Coleção pessoal de renanguilherme
João disse para Maria, que jogassem migalhas de pão pelo chão, para que pudessem achar o caminho de volta para casa. Por que perdê-la seria a pior coisa do mundo. Este ano, eu perdi meu caminho. Perder o caminho é desastroso. Mas perder o ânimo para a jornada é infinitamente pior. A jornada durou onze meses. Algumas vezes, eu viajei sozinho. Algumas vezes , outros é que tomaram o leme, e também meu coração. Mas uma vez alcançado o destino, não fui eu quem chegou. Com certeza, não fui eu. Quando você se perde tem duas opções... Encontrar a pessoa que você era, ou perdê-la por completo. Por que as vezes a gente tem que ser diferente do que sempre foi, e lembrar de como deveria ser. De como a gente queria ser. De como a gente é...
Minha mente me alucina, pois sua pessoa me alucina. E se por pessoas nos apaixonamos, amamos, por pessoas matamos , queremos, podemos e as temos em nossas mãos das maneiras mais injustas possíveis, pois assim de certa forma elas se prendem a nós. Pessoas são amigas, por terem segredos, confissões, por estarem necessitando de um conselho, de um ponto de vista diferente.
Pense naquilo que mais lhe importa, pense naquilo que pode um dia derrubar, pense no soberano, que é ser cruel. Pense
Abra seu leque de segredos e escolha um - escolha aquele que você pode me confessar-.
Conte-me sobre aquilo que você mais teme, conte o inesperado, a surpresa, tristezas e alegrias que fizeram parte da sua vida, conte-me tudo, pois eu quero saber
Forme em palavras, as mais distintas palavras ditas, com a suaviloqüência que só você tem, um discurso sobre sua vida, e me dê apenas uma dica sobre um de seus segredos.
Forme em palavras ininteligíveis, para escrever os cominhos pelos quais você já percorreu.
Tenho-me matado, esforçando-me a te estudar e entender sua mente e sua vida, essa que me leva ao léu, mas que de certo me deixa atenuado - alienado - mas que me faz a pessoa em hoje me encontro no direito de lhe escrever este.
Passei na tua vida como um despercebido, fiz-me cruel em certas situações, consegui tirar de você pensamentos, que jamais pensei, fiz de você meu refúgio, dentro de mim encontrei em você minha fortaleza.
Fui surpreendido pela vida, pelos os outros, por você que tanto se fez, e que tanto é. Faço-me de você o que sou e o que sinto hoje, enganei-me, não menti, senti apenas a turbulência que me tomava, e que exagerava em minhas palavras, atitudes e sentimentos.
Segredos, amores, paixões, encantamentos e desencantamentos, desencadeando os conflitos internos de cada um, somos capazes de sermos tudo isso sem pensar, somos donos do destino que nos forma pessoas, somo amores, e somos o ódio que nos faz adoentar. Sou apenas eu e apenas você, unificados pela mesma corrente, - as palavras -. Quem sou? - Sou apenas um monstro sádico de coração cruel, e quero adentrar à sua mente e saber todos seus segredos.
Faça um retorno à sua inocência, sem a incoerência daqueles que te rodeiam, e pense, pense nos seus segredos e sentimentos. Pense. Conte-me o que te fere.
Respire fundo, sinta apenas o vazio, descubra quem são as pessoas que te tomam, e pense. A vida, é um vazio. Aproveitamos apenas as futilidades, e não damos valor à quem realmente somos e temos - sentimentos claros e verdadeiros -.
Pense, conte-me seus segredos, pois eu tenho um para lhe contar.
Estou sem meu pensar, sem meu por que. Sinto medo, pois a morte me acompanha, me leva para um momento singular, que expressa em meu corpo e minha alma, ligando à uma estética que logo vejo jogado ao chão, ao léu. Sem o quê, do poder, do por quê, queremos morrer. Vivo esse inferno de amar você.
Morte que me acompanha, que me assombra, leva comigo a maneira do meu ser, deixa em meu semblante a marca da minha dor, e minha alma junto da sua que me deixou. Sem querer me desfiz me despi para a vida, vestindo o manto do sono eterno que me leva a um destino profundo e sombrio, sem a luz dos teus olhos que me fizeram sorrir.
Sei que se todos pensarem que sou louco inofensivo, não terão medo de mim. Não sou louco. Ainda que pudesse enlouquecer, enlouqueceria de amor por você.
Em meu jardim construí uma casa onde eu pudesse descansar. Construí ali uma vida, dentro do meu mundo, dentro de mim pude notar a diferença que a cada dia crescia mais e mais, pois, acreditava no que era o novo, inesperado, acreditava no belo.
Dentro de minha casa eu podia ver os dias amanhecerem, e podia me deliciar no deslumbrante crepúsculo que se formava em meu céu nas tardes de outono.
As folhas que caiam das árvores, eu nunca as recolhia, pois, a mistura de tantas cores naturais me trazia conforto e paz. E a cada dia que amanhecia em meu jardim, era com uma bela pintura, pois o vento como um todo se incorporava àquelas folhas fazendo-as voarem a cada dia em um lugar.
Durante a noite eu me deitava junto a minha lareira e olhava para o alto, e bem no alto eu podia ver as estrelas brilharem onde que em meus pensamentos eu podia tocá-las e assim, por um momento eu podia sentir o divino dom da vida eterna.
Eram frézias, gérberas, peônias, flores do campo, orquídeas, inúmeras orquídeas, e nas árvores – Sim nas belas árvores – lindas bromélias. Mas eu poderia ficar por aqui descrevendo muitas das espécies de flores e plantas que em meu jardim existiam, mas o tempo que me resta é pouco. Pouco, por que meu jardim se desfez. A casa que construí em meu jardim era transparente, e eu vivia como se fosse numa redoma de vidro. As pessoas que por ali passavam se admiravam com meu jardim e minha casa, mas eu não fazia questão de notá-las, pois para mim, o que apenas existia era meu jardim.
O tempo passava e aquilo tudo foi envelhecendo assim como eu. Descobri em mim uma solidão imensurável, que me causava infortúnios. Eu queria alguém para poder compartilhar comigo toda aquela graça que existia em meu mundo, eu queria poder compartilhar com alguém todos os ensinamentos que os livros puderam me dar. Mas as pessoas não me notavam, não me olhavam, e não me queriam, talvez pelo fato de eu não querer com que elas me vissem, e de fato assim, eu não existia para elas.
Todo aquele sentimento, aquela dor estava ficando cada dia maior, e eu queria poder mudar, poder existir, mas como? Eu mesmo não sabia como! Não poderia deixar ninguém entrar em meu jardim, pois, eles poderiam destrui-lo. Eu não só via, mas eu podia sentir a maldade nas pessoas que por ali passavam. Elas não podiam me notar, mas eu as notava, e via coisas.
Solidão, medo. Um profundo suspiro na escuridão de um pesadelo. Olho para o céu e percebi que dormia minha respiração acelerada, meu coração naquele instante poderia saltar de mim. Dúvidas, dúvidas, muitas dúvidas. Por que as pessoas escolhem isso, por que elas fazem o que fazem...
Eu queria respostas, e queria naquele exato momento, queria poder sentir o gosto de cair e poder levantar, pois para isso eu teria amigos para me estenderem a mão. Queria sentir o vento de uma tempestade que se aproxima, e na mesma poder encharcar minha roupa, eu queria buscar minha felicidade. Queria entender as pessoas, o motivo pelo qual elas têm tanto o que sofrer e chorar, mas a única maneira de tudo isso acontecer era saindo do meu jardim.
Saindo do meu jardim eu sabia que não poderia mais voltar, não poderia mais vê-lo. Essa era uma decisão que por muito me causou infortúnios. Mas eu precisava entender as pessoas e descobrir o gosto e as sensações de algumas coisas que me pareciam tão simples, mas que significavam muito mais que uma vida. Mesmo assim, minha curiosidade falou mais alto e fui em frente com meu pensamento.
Hoje eu sei que em meu jardim eu seria feliz eternamente, até o último suspiro de vida que em mim existisse. Meu jardim não resistiu a minha perda, mas eu já pude superar à sua, pois aprendi ser como as pessoas que eu observava, aprendi amar. Engraçado nos livros a palavra amar significa: Ter amor, afeição, estima. Querer bem. Mas aqui fora as pessoas não têm amor como nos livros, como nos contos que eu tanto li. E assim que pude, amei, amei. Estranho amor. E amando descobri que as pessoas não acreditam nas coisas belas que podem acontecer em suas vidas, pois um dia uma pessoa me disse: “Amor. Isso não existe. Que quer que mantenha famílias, casais juntos não é amor. É imbecilidade egoísmo ou medo. Amor não existe. Existe interesse pessoal, ligação baseada em proveito pessoal. Existe prazer, mas não amor. O amor deve ser reinventado".
Reinventado de que maneira, de que jeito? De que modo as pessoas precisam aprender a amar?
Mas hoje eu mesmo posso responder. O amor na vida real é irreal, ilusão daqueles que procuram a felicidade em outra pessoa, pois somos felizes da maneira que somos.
Ao cair da noite eu olho para o céu e não consigo ver as mesmas estrelas, que antes em meus pensamentos eu as tocava. Lembro do meu jardim - como eu queria ainda estar lá -, mas esta é uma escolha que não podemos simplesmente dizer não. Todos nós vamos abandonar nossos jardins. Aos meus olhos eu não era visto, notado pelas pessoas, hoje eu entendo, eu não era invisível, eu apenas não era compreendido pelos incoerentes adultos que por ali passavam e não me notavam.
Sei que posso continuar cultivando flores e plantas. Mas hoje, preciso arranjar tempo e lugar. Aquele meu lindo jardim desertificou-se, desvaneceu-se, agora eu vou fazer um novo em uma outra pessoa, pois meu objetivo será reinventar o amor em mim, quero provar que sempre o bem vence e sempre podemos sermos felizes, pois todos nascemos para amar sermos amados.