Coleção pessoal de RafaelZen
Nunca pedi para ser do jeito que sou
Nunca quis que minha vida fosse assim
mas suponho que não há motivo para se queixar
Para quem é que eu vou me queixar?
Eu quero uma forma vazada
que guie as lamúrias do mundo
quero um peru grande e gordo todos os dias do ano
e não somente no dia de Ação de Graças
quero paz, a paz desses vampiros esquisitos
que não querem me deixar sozinho
eu quero a morte tanto quanto quero a vida
A única diferença entre elas
é que a morte é muito fácil
e eu sempre tenho uma
para que não haja discordância
quero me levantar, algum dia, antes do meio-dia
quero bater punheta até me entediar
quero ver o deserto, em segurança,
de dentro do meu carro com ar condicionado.
Eu vou querer uma outra dose!
As pessoas deviam ser leais umas com as outras, mesmo que não fossem casadas. Em certa medida, a confiança devia ser mais profunda, porque não era santificada pela lei.
O melhor é esquecer de tudo, quando uma mulher se volta contra você. Elas podem te amar um tempo; mas um dia dá um click, e, então, veem você morrendo atropelado na sarjeta e ainda cospem em cima.
Eu me permito apreciar isso, a manipular a coisa a meu favor porque eu tenho a febre da faca amolada, dos céus azuis e profundos.
Não valia a pena confiar em nenhum outro ser humano. O quer que fosse preciso para estabelecer essa confiança, não estava presente na humanidade.
Sentamos e esperamos pelo sol e tudo o que viria pela frente. Eu não gostava do mundo, mas em tempos precavidos e tranquilos, dava até quase para compreendê-lo.
Não gostava de nada. Vai ver eu estava com medo. É isso: eu tinha medo. Eu queria ficar sozinho num quarto com a janela fechada. Fiquei curtindo essa ideia. Eu era um trambolho. Eu era um lunático.
A maior parte do mundo estava doida. E a parte que não era doida era furiosa. E a parte que não era doida nem furiosa era apenas idiota.
As pessoas que resolviam as coisas em geral tinham muita persistência e um pouco de sorte. Se a gente persistisse o bastante, a sorte em geral chegava. Mas a maioria das pessoas não podia esperar a sorte, por isso desistia.
Por que há tão poucas pessoas interessantes? Em milhões, por que não há algumas? Devemos continuar a viver com esta espécie insípida e tediosa? O problema é que tenho de continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, se eu quiser consertar este computador, se eu quiser dar descarga na privada, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir a minha barriga, tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores necessidades, mesmo que eles me causem horror. E horror é uma gentileza.
É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom,bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa.
Quando pensamos, fazêmo-lo com o fim de julgar ou chegar a uma conclusão; quando sentimos, é para atribuir um valor pessoal a qualquer coisa que fazemos.
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
Amor em paz
Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz