Coleção pessoal de RafaelOmenin
Vítima da poesia
Necessito dormir mas estou sem sucesso
Os grilos estão me falando que é a hora
Já era tarde e o sono havia ido embora
Fechar os olhos é tudo o que peço
Mas entendi o sinal do universo
Levantei e peguei o caderno em euforia
Levei um risco de emoção para dentro do seu inverso
Sou vítima da poesia
Eram as palavras culpadas pela insônia
O sentimento seu cúmplice imediato
Um cativeiro de visões para o poeta encarcerado
Versos que tiravam a respiração feito gás amônia
Escrevi, risquei, criei e renasci
Explodi, errei, acertei e conclui
Um resumo, um fruto, um filho
Um novo sol, um começo, uma bala, um gatilho
Choveu chuva
Choveu chuva como disse Ben-Jor
Na cabeceira da cama da minha mãe
Molhou tudo mas poderia ser pior
Chuva grossa que continuara até de manhã
Caiu por cima da sala e do resto da casa
Molhou a madeira antiga, os móveis e assim vai
Água que transforma o lar em faixa de Gaza
Enxarcou o aparelho de som do meu pai
Goteiras caem do teto e do olhar
As mariposas foram companheiras naquele ardor
Do esforço sendo consumido ao molhar
Molhando e apagando a chama do meu amor
Panelas usadas pra fazer comida
Panelas usadas nas goteiras metidas
Panelas que deixam as pessoas nutridas
Panelas que confortam as gotas caídas
Uma vela;
Uma reza
Livo Bento que meu pai queimou
Preces e orações que minha mãe entoou
O tempo acalmou e o vento partiu
Parecia que São Pedro a ouviu.