Coleção pessoal de ricardopinto
A metade do seu beijo
O corpo era desejo
Mas a alma, prisioneira
Eram metades
Desejando ser inteiros
Beijos quentes, incendiários
Mas pela metade
Meias entregas, meias conversas
Verdades inteiras que não venceram o que era metade
Uma meia história
Uma história sem meio nem fim
Só um começo inteiro
Um beijo pela metade
E a metade de um beijo
Metades
Tudo já foi metade
Meia luz, Meia taça
Meia volta, Meia Vontade
E volta e meia me perdia
As minhas loucuras
Nas suas curvas
Nas metades que me sobravam
Eu sempre voltava pela metade
Se poeta eu fosse
Por certo lhe diria
Talvez em prosa
Mas nunca em verso
Que o caminho do poeta é perverso,
Que o sentimento, hora derramado em poesia
É o suor de suas dores
Buscando pela analgesia.
Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer à tona o que o coração vive tentando deixar pra trás.
Gosto de olhar nos seus olhos, bem lá dentro, sabe?!
É um olhar que escancara a porta da alma
Revela um sentimento que não se acalma
Vertendo um brilho que insiste ocultar
A mais refinada doçura que me faz inebriar
Contrapõe essa força que ora lhe é exigida
Mostrando-se doce e também destemida.
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.
Nunca diga te amo se não te interessa.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por causa de ti.
A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você quando você não pretende fazer o mesmo.
CONFRONTO
Bateu, Amor à porte da Loucura.
Deixe-me entrar, pediu, sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu minha paixão
A Loucura desdenha recebê-lo,
sabendo quanto o Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo,
de humano que era, assim tão inumano.
E exclama: Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu.
Enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de amar.
AMOR E SEU TEMPO
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
Mesmo que o hoje te dê um não, lembre-se de que há um amanhã melhor. A certeza de que os nossos caminhos devemos traçar ao lado de quem nos ama, com amor, paz, confiança e felicidade, é a base para se recomeçar.
Um recomeço, pra pensar no que fazer agora, acreditando em si mesmo, na busca do que será prioridade daqui pra frente. PLANOS? Pra que os fizemos, já que o amanhã é mistério? A qualquer momento pode ser tempo de revisar os conceitos e ações e concluir que tudo aquilo que você viveu marcou, porém, não foi suficiente pra que continuasse.
As lembranças passadas ficam, tudo que vivemos era pra ser vivido, o destino é como um livro do qual nós somos os autores, ele não vem pronto, antes de nascermos ele está em branco, ao nascermos introduzimos as primeiras passagens, um começo. Com o tempo, através das escolhas vamos escrevendo-o página por página, rabiscadas, rasgadas ou marcadas, onde encontramos obstáculos onde indicarão a melhor hora pra recomeçar, nos últimos dias de vida concluiremos, e no final deixamos nossas histórias marcadas no coração daqueles, que sempre farão parte de nossa história, onde quer que estejam.
A Hora do Cansaço
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Lembrete
Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.
Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo filho da...
QUANDO AS ALMAS SE ENCONTRAM
Dei me conta do imaginário alcançado
Sustentado por sua doce presença
Esquadrinhei minha linha do tempo
Precedendo a sua personificação
Surgia por entre véus
Despontava na leveza de uma pluma
Brilhava num sonho adolescente
Alimentado pelo conto de quem me fazia fé
Cri na existência da alma gêmea
Amando-a desde sempre
Mas as estações rodopiaram
Sucederam-se procelas
E noites sem estrelas
Barco sem rumo
Fé a deriva
Fundeando porto franco
Mirei travessias
Busquei a maior aspiração
E encontrei mais, muito mais
Surgiu por entre véus opacos, em céu nublado
A pluma densificou-se, desmoronou
Mas uma pequena chama, ainda que sufocada
Perpetuava o sonho adolescente
E trazia o todo que não se espera, que não se imagina
Para renascer na maior de todas as auroras
Clarificando duas almas
Disfarçando-as em uma só.
Um olhar que transpõe minha alma
Um sussurro que acalma minha guerra
Ao seu colo deposito meus sonhos
E o meu último recomeço
Quisera ser a paixão primeira
E dar-te outra história
Mas consagro todo esforço para a transcendência
E lhe causar o grande enlevo
Se faço, é por ti e também por mim
És de uma beleza inquestionável, inspiradora,
O desenho raro, perfeito, absoluto
Que não se contempla, diviniza.