Coleção pessoal de RaquelRibau

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⁠O LUGAR DO SOL

Acordei hoje e olhei para um objecto tão simples como uma maçaneta de uma porta... E pensei que na vida há várias maçanetas e puxadores metafóricos para o nosso intelecto, para a nossa viagem... Há portas por toda a parte, em qualquer caminho que se percorra dentro desta casa tão grande que é a nossa vida e o nosso eu interior...
Para abrir uma porta é simples, basta rodar a maçaneta e empurrar, et voilá! já estamos na outra divisão da casa. Mas por vezes não parece assim tão simples, há portas emperradas e maçanetas cheias de ferrugem, portas que vão ficando rombas com o tempo, que para além de uma mão para a abrir é preciso o empurrão de um joelho ou uma palma da mão firme...
Quando precisamos de aceder aquela divisão da casa e a porta nos apresenta uma valente batalha o que fazemos? Desistimos? Damos meia volta e deixamos de fazer o que precisamos de fazer dentro dessa divisão da casa? Humm... Não me parece que ninguém o faça... Normalmente pegamos em nós e damos luta! Nem que para isso seja preciso ir à garagem buscar uma mala cheia de ferramentas essa porta vai ser aberta! Na vida devemos ter a mesma atitude. Se há uma porta que não se abre com um simples girar de maçaneta nós não nos devemos dar por vencidos. Vamos é pegar em todas as forças e ferramentas que viemos a acumular até hoje e vamos abrir essa porta. Há coisas para serem feitas nessa divisão da casa que é a nossa vida.
Por vezes somos postos à prova pela nossa própria vida. A maioria das vezes esta porta emperrada serve apenas para que se possa ver qual a nossa capacidade e mérito para lidar com o que está por de trás dessa mesma porta...

As portas foram feitas para serem abertas...

Raquel Ribau

16/06/2015

⁠⁠Numa realidade passada, que a mim não pertence, viveste...
Exististe, dominaste, e geriste o teu reinado...
Mas quando eu cheguei, tuas eram apenas sombras, e detalhes,
Nem imaginava eu, tão distante, inocente, que dormia nas tuas malhas...
Num belo dia me pediram, para que me camuflasse,
Disseram que nunca me esconderiam, que seria apenas uma fase.
As minhas coisas arrecadei, na mala do carro, coitado,
Que ia rebentando quase, ele não, eu! De desfado...
Senti-me nesse dia, desfadada, mas fui acessível...
Sem ter a noção do quanto se avizinhava para mim um trauma terrível.
Desculpada sempre, panos quentes, água benta,
Disseram me que eras esperta, mas nunca te achei inteligente...
Tens uma energia podre, e conseguiste passar o teu bolor,
Para o homem que eu amo, e que eu sim, dou valor!
Posso não ser perfeita, mas sou melhor que tu,
Dou graças a deus por não ser uma pateta, armada em Deusa do Kung-Fu.
Assombras-me, pois estás em todo o lado, o teu veneno,
É disseminante, como uma laranja podre numa taça,
Que se acha a mulher que assassina uma Amante...

Apolo iluminai meu caminho,
A rota de ébano que sigo inflama,
E não me conduz a lugar algum.
Estou no escuro, perdida e presa, cega e com os pés feridos...

Atena, Deusa da sabedoria abri a minha consciência,
Fazei-me chegar ao saber que guardo em mim,
Que fui aprendendo por vezes com dor,
E que agora não lhe consigo chegar...

Hermes uma simples brisa seria uma ajuda,
Ou uma tempestade de vento, um sacudir de tudo,
Levantar as poeiras! Levar os lixos,
Arrancar ervas daninhas pelas raízes...

Têmis, deusa das leis, fazei com a justiça seja feita,
Que todas os crimes sejam punidos de forma justa,
E que a paz e protecção reine na minha vida,
Que me possa sentir segura e calma, sem medos.



Raquel Ribau







Apolo: Deus da luz
Atena: Deusa da sabedoria
Hermes: Deus do vento
Têmis: Deusa das leis
Héstia: Deusa do fogo

Cap. I
A imagem de si reflectida num espelho desvanecia toda a luz daquele lugar… Três camadas de rímel bem assentes nas pestanas, e um batom que causava febre nas veias, eram assinatura sua.
Ali estava ela, perdida numa segurança fabricada por uma máscara que teimava esconder apenas uma timidez e insegurança de uma criança adulta dentro de si. Assim era Camila, como um malmequer selvagem arrancado da pradaria e levado para uma qualquer jarra de cristal de uma casa citadina….
A essência estava lá, no coração, em cada respirar, mas a circo da vida a forçara a ser uma flor de plástico na lapela de um palhaço triste. A inércia da sua postura interior facultava-lhe um embalsamamento desconcertante que só aos olhos dos mais humanos era perceptível…
Mas Camila assim vivia os seus dias…
Pela manhã sentava-se à mesa e engolia mecanicamente uma laranja suculenta que mal conseguia saciar a sede de uma alma desidratada. Entrava na banheira, e com um sabonete de lavanda, tentava dissimular a sujidade que sentia carregar na pele, da mente dos olhares pervertidos de que era alvo, assim que punha o pé na rua.
Saía de casa sempre vestida de preto, com a classe de um esboço de Yves Saint Laurent, assim caminhava ela, num passo firme mas frágil do alto de uma sola vermelho escarlate. Sim, Louboutin, Camila calçava Louboutin… Uns sapatos stiletto deixados pela sua mãe, a única recordação material que teria restado de um vasto império a si roubado.
Camila nascera numa quinta do Alto Douro, a sua família teria sido uma das mais influentes e marcantes na edificação dos socalcos de uvas Tinta Cão (uma das mais antigas castas utilizadas na produção do Vinho do Porto).
Filha única, Camila desde pequena fora dotada de uma astúcia fora do normal. De um génio desassossegado, corria desenfreada pelos caminhos sinuosos da quinta, sempre com os vestidos de Renda Duquesa* que teimavam roçar nas folhas das parreiras que cresciam entre grades de vime.
Aos 6 anos ficara estarrecida com ´Les Misèrables de Vitor Hugo, aos 8 era já dona de um palato aguçado que compreendia a musicalidade dos vinhos que nasciam na sua casa. As 18 primaveras trouxeram-lhe o infortúnio da palavra órfã, e todo o peso que esta mesma palavra carrega em si…
O pai de Camila chamava-se João d’Alma dos Santos....




Cap II

Era uma manhã de outono. Um sol morno passava entre os ramos das árvores que balançavam ao som do vento que parecia beijar cada uma das folhas. Camila tomava o pequeno almoço na sala principal com os seus pais. Os raios de sol furavam os vidros das janelas e refletiam como estrelas nas pratas em cima da lareira. Um perfume delicioso fazia-se passear pela casa numa mistura de café fresco e bolo acabado de fazer... O conforto daquela casa e o ambiente que ali se vivia faziam dela como que um paraíso na terra, tudo naquela casa respirava amor e serenidade.
O som que se fazia ouvir nessa manhã de sábado era o mesmo de todos os dias, as gargalhadas de Camila, os reparos galanteadores do seu pai à sua mãe, as indicações matinais da mãe de Camila ao pessoal da casa. Tudo parecia normal, perfeito como habitualmente...
Como tudo aquilo que é normal... Assustadoramente normal...
Camila acaba de engolir o bolo de laranja como criança sôfrega que era, para ir correr e bailar com o sol vibrante que guarnecia as paredes e os vidros da sua casa.
Desce as escadas e sai pela porta que dá para o terraço sombrio e escuro das traseiras da Quinta d’Alma dos Santos... O perdigueiro malhado ladra para brincar com Camila...
(Nesta casa nenhum animal é cativo... Aqui se respira identidade, livre arbítrio e liberdade...)
Camila põe um pé em falso num degrau vestido de musgo verdejante. Escorrega, bate com a cabeça e entra num sonho inerte, vazio, onde a ausência de luz impera....
Num coma profundo foi levada para um hospital eclesiástico (mais um convento do que um lugar que prestava cuidados dotados de ciência...)









Cap III
Moveram-se as pálpebras num reflexo nervoso, a luz branca e fria invadiu os olhos de Camila por entre as pestanas coladas de fluido humano seco e duro. Lentamente abriram-se os olhos e deixaram a nu um azul céu por entre um vácuo negro e profundo.
Camila acordara do coma, e num medo transformado em vazio gélido, reconheceu que voltara à vida, num respirar lento e quase mórbido tentou arrancar as agulhas gritando num silencio ensurdecedor, para que aquele momento fosse apenas o acordar de um pesadelo sem memórias.
Uma bata branca surge ao bater de uma porta e ouvira uma voz como se de um anjo se tratasse: “Calma, está tudo bem Camila... Respire calmamente, você não está sozinha...”
Nesse momento Camila foi como se sentisse os seus pés no chão e ali, toda a realidade voltou a ser cruelmente verdadeira e as dores da alma voltaram para lhe dizer “bom dia”.
-Não quero estar aqui, quero voltar para aquele sono incapaz de me fazer sentir coisa alguma, a realidade é algo que não consigo aceitar, levem-me daqui, deste chão frio e cruel, tirem-me os sentidos e façam-me ser nada...
Camila num pânico desconcertante pedia insistentemente para que a inércia e o vazio invadissem o seu corpo e a sua alma. Viver para si já não fazia sentido, era uma dor, um castigo...
Cada batimento do seu coração era energia cinética que palpitava em dor atroz no seu peito. Cada movimento do diafragma era como um trampolim manhoso que teimava em fazer do respirar uma piada.
As células de cada pedaço de si moviam-se em direção à natureza viva, mas a alma dessas mesmas células ridicularizavam o esforço energético que a natureza investia sem cessar.
Neste breve instante cronometrado em dois minutos passou uma eternidade infindável... Aquele momento de pânico e de desistência da sua própria vida foi prolongado em folhas de papel que escrevera para sempre. Enfrentando a dura realidade não teve outro remédio se não reagir e ter de seguir enfrente, por dentro morta, por fora um corpo vívido e contrariado.
Tomou um banho quente com a ajuda da enfermeira. Alguém trouxera uma mala de viagem com uma muda de roupa que cheirava a alecrim e mel.
Ao colocar o seu corpo quente e pálido num vestido preto com botões de rosa, Camila sentira uma sinopse da sua infância, e várias memórias retornaram ao seu espírito... Uma lágrima densa e pesada escorrera pelo seu rosto, deixando um rastro de cristais de sal...
Os cabelos emaranhados escondiam uns lábios desidratados, os ombros eram rijos como pedras, mas aquele aroma de jasmim e mel enternecia a sua alma como um abraço de mãe.
Nesse momento Camila ganhou a coragem de um leão e enfrentou o mundo. Abriu a porta que dava para a rua e meteu o seu pé direito em primeiro lugar, pisando um degrau de granito meio torto e falso, desceu a escada e lembrou-se que trazia uma espada em forma de força

Visão nocturna

Menino frágil, grande, forte
Olhar oculto penetrante
Tu sabes, viste, a morte
Ela pareceu te distante?

Viste o paraíso, o inferno?
Conheces esse mundo?
Onde há um estar eterno,
Desconhecido, profundo?

Diz me o que viste,
Com quem falaste?
E o que sentiste?
Achas que mudaste?

As perguntas retóricas
São mesmo assim
Ficam sem respostas
São infinito: sem fim

Visão de "um louco"

Mentes e corpos engolidos
Num cosmos fabricado
São almas programadas
Para obedecer ao Diabo

Energia cósmica e vital
De ondas cinéticas
Na física mundial
São mentes estéricas

A mente dos "programados"
Nem imagina a verdade
Estão todos inebriados
Por um só "ideal"

Restam os poucos
Aqueles que a verdade sabem,
Mas são rotulados de loucos
Porque não seguem a "máquina"...

Vender a alma ao "anjo mau"
Para muitos é a solução
De fazer chegar a sua Nau
Ao encanto da podridão

No início é a solução
Para um vingar bem
Mas no fim da ilusão
É apenas o fim do trem

Vai, vê, vive, sente
Esse mundo ilusório
De sucesso e demente
Que nem chegas ao purgatório


Raquel Ribau