustração ou uma inspiração!
Se elas existem apenas para fortalecer o ego de alguém, estão fadadas a uma avalanche de incompreensão, pois alguma das características mais ocultas de quem as teve, transparecem nas entrelinhas, levando a interpretações mais absurdas.
A mente humana e o inconsciente coletivo são como um lago. Suas águas são calmas, paradas, ninguém sabe quais os mistérios que elas guarda.
Uma idéia é como uma pedra lançada ao meio deste!
Ondas se farão da repercussão dela, que são diferentes dela, que poderão chegar à margem e votar ao centro do lago, entrando em conflito com outras ondas, e o que era calmo, tranqüilo, mas misterioso, torna-se agitado, assim como ficamos quando sentimos.
A idéia é a mola que propulsiona o desenvolvimento. Cria um novo equilíbrio, o que antes era estático, passa a ser dinâmico, ou seja, um equilíbrio construído da somatória dos desequilíbrios.
Esta é a razão que muitas vezes penso antes de escrever, pois serão idéias eternizadas na folha de papel, que em qualquer tempo, em qualquer lugar, alguém poderá ler!