Coleção pessoal de rapha777
Não há diferença entre defender (e falar) pela verdade e pelo cristianismo.
Não se trata do que se diz, muitas vezes tão falsamente, sobre o que se "acredita”. É sobre se se arrisca TUDO pela verdade.Esse é, simultaneamente, o mais pesado e mais leve dos fardos. E a única e verdadeira cruz.”
“Ciência é uma estabilização metodológica provisória de um certo aspecto que se destacou suficientemente dentro da estrutura ao ponto de poder ser tratado separadamente do objeto.”
"Não é, de forma alguma, pelo o que há em nós de individual que temos acesso à verdade: é em virtude de uma participação no universal. Este, que é ao mesmo tempo verdade e bem, não podemos honrá-lo como verdadeiro, unir-nos intimamente a ele, descobrir seus traços, nem experimentar seu domínio, sem o reconhecer e servir igualmente como bem."
"É preciso entregar-se de corpo e alma para que a verdade se entregue. A verdade serve apenas aos seus escravos."
"Humilhai-vos diante de Deus; desconfiai de vosso julgamento, buscai corrigir vossas faltas; em seguida, permanecei firme como o rochedo açoitado pelas ondas."
Não é o ódio em si que é errado, mas sim odiar a coisa errada. Não é errado ter raiva, mas estar com raiva da coisa errada. Dize-me qual é teu inimigo, e te direi quem és. Dize-me qual é o teu ódio, e te direi teu caráter. Odeias a religião? Então tua consciência te incomoda. Odeias os ricos? Então és avaro e queres ser rico. Odeias o pecado? Então amas a Deus. Odeias teu próprio ódio, teu egoísmo, teu temperamento irascível, tua maldade? Então tens uma boa alma, pois ‘Se alguém vem a mim... e não odeia sua própria vida, não pode ser meu discípulo.’
Os raciocínios devem ser usados apenas para verificar, para confirmar o que você já sabe, mas o saber efetivo não é uma coisa que é criada na sua mente através do raciocínio construtivo. O saber é percepção da realidade, é uma reação efetiva de um sujeito vivente, presente e real a uma situação vivente, presente e real.
Mas nem todos os homens procuram descanso e paz; alguns nascem com o espírito da tempestade em seu sangue.
A técnica filosófica é a técnica de você converter os conceitos gerais em experiência existencial efetiva, e vice-versa.
Os homens ocos
I
Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada
Forma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;
Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam – se o fazem – não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.
II
Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.
Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo
– Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular
III
Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.
E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.
IV
Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos
Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio
Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.
V
Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada
Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa
Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro
Para um homem se dispor a empreender uma obra que ultrapassa a medida das absolutas necessidades, sem que a época saiba uma resposta satisfatória à pergunta “Para quê?”, é indispensável ou um isolamento moral e uma independência, como raras vezes encontram e têm um quê heroico, ou então uma vitalidade muito robusta.
A coragem não é simplesmente uma das virtudes, mas a forma que cada virtude assume quando está sendo testada, ou seja, no ponto da mais alta realidade. A castidade, a honestidade ou a misericórdia que se entrega ao perigo será casta, honesta ou misericordiosa apenas sob certas condições. Pilatos foi misericordioso até que isso se tornou arriscado.
Nos desafios desse mundo, quando perdemos toda a esperança de reconciliação, o recurso supremo é a força. Nos desafios de Deus , o recurso supremo é o sacrifício das almas consagradas.
O ar oprime e faz medo, e o frio, e a escuridão;
mal se sente bater o próprio coração…
E assim nenhum consolo encontram os amigos,
e tímidos, então, rodeiam meu jazigo
e sentem, de meu sopro, o ar da morte passar.
– Ó vós, tudo o que tendes, a fala, o olhar,
e que trazeis a mim, o sepulcro devora,
insaciável sugar de meu túmulo agora.
Porém, ante o sepulcro, eis o Cristo postado!
Olhai! De quanta luz Ele está rodeado!
Reparai no calor que se irradia dele,
subi do vosso Nada ao Tudo que está nele,
estendei vossas mãos em sua direção,
cruzai-as junto ao peito e: “Eu sou!”, dizei então.
E o calor e a luz, fluindo em mim, florescem,
e o último inimigo – a morte – se esvanece.
Estão todos presentes à mesa
mas só um sabe que o gesto não se repetirá.
É um homem que veio de longe
cumprindo o delírio febril dos profetas;
a antiga promessa de uma chegada
escrita na memória branca das pedras.
Em silêncio enche doze taças
e dá a beber o sangue da sua herança;
o sangue de um sacrifício ainda por cumprir,
enquanto contempla a felicidade breve
nos rostos que, à direita e à esquerda, o cercam.
Uma estranha visão lhe incendeia o olhar.
Um momento de sombra que o atravessa,
como o pastor debruçado sobre o seu rebanho
ao pressentir a aproximação da tempestade,
fixando ternamente o lugar onde se senta
a ovelha que irá atrair a demência dos lobos.
Um manto branco ressalva a luz que o cobre.
É um rei, mas nada reclama para si,
basta-lhe o saber que é escutado, e que
alguém sobrará para lhe perpetuar o nome.
Ocupa agora o centro da mesa. De pé
com os braços estendidos para a frente
lentamente reparte o pão
como quem vira a última página de um livro
que não poderá voltar a ser fechado.