Coleção pessoal de retalhejar
Era uma espécie de bomba relógio. Eu não sabia o que vinha, não sabia no que ia dar, eu só desejava incansavelmente que desse certo.
Percebi que estava perdida quando todos estavam seguindo suas vidas, inclusive você. E eu era a única pessoa que tinha parado de viver.
Queria que soubesse que pela primeira vez em meses, sua mensagem não me causou arrepios. E foi o alívio mais gratificante que eu já senti.
Você tinha ido embora há muito tempo. Quando o silêncio se instalava pela casa e duas pessoas estavam dentro dela. Quando o coração não acelerava mais ao me ver e as conversas se tornaram curtas pela falta de assunto. Quando era mais confortável assistir um filme sozinha do que ao meu lado. Quando a rotina se tornou cansativa e a convivência se tornou monótona. Quando você preferiu se aquecer com o cobertor ao invés de me abraçar no meio da noite, logo você, que sempre me acordava na madrugada dizendo que estava com frio e eu, por minha vez, te colocava sobre meu colo e te fazia um cafuné até você voltar a dormir. Quando conversávamos sobre os planos, viagens… E sua empolgação não era a mesma de antes. Quando as declarações que antes eram enormes, se tornaram frases de duas ou três linhas. E, consequentemente, faltava animação em datas comemorativas. Quando não fazia sentido dizer o que sentia, pois tudo já estava perdido. É nessa parte que eu fico me questionando: onde nos perdemos? O que eu não fiz e deveria ter feito? E se eu fizesse, você ficaria? Tais questionamentos que faço todos os dias e sei que você nunca vai me responder. Justamente porque quando deixou de ser laço e virou nó, eu não pude segurar, era tarde demais e quanto mais eu segurasse, maiores danos seriam causados. Você tinha ido embora há muito tempo. Fui eu que não percebi.
Ligo o chuveiro e deixo a água cair sobre minha cabeça, isso me traz uma sensação de paz e renovação. Dez segundos depois, me sento no chão e coloco minhas mãos em volta dos meus ombros, como uma forma de consolo. O choro vem e com ele diversas lembranças do que foi bom e não vai voltar, nunca mais. E enquanto chove e faz frio lá fora, dentro de mim tudo é quente, tudo arde, tudo transborda. Coloco meu pijama, me enrolo em um cobertor e faço um café. Deito na cama e espero a noite chegar para poder pensar, no silêncio da casa. No dia seguinte, me levanto com um sorriso no rosto, tentando disfarçar qualquer tipo de olhar que me entregue. Tá tudo bem. Vai ficar tudo bem. Eu repito em pensamento. Mas dói. E eu odeio doer tanto.
Quando você perdoa alguém, você decide se quer que essa pessoa continue na sua vida ou não. Não há nada de errado em querer alguém longe de você sem ter mágoa ou raiva. O nome disso é amadurecimento.
Não chorei, não gritei, não implorei e não demonstrei o quanto estava doendo. Apenas fiquei em silêncio. Mas no fundo eu só queria dizer uma única palavra: fica.
O tempo é capaz de amenizar a dor e te faz parar de pensar tanto naquilo, mas o tempo não cura. Quem cura suas feridas é você mesmo. É acordar num belo dia e dizer: eu não mereço passar por isso mais uma vez.
Ninguém aprende a ser forte sem antes passar pela dor. E meu amigo, dói, viu? Como dói. E parece que a cada dia que passa, dói ainda mais. Tem dias que você sente que vai morrer, que o peito arde e a saudade é tanta que você pensa em ligar, mandar uma mensagem, ir atrás, gritar. E é foda. E depois que passar, vai continuar sendo foda. E daqui anos vai ser foda. É simples, não se apaga pessoas, você não finge que nunca conheceu e pronto. Ser forte é aceitar que acabou e continuar vivendo, porque a vida segue, de um jeito ou de outro, e você precisa se dar conta de que em algumas situações a melhor coisa a se fazer é deixar ir. Eu sei, é doloroso. Mas existe um mundo lá fora cheio de novas possibilidades e caminhos incríveis para serem conhecidos. Você é fraco se permitir que a fraqueza te consuma. Então segura as pontas e vai ser feliz, de cá, te desejo o melhor, é isso que pessoas fortes fazem.
Cuidadosa, protetora, chata, detalhista, observadora, dramática. Chame do que quiser. Mas de uma coisa eu tenho certeza: quando amo, é pra valer. Minha intensidade é gigantesca, e da mesma forma que sou intensa no amor, sou em perdas também.
Vou te contar algo sobre a vida: ela segue. Mesmo que você esteja psicologicamente destruído pra continuar.
Fico extremamente triste quando lembro que, por questão de detalhes, tudo poderia ter sido diferente.
Acorda. Levanta da cama cedinho. Olha o sol pela janela subindo sobre as nuvens enquanto o cheiro de café fresco se espalha pela casa. Liga o computador e faz aquelas atividades da faculdade que estão no limite do prazo pra entrega. Faça atividade física. Vá para um lugar arejado e tranquilo, deite naquela rede e leia um livro. Assista seu filme favorito. Faz algo bom, sorria pra si mesma e me prometa que vai cuidar mais de você. Promete que vai se olhar com mais carinho e afeto. Promete pra mim que vai viver intensamente. Ninguém além de ti vai fazer isso por você.