Coleção pessoal de riclajg

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Portador

Não sei o ano
Hora e lugar muito menos.

Vida,
Encarava-a diferente:
Ela brilhava...
Estrelas, danças e festas.

Agora
Tudo desabou.
Flutuo nas nuvens: o desespero, às vezes,
Quer tomar conta.

Portador
Da doença do silêncio,
Dos preconceitos,
Da ignorância.

Sarcorma de Kaposi,
Ritinite e todos os “ites”
disponíveis causados por
esse vírus tão destruidor.

Vive-se a síndrome do pânico.
Pandemia,
Medo,
Solidão,
Os amigos se escondem,
a maioria rejeita

Doente de AIDS.
Quando a dor é muito forte,
Silencio e seguro-me no leito.

Andar, já não posso,
Sonhar, já não posso,
Sorrir, já não posso.
Viver?
Até quando?

“A Aids é uma doença que pode ser evitada. O preconceito, atitude que deve ser exterminada.”

É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca.

Eu quero que mamãe me veja pintando a boca em coração
Será que vai morrer de inveja ou não
Ai, se papai me pega agora abrindo o último botão
Será que ele me leva embora ou não
Será que fica enfurecido será que vai me dar razão
Chorar o seu tempo vivido em vão

Criei barriga, a minha mula empacou
Mas vou até o fim
Não tem cigarro acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da venda
O que será de mim ?
Eu já nem lembro "pronde" mesmo que eu vou
Mas vou até o fim

Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo
Que eu sou professor

De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

mor, eu me lembro ainda
Que era linda, muito linda
Um céu azul de organdi
A camisola do dia
Tão transparente e macia
Que eu dei de presente a ti
Tinha rendas de Sevilha
A pequena maravilha
Que o teu corpinho abrigava
E eu, eu era o dono de tudo
Do divino conteúdo
Que a camisola ocultava
A camisola que um dia
Guardou a minha alegria
Desbotou, perdeu a cor
Abandonada no leito
Que nunca mais foi desfeito
Pelas vigílias de amor

Já gozei de boa vida
Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida
Roupa lavada
Vida veio e me levou

Ao povo nossas carícias
Ao povo nossas carências
Ao povo nossas delícias
E nossas doenças

Eu vou virar artista
Ficar famosa, falar inglês
Autografar com as unhas
Eu vou, nas costas do meu freguês

Lá no morro
De amor o sangue corre
moça chorando
Que o verdadeiro amor sempre é o que morre

Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom

Ela esquenta a papa do neto
Ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo teto
até que a morte os una
até que a morte os una