Coleção pessoal de RodrigoAndeiro

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O tempo certo nunca chega. Pois o tempo não é coisa que chega, o tempo é coisa que passa. Determinem vocês meus fracassos, minhas conquistas, olhem para mim e digam o quanto me perdi. Vocês nunca saberão o quanto eu me encontrei. Nunca saberão o quanto não sei de mim mesmo. O tempo não é coisa que se espera, o tempo certo é agora. Pobre de você que resolveu esperar… ainda há muito que se fazer, ainda há muito para viver, o tempo certo é agora e não chega, só passa. Viva esperando pelo que virá amanhã e você morrerá um dia antes da conquista. Espero apenas por aquilo que não pode se esperar para depois. Seja a cura da dor, a doença do amor, a volta do Salvador, a morte e a glória. São essas as coisas que valem esperar. O resto é se angustiar, o resto é não viver, o resto é se perder e querer a outro guiar, o resto é morrer sem saber. Pobre de você, que escolheu esperar.

Levo comigo, sempre, um retrato da infância. Há quem pense ser uma brincadeira minha, ou uma linha qualquer de um poema, mas comigo sempre levo um retrato da infância. Ando por muitos lugares e quando menos espero, lá estou eu em algum ambiente novo e retrato na mão. Não tenho mais pretensão nenhuma ao dar um passo. Antes queria conhecer o mundo, mas hoje se estou parado, é na mente que viajo, e seja onde for, levo comigo um retrato da infância. Um cara muito bacana eu perdi por ai. Me fugiu do olhar, juro que nem percebi… de repente senti falta daquelas tantas ideias, daquelas boas conversas, daquela risada gostosa, dele buscando abraços, dele chorando nos braços, dele amando sem medo, amando sempre sem medo. E o que restou dele é um cara estranho que mal reconheço… que anda pelas ruas com um retrato da infância.

O amorticida

Sem forças ele tenta seguir pela a avenida. Ameça levantar o pé esquerdo e quando levanta, nem imagina ele que atrás dele tudo para, mal percebe que adiante tudo também para. Para-se o transito, o ruído dos motores, os ciclistas também param. Para-se o beijo mais apaixonado, do mais novo casal da cidade. No meio da cidade, no meio da praça, no meio da gente ele passa e no meio tempo do seu passo cambaleante que mais lembra um bêbado sem graça, tudo que está por perto, todo ser que o avista de longe, tudo para. Quase se ouve ao fundo alguma melodia triste, mas misteriosamente, na metade do primeiro compasso, toda vontade de canção passa. Concluindo o movimento quase falso e totalmente inseguro do seu passo, o mundo tenta mais um giro, alguém ensaia um discurso, outro alguém bate palmas, copiosamente toda cidade, de forma discreta enxuga ao menos uma lágrima. Tudo volta ao normal e a banda fúnebre da cidade ensaia mais uma canção bonita. Amanhã de tarde, mais um homem, com aquele mesmo nome de sempre, com aquela mesma cara, quase morrerá de amor.