Coleção pessoal de robertocruz
O estudo de línguas, sobretudo de línguas antigas, constitui uma das mais perfeitas disciplinas do espírito.
Com a autoridade, impera a ordem; com a autoridade, aparece a estima, o respeito, a obediência; e fica possível a educação.
O que dá autoridade (ao mestre) não são os anos, nem a elegância do porte, nem o tom e o timbre da voz, nem as ameaças, nem até os castigos: é antes e principalmente a disposição inalterável de bom humor, a decisão inabalável e mansa, um modo de agir impregnado de bom senso e criterioso, afastado de caprichos e violências.
Amai a solidão e o silêncio porque favorecem a concentração, condição essencial para o trabalho sério. Para compreender e cultivar a verdade, é imprescindível desligar-se da multidão, fugir das conversas fúteis, das ocasiões de dissipações e da perda de tempo.
A modéstia é o caráter inseparável do verdadeiro conhecimento, da mesma forma que a autossuficiência e a pretensão formam o cunho especial da ignorância e da meia cultura.
Bendizei a Providência, meus caros amigos, se vos deu o amor pelo estudo. Ela dotou vossa alma de um título de nobreza. Não deixeis apagar esta chama preciosa, alimentai-a sem cessar pelo trabalho constante, por resoluções enérgicas e muitas vezes renovadas.
Por princípio, e com o fim de fortalecer em vós a constância, não deixeis perder nem um só dos minutos preciosos de que dispondes. Aproveitai-vos, como vo-lo diz o Pe. Sertillanges, para aprofundar uma idéia que vos passou pelo espírito sem deixar um sulco nítido, para consultar no dicionário um vocábulo ou uma expressão, para dar a última mão a algum trabalho escrito, assentar notas, classificar documentos.
O meio de avantajar-se na ciência, é concentrar demoradamente o espírito num assunto apenas. (...) Littré concentrou, durante largos anos, todas as suas faculdades à preparação do seu Dicionário. Empreendeu aos 62 anos, a obra que exigiria os conhecimentos de todos os membros da Academia durante uma geração, porque tal obra não é somente um dicionário da linguagem; encerra o histórico de cada vocábulo, a nomenclatura, a definição, a pronúncia, o significado, os sinônimos, as citações dos grandes escritores. Jamais um só homem produziu tamanha soma de trabalho. A obra foi começada em 1863 e os quatro volumes, somando um total de 3.000 páginas de três colunas, viram a luz em 1878. Ainda ficava para redigir um suplemento de umas 400 páginas cheias de erudição que ele completou a despeito de uma interrupção momentânea causada pela doença.
O Cardeal Guibert tinha também desde a juventude, em grau extraordinário, o amor aos livros. De família pobre, saboreava aqueles que lhe emprestavam, esperando algum dia realizar o seu sonho: comprá-los por conta própria.
Desde a mais tenra infância, Tomás de Aquino deixava de chorar quando se lhe apresentavam livros e manuscritos. Erasmo dizia na juventude: Quando tiver dinheiro, comprarei primeiro livros, em seguida roupas. Luís Veuillot antes mesmo de saber ler experimentava grande alegria quando era presenteado com livros. Consagrou os primeiros e magros recursos à compra dos autores clássicos nos alfarrabistas. Mais tarde quantas horas deliciosas não passou no cais do Sena, folheando livros curiosos!
O talento é amiúde um fator secundário no sucesso. Convencemos-nos deste fato ao ler a vida dos homens célebres. Todos, poetas, oradores, historiadores, filósofos, estadistas, foram sobretudo trabalhadores incansáveis, mais viris na labuta que os jornaleiros e operários; consumiam-se nos seus livros e afazeres como a lâmpada que presidia às suas vigílias. Foram vistos trabalhar doze, quatorze, dezesseis horas por dia durante largos anos. Antes da aurora levantavam-se; no verão, madrugavam mais do que a cotovia e quando o ceifador ia colher paveias, já tinha amontoado tesouros.