Coleção pessoal de Rauzi
OVERDOSE DE AMOR “
Rauzi de Carvalho Pereira.
Nosso amor foi tão sublime,
tanto o teu quanto o meu,
mataria até de inveja,
Julieta e Romeu.
Me dopava com teus beijos,
me embriagava de abraços,
viajava nas carícias,
perdia até o compasso.
Quando na cama eu te tinha,
era como se nada existisse,
a gente se entrelaçava,
mesmo que o mundo caísse.
Parecia que até,
nossas almas, nos deixavam,
e voltavam envergonhadas,
quando tudo terminava.
Era tanta entregação,
era tanto amor fiel,
acredito até que os anjos,
aplaudiam lá do céu.
Era a sede de um camelo,
era a fome de um leão,
às vezes faltava ar,
dava até palpitação.
Nosso amor era na sala,
na cozinha e até na mesa,
quando você apagava,
eu te mantinha acesa.
Às vezes me derrotava,
às vezes eu enfraquecia,
mas o que você inventava
era até covardia.
Nosso amor era de dia,
de noite ou madrugada,
você sempre motivava,
se mostrando apaixonada.
Se arrumava para mim,
parecia uma rainha,
eu dizia que era teu,
tu dizias que era minha.
Te amei e fui tão amado,
que isto me assustou,
tive medo de morrer
de overdose de amor.
“GUARDANAPO BRANCO”
Rauzi de Carvalho Pereira
Convidei-a prá jantar, chequei ansioso, e feliz, ao local combinado, esperei- a saboreando uma taça de vinho, o tempo passando e eu focado na porta de entrada, por vezes, brincava comigo mesmo e forçava não olhar, só prá ser acometido pela surpresa da sua chegada, olhar no celular, brincava com os apetrechos da linda mesa de jantar, sentido-me deslocado e já tímido ante a tantos casais, mão no queixo, cotovelo, já, por sobre a mesa, a palpitação me dava sudorese, as lentes do óculos embaçavam, comecei a ser acometido pela irritação e desânimo, percebi que já esperara demais, sempre esperei demais, pinguei, propositalmente três gostas de vinho em forma de triângulo no guardanapo branco, nãos sei o porquê, e nele escrevi com o bico da faca: “eu te odeio”, instintivamente, jurei neste momento nunca mais revê-la, levantei-me e parti, isso foi ontem, hoje não repetiria mais este ritual.
Qual?
O de dizer que a odeio.
“ROBERTA – FILHA”
Rauzi de Carvalho Pereira
Roberta
“Quem te viu sorrir, não há de te ver chorar”
Quem te viu de pé não há de te ver no chão.
Quem te viu lutar, não há de te ver perder.
Quem te viu caminhar, não há de ver estática.
Quem viu sua força, sabe do que você é capaz.
Quem te viu criar duas filhas, não se surpreenderá ao te ver criar três.
Quem viu sua luz, jamais te verá na penumbra.
Quem conhece seu amor, não corre o risco de conhecer teu ódio.
Quem conhece seu coração, conhecerá seu amor.
Só quem viu sua luz, consegue ver o teu brilho. Mas é só prá que quem consegue, Roberta!
Fé
Rauzi de Carvalho Pereira
Chegou bem cedinho a uma imensa Catedral em uma zona nobre, com fome, meio sujo, barbado, descabelado, assustado, curioso e maltrapilho, ficou admirando os incontáveis carros luxuosos pouco a pouco se arrumando no amplo estacionamento, era um interminável vai-e-vem de veículos, algumas buzinadas, alguns sussurros, alguns cumprimentos pelas janelas, boquiaberto ante ao tsunami de lindos carros e de bem vestidas pessoas. Deu-se conta da imensidão de pessoas e rapidamente adentrou a Catedral e timidamente sentou-se na primeira fila, sendo imediatamente notado por todos os fiéis que, naquele momento, já tomavam seus lugares, quase que cativos de tão repetitivos, sentiu-se um intruso, pois indistintamente todos o olhavam com certa ojeriza e suspeita, mas se manteve altivo, embora tímido. O religioso mor, um bispo, adentra, cumprimenta a congregação e inicia a liturgia, sem deixar de notar a presença daquela figura, que além de desconhecida era meio esdrúxula em comparação aos conhecidos e nobres fiéis da sua igreja.
Ao término da liturgia e do sermão, naquele momento, habitual, de leveza no templo, timidamente levantou bem alto, a sua mão. O bispo percebendo, volta ao microfone, e paciente, pergunta:
- Pois não, meu filho.
- “Seu” bispo, bom dia, meu nome é Zé e eu queria fazer uma pergunta, posso?
- Pois pode perguntar meu filho.
- “Seu” Bispo: eu acho que DEUS vem sempre aqui nessa igreja né?
- Claro que sim, DEUS está sempre presente aqui entre nós.
- E DEUS ajuda muito a esse povo, né? Porque vejo que a igreja é muito bonita, lindas janelas, bancos confortáveis, ar condicionado, o povo é bonito, bem tratado, bem vestido, lindos carros, me parecem bem de vida, não é?
- Pois é DEUS ajuda a quem trabalha e nele confia.
- “Seu” Bispo, eu queria fazer uma oração, mas quero fazer em voz alta, posso? Quero ter certeza de que DEUS vai me escutar como escuta a todos vocês.
O Bispo, meio desconcertado e desconfiado, olhou surpreso para a congregação que parecia assustada e curiosa e como não tinha jeito, concordou: - Por favor, peço a todos os irmãos que fiquem de pé e que oremos junto com o nosso irmão José, hoje presente entre nós.
Ele fechou os olhos, abaixou a cabeça, titubeou um pouco, mas tomou coragem e começou:
“- Senhor DEUS, hoje é a primeira vez que venho aqui, e por isso não sei se o Senhor me conhece, meu nome é José, José como o pai de Jesus, e moro lá no interior do sertão, lugar bem longe daqui, onde também existe uma igrejinha, muito pequenininha e pobre, que não se compara, em nada, a essa aqui, que não tem gente tão letrada, tão bonita, tão bem vestida e rica como esse povo daqui, mas que tem gente que também trabalha muito, que acredita e confia muito no Senhor, gente humilde que vai prá lida, ainda de madrugada para conseguir o sustento dos seus filhos, que anda léguas para conseguir um pote d’água ou para tentar estudar, que morre à míngua por falta de condições de saneamento, postos de saúde e também de falta de higiene, gente muito humilde, onde os últimos dos seus recursos são manter a fé e orar a TI prá pedir sua ajuda, por isso hoje eu vim aqui, porque ao chegar aqui e ver tanta riqueza e tantos recursos, cheguei à conclusão que, estes recursos, estão abafando as nossas preces em virtude da fraqueza e a desnutrição deles, e acho que porisso o Senhor não está nos escutando, e como não nos escuta, não nos atende.
Senhor DEUS, “Seu” Bispo acabou de me dizer que o Senhor está sempre aqui e acho que hoje também está, e que, como lá o Senhor, parece, não vai nunca, eu vim aqui pedir para que me ouça: - Por favor, quando o Senhor tiver uma folga ou um tempinho, dê um pulinho lá, nos faça uma visita, não temos nada a lhe oferecer nada de luxos como aqui, nem mesmo dízimos, mas contamos com a sua visita, não deixe que aquele povo sucumba ante a sua própria fé, acho que pelo povo daqui o Senhor já fez tudo o que tinha que fazer, nos dê agora, um alento, alguma esperança, alguma chance, desculpe a minha franqueza e me perdoe pela insolência e talvez blasfêmia, obrigado. Amém”
Abriu os olhos, olhou para o púlpito sem sequer notar o Bispo, parecia em transe, algumas lágrimas rolavam por seu rosto, dirigiu-se ao corredor central da igreja e começou lentamente a caminhar por entre os fiéis sem se aperceber que todos o olhavam surpresos, incrédulos e com lágrimas nos olhos, saiu da igreja colocou na cabeça o tosco chapéu de couro surrado e partiu, de volta, rumo ao interior do “seu sertão”.
“EMBORA”
Rauzi de Carvalho Pereira
Embora a gente se esqueça
Embora que a gente pereça
Embora que nunca anoiteça, enfim.
Embora que a gente amoleça,
Embora que eu nunca apareça,
Embora que nunca aconteça, o fim.
Embora que eu te entristeça,
Embora que na minha cabeça,
Que eu permaneça, fiel.
Embora que eu empobreça,
Embora que já amanheça,
Embora que isso escureça o céu.
Embora que eu vá embora,
Embora que eu te abandone
Embora que já seja a hora
De eu não ser mais o seu homem.
“ENTRANHADO EM VOCÊ”
Rauzi de Carvalho Pereira
Estarei entranhado em você para sempre, sempre que estiver só, você virá até mim, divagando, seus pensamentos não são seus, coisas simples que me levarão até você.
O odor do meu perfume, o sabor do meu beijo, o calor do meu abraço, a minha influência nas suas decisões, até meus erros refletirão em você.
Estarei em você, quando sentir frio, quando se sufocar no calor, quando não suportar a sede, quando ouvir a “nossa música”, lembranças demais, me trarão à tona.
Nunca mais nos falaremos, nunca mais nos relacionaremos, mas até no seu ódio eu estarei entranhado, serei protagonista da sua raiva, serei alvo dos seus palavrões.
Mas o tempo se incumbirá de mostrar, que embora seu ódio seja intenso, que sua mágoa seja imensa, estarei entranhado em você prá sempre, porque você sofrerá, por ter feito alguém sofrer.
“QUASE AMOR”
Rauzi de Carvalho Pereira
Obrigado por me deixar com saudades...
Pois assim, impulsiona meu coração e acelera a minha paixão.
Obrigado por me fazer sofrer, pois com a saudade que me faz sentir, preenche esse maduro coração bradicárdico, que estava tão oco, antes de te reencontrar.
Obrigado por preencher meu coração de ilusão, pois mesmo iludido, sinto-me feliz ao saber que também despertei suas dúvidas.
Obrigado por me deixar descobrir suas dúvidas, pois intensifica a minha ânsia de insistir em tentar fazer você me amar.
Obrigado por não me amar, pois se me amasse, acabaria com a minha razão para querer tanto e veementemente, você.
Mas mesmo assim, obrigado por não me querer, pois tenho certeza, de que seria mais um erro que cometeríamos, na nossa longa carreira de “quase amor”
“O SAMURAI”
Rauzi de Carvalho Pereira
É preciso que eu tenha força bastante, para conter meus impulsos e impor minha vontade, é preciso que eu encare o medo sem tremer, é preciso que, antes, eu vença a mim mesmo.
Não posso e não devo me abater, ante as adversidades, não posso e não devo deixar que fantasmas, se apossem de minh’alma.
É preciso que eu me esforce ao máximo, e me concentre muito para me tornar eu mesmo, serei doravante um lutador, um eterno vencedor, mesmo nas minúsculas coisas.
Não passarão mais por mim, estrelas cadentes, sem que eu consiga pega-las,
não cairão mais sobre mim gotas de orvalho, sem que eu consiga sorve-las.
Não deixarei que meus cabelos balancem ao vento, sem que eu consiga muscularmente conte-los, não rirei nunca da melhor piada, pois com certeza graça não acharei.
Quando conseguir rir da minha própria dor, e chorar perante minha alegria,
aí sim, tenho certeza, serei um verdadeiro samurai.
“NOSSA TIMIDEZ”
Rauzi de Carvalho Pereira.
Sabia que você me queria tanto quanto eu,
percebi os seus flertes mais de uma vez,
tentei de tudo para me chegar,
mas fui impedido pela timidez.
Faz tanto tempo, mas eu lembro ainda,
a impressão é que foi no outro mês,
você sozinha, adorável nos lugares,
e eu não me abria, quanta timidez.
O seu modo de ser, doce e agradável,
estonteante com perfume francês,
às vezes de uma amiga acompanhada,
dificultava ainda mais a timidez.
Algumas vezes eu me tornava forte,
corajoso como um lutador chinês,
mas aí era você que atrapalhava,
demonstrando-me a sua timidez.
Não tinha jeito de chegarmos ao ponto,
eu não fiz nada e você nada fez,
nos limitávamos a conversar asneiras,
embarreirados pela nossa timidez.
.
Lembro-me de um dia, era carnaval,
eu fortificado pela embriaguez,
me declarei, mostrando o interesse,
após o porre voltou a timidez.
Passou-se o tempo, ficou a lembrança,
pois o destino tem as suas próprias leis,
teria você e você me teria,
se vencêssemos a nossa timidez.
Segui meu rumo com outra pessoa,
você com outro e o sonho se desfez,
se eu lutasse e se você ajudasse,
estaríamos juntos com a nossa timidez.
"ERROS"
Rauzi de Carvalho Pereira
Errei,
em não em entender,
errei de várias maneiras,
nunca pensei em você.
Fiz tudo
o que era errado na vida,
brigas, ciúmes e bebidas,
fiz tudo prá te perder.
Agora,
que está tudo acabado,
consigo ver claramente,
que sempre fui o errado.
E hoje,
reconhecendo meus erros,
velo meu próprio enterro,
sem conseguir te esquecer.
Ao ver,
você de longe passar,
só chego à conclusão,
meu erro foi sempre errar.
Quem sabe,
se eu sofrendo então,
reflita sobre meus erros,
prá conseguir seu perdão.