Coleção pessoal de Samaa
Melodias desafinadas.
Um piano desafinado,
rústico,
mal-tratado,
odiado,
esquecido pelo tempo,
injustiçado,
porém, esplêndido.
Cada nota, cada tecla,
sussurra, grita, geme, lamenta, declara
filosofias, verdades, mentiras, qualidades, angústias e bravuras no interior de seus ouvintes.
Mesmo com seu desarranjo, ele ainda ressoa na alma daqueles que se permitem ouvir o seu canto.
Os seus erros o fazem pior do que um piano afinado?
Não; suas imperfeições é que o fazem esbelto.
Minuciosamente, entre todas as teclas brancas e pretas, mora um segredo.
Em meio aos sons sem sentido, há arte.
Em meio aos erros, há acertos.
Em meio aos sons vívidos, há o silêncio que faz parte.
Em meio aos desejos, há os medos.
Em meio aos dançares dos dedos do pianista, há sonhos que cintilam e brincam nos céus do consciente, assim como astros, assim como crianças.
Ignorantes são aqueles que buscam a perfeição,
ignorando os cantares e significados que desafiam e brincam com suas verdades.
Você realmente é tão ruim assim ou apenas não se permite apreciar o timbre de suas teclas desafinadas?
Um piano desafinado não deixa de ser o que é devido às suas irregularidades; são elas que o fazem único entre milhares.
As notas imperfeitas não o tornam desconforme; é a maneira como ele as maneja que o torna forte.