Coleção pessoal de raymotta
Passamos lado a lado. Olhamos para direções diferentes, como se ambos quisessem fugir de um provável “Oi, lembra de mim?”. Ah, que nada. Quem seria o ousado a dizer isso, com receio de receber um “Não” logo de cara? Nenhum de nós - refleti comigo. Mas a vontade que eu tinha era de parar por alguns minutos ali e falar da vida, de como andam as coisas , do quanto tudo mudou, do quanto mudamos. Falar da saudade que me visita sempre ao relembrar momentos hoje de um passado distante. E relembrar das nossas risadas, dos momentos, das piadas, dos lugares que estivemos. Era vontade, era saudade, nostalgia. E silêncio. Entre nós, o que habitou foi o silêncio. Nada de abraço caloroso, de “Quanto tempo!” ou algo assim. O que nos demos foi um rosto para o lado, um rosto para o outro, seguindo em nossas diferentes direções sem dizer nada. E sabe-se lá quando a vida nos dará outra oportunidade como essa, de nos reencontrarmos por aí, nesses dias corriqueiros de hoje. Sabe-se lá quando e até quando continuaremos assim, como aparentes desconhecidos.
A sacolinha de plástico
Estava na sala de aula. Primeira fileira, primeira mesa, primeira cadeira. À minha frente o computador, esperando meus comandos. Professor andando atordoado para todos os lados, resolvendo problemas. Ao meu lado, uma parede. Porém, cheia de janelas de vidro. A parede era quase toda tomada por essas janelas. A visão dali era privilegiada : é possível, dali, ver o céu e suas diferentes tonalidades de cor, a grama, as árvores, as escolas, os apartamentos. A vida urbana misturada à natureza. Por ora passavam aviões rumo ao aeroporto, suponho ,pois o mesmo fica naquele rumo. Numa dessas minhas costumeiras olhadelas, percebi um pontinho branco a voar pelo céu. Seria um pássaro? Possivelmente. Olhei melhor. Estava lento demais para ser um pássaro. Era , na verdade, uma sacolinha de plástico que, despreocupada, flutuava pelo céu azul , sendo banhada pelos raios de sol. Flutuava. O vento a carregava devagar, fazendo-a dançar pelo ar. Parecia um pássaro, sem asas. E quem disse que é preciso ter asas para voar? A sacolinha estava ali, para mostrar. Estava ali, flutuando livre. Voando livre. Sabe-se lá para onde o vento a levaria. Provavelmente continuaria a passear pela cidade, quase tocando os arranha-céus , observando lá de cima os carros, as pessoas, avenidas. Observando a vida. Sei que ela continuaria ali, assim, viajando sem rumo. E talvez seja esse mesmo o rumo daquela sacolinha de plástico.
Suspirava. Pensava na vida. Revia os fatos. E quanto mais continuava nesse ciclo, mais via o quanto tudo estava fora do lugar. O cenário ali dentro era como um de pós-guerra, de tão destruído, deserto, morto. Tinha muita coisa pra organizar. Mas qual seria o ponto de partida? Era tanta coisa ali precisando de mudança, precisando de atitude, e nada dela levantar. Ficava ali, fitando o horizonte vazio, o chão frio, a brisa gelada arrepiando seu corpo. Ficava ali, vendo tudo fora do lugar, sem coragem, sem vontade de organizar. Ela precisava de algo. Só não sabia o que ao certo seria. E assim passavam-se os minutos, as horas, os dias : suspirando, pensando na vida ,revendo os fatos, observando sua bagunça interior.
Ela olhava para a xícara de café pousada sobre a mesa e ficava ali, refletindo. Olhava a fumacinha subindo, subindo e sumindo. A fumaça ia, e ela apenas pensava. Seu olhar, apesar de fixo na fumaça, estava longe, assim como tudo o que pensava. Tantas coisas, tanta vida! Coração gritando, consciência sussurrando, estava toda enrolada. Ela sabia que sua vida, assim como a fumacinha do café, estava sumindo. O café estava esfriando, já sua vida havia esfriado há muito… Por fim, pegou a xícara com cuidado, levou aos lábios e tomou um gole do café. Estava frio. Já não fumaçava. Mas quem disse que se importou? A vida dela não estava diferente. Tomou o café, mesmo frio, pousou novamente a xícara na mesa e observou: vazia. Ela abriu um sorriso manso, balançou a cabeça numa negação boba. Quantas coincidências via numa mera xícara de café.
Um carinho, um afago seu. Seu cheiro deixado em minha roupa depois de um longo abraço e minutos de silêncio entre nós. O seu olhar de encontro ao meu, o seu sorriso que, instantaneamente faz com que o meu se abra. Sua fala, vagarosa ou por vezes agitada, cheia de energia. Seu modo como conclui os pensamentos, seus pontos finais e vírgulas. O modo como ri de alguma piada minha sem graça ou quando se atrapalha com suas próprias piadas que também são sem graça alguma. Mas que acabam nos fazendo rir por esse motivo. As nossas risadas bobas largadas por aí, os momentos que vão virando lembranças boas, lembranças do que somos nós dois. Você e seu jeito tão único, singular, quando chegou me fez plural, me acrescentou. E cada detalhezinho seu é grande, é valioso aos olhos de um coração bobo como o meu, que analisa e detecta qualquer sinal de adversidade ou sabe quando tudo com você realmente está bem. Esse meu jeito investigativo e misterioso me faz assim, tão detalhista. É que tudo de você me encanta, tudo de você pra mim também é meu. É que você faz parte de mim. É que você está em minha vida, não por um simples acaso, por destino. É porque há sentimento, é porque há algo bem maior que todas as coisas materiais , algo que poucos entendem hoje em dia. Há algo bem maior que nos une.
Vai menina, abra suas asas. Voa, que a vida te espera. Por que deixa tão belas asas encolhidas e fica no seu cantinho assistindo os outros voarem? Voa, porque tem espaço. E você só conquista o seu se não tiver medo de voar. Abra suas asas, tire os pés do chão , vá. Não tenha medo. Apenas voe. Apenas não deixe de voar.
Preocupava-se demais com tudo e todos. Era sim, toda exagerada. Menina louca, essa. Deixava de fazer suas coisas, mesmo que importantes, para ajudar alguém que estivesse precisando dela. Sempre foi de se doar , sabe? Sem esperar muito em troca, sem criar expectativas em vão. Só queria sentir-se útil, ajudando quem pudesse e como pudesse. Deixava-se de lado, não ligava. Os outros eram mais importantes. Os problemas dos outros primeiro. Por essa mania, sempre sofreu em dobro, em triplo. Mal conseguia carregar seus problemas e ainda abraçava os dos outros…louca! Mas o que queria mesmo era tirar as dores dos outros, amenizar o choro de quem vivia em pranto ou até mesmo resolver questões que não eram suas. Queria ver todos aqueles que ela tanto estimava felizes, por isso queria resolver tudo. Mas não dava, eram coisas demais. Um amontoado sobre ela, e coitadinha, tão pequenininha! A partir daí afastou-se de alguns problemas. Deixou algumas pessoas com os seus, pois viu que de tanto cuidar dos outros, seu coração havia tornado-se um vidro quebrado, todo cheio de cacos. Precisou desgrudar dos outros, para cuidar dela. Viu que no fim, de tanto cuidar dos outros, quem merecia cuidados era ela. Não abandonou ninguém, claro que não. Só não deixa mais de cuidar dela primeiro, para depois ter condições de cuidar de alguém.
É que eu gosto dele. Assim, com todas as letras. Com todos os significados. Gosto não só de sua presença, mas também das sensações e sentimentos que ele me faz transbordar. Gosto de suas manias que de pouco a pouco descubro e guardo comigo.Gosto do jeito como me olha e como me deixa sem graça, sem fala, sem fôlego. Gosto do seu abraço, dos nossos corações lado a lado , sentir o descompasso de suas batidas. Gosto do cheiro dele e de quando ele fica comigo após um longo abraço. Seus braços. Nossos laços. Gosto do sorriso dele, desde o formato à maneira como me encanta e me ganha. Gosto do menino e do homem que ele é. Gosto dele. Sim, dele. Assim, com todas as letras. Assim, com todos os significados.
Sozinha sou pouca. Sou um grãozinho de areia. E um grão de areia não tem lá tanta beleza. É quase imperceptível. Porém, se eu tiver sorte e encontrar pela vida pessoas e mais pessoas, grãozinhos e mais grãozinhos, serei praia. Serei muita areia. Aí sim não passarei por despercebido, nem me sentirei sozinha. Estarei cercada de grãos e juntos, formaremos um belo lugar, uma bela paisagem. Águas tentarão nos afastar, levar alguns grãos para longe. Pés irão pisar sobre nós, porém esses não nos afastarão. O vento poderá fazer com que alguns sumam, as chuvas podem tirar nossa beleza. Mas quer saber? Ainda não estarei sozinha. Nunca estarei sozinha. Porque sei que sozinha, sou pouca. Acompanhada, sou praia.
O frio traz os casacos que por tempos ficam guardados. Traz os cobertores, as meias nos pés. Traz o chocolate quente, o café para amenizar. Traz a carência, a imaginação flui. Ele me traz tanta coisa. Só esquece de me trazer você. Que desligado esse frio! Esquece do principal. Do que o tornaria perfeito. Do que me faria feliz.
Frio. Dedos gelados, pés endurecidos, abraço solitário. Frio. Barulho de chuva, cheiro de cidade molhada , sentimento de vazio. Frio. Árvores debatendo-se junto ao vento, carros e água correndo, em movimento , aspecto monónoto , sombrio. Frio. Céu nublado, brisa e tempo gelado, solidão, pensamentos, devaneios, mais de mil. São tantos significados dentro da palavra frio.
Hoje sou resultado das noites que eu passei chorando. Dos medos que tive, e ninguém viu. Dos anseios que foram abduzidos. Das vontades que não se concretizaram. Sou resultado de pessoas que eu tentei segurar na minha vida, mas que se foram. De instantes que, por mais felizes, tornaram-se lembranças. Sou uma soma de tudo o que passei. Sou resultado de tudo o que vivi.
Sou de momento. Sou de música. Sou de companhia. Sou assim. E o que define como me sinto e como estou é o momento. A música. A companhia. Sou eu.
Fico me perguntando diariamente o que sou ou fui para você. Se te causo as mesmas sensações, se ainda guarda as mesmas lembranças que eu com tanto carinho guardo. Me pergunto se você sente minha falta, se precisa de mim por algum momento. Se , pelo menos por um minuto do seu dia eu rondo seus pensamentos e roubo um sorriso bobo. Me pergunto se você pode me sentir, mesmo de longe. Me pergunto se você sabe o quanto é importante pra mim. Me pergunto se você perdoou sinceramente todos meus erros e falhas que, em momentos de raiva cometi. Me pergunto se as minhas palavas já te tocaram com a mesma intensidade em que as escrevi. Com os mesmos sentimentos, com os mesmos anseios. Me questiono tanto, e são tantas perguntas sem respostas…Só você tem essas respostas. Só você pode me esclarecer. Mas, em vez de respondê-las, você optou pelo silêncio. Um silêncio que dói, que me envolve e me deixa ansiosa pelo que há por trás dele. E eu espero. Espero ainda quebrar esse silêncio para responder minhas questões. Minhas tantas, tantas questões.
Eu não escrevo para você, escrevo para mim. Para me libertar, para deixar registrado o que sinto. Se te deixo ler, é porque compartilho. Compartilho minha dor, meu sentir, meu querer. Mas saiba, escrevo para mim, e não exclusivamente para você.
Nossa amizade foi como tomar uma xícara de café: demorei para tomá-la e, quando percebi, o café já havia esfriado. Quando quente, não aproveitei. Não o saboreei. O que me resta é a vontade de voltar atrás, de esquentá-lo novamente para bebê-lo agora, quem sabe, tão quente. Mas a verdade é que o café, mesmo depois de requentado, não terá o mesmo sabor. Não será mais como antes. Nem a nossa amizade.
Se eu disser que sua ausência me fez chorar por várias vezes, não estarei mentindo. Se eu disser que sinto sua falta a todo momento, não estarei mentindo. Se eu disser que preciso sempre de notícias suas, não estarei mentindo. Se eu disser que sou capaz de te tirar de mim, aí sim estarei mentindo.
Às vezes o problema é simples, e mais simples, é a solução. Mas nós complicamos tudo porque damos ouvidos ao coração.