Coleção pessoal de Profex
Clave de Luna (ou Uma Nova Lenda do ET)
Eu vou contar pra vocês:
A nave surgiu lentamente
tranquila flanando no céu,
na noite do sul de minas
nos idos de noventa e seis.
Era a viagem de um casal,
quem sabe, em lua de mel...
Eles vieram em silêncio,
procuravam o paraíso,
vinham mesmo pra ficar.
Mas tiveram um prejuízo,
Pois, devido ao acidente,
a sorte virou puro azar
e repercutiu por demais!
Eram só dois pombinhos,
segundo alguns do lugar,
quem sabe, em busca de paz.
Separados, coitadinhos:
ele morto e ela com vida.
Se era a terra prometida,
não puderam aproveitar!
Abafaram todo o caso!
Pois ela foi encarcerada,
ele não: ressuscitou, subiu.
O mundo seguiu seu destino
e a história ficou mal contada!
Só mais um vaso quebrado,
desatino, um verso de dor...
Toda semana , com magia,
quando a noite se avizinha,
a verdade se mostra nua:
ali, no palco da estação,
bem no centro de Varginha.
A paixão era tanta, afinal!
Nem o Rosildo desconfiou...
É quando Jorge desce da lua
e a multidão, em transe, canta
num tom mais que singular;
mas nem em sonho desconfia
que o amor de um certo casal,
é a chave de toda a magia
da Quinta do Bom Rock’n’roll!
Do livro "Versos Inquietos/Na Aba da Lua" - Grupo Editorial Scortecci
Escolhi um cantinho só meu,
era escuro, quase breu, um horror,
mas algo de novo aconteceu:
assim como se fosse magia,
de repente alguém pulou o muro,
sozinho já não estou, revivi.
Tudo ficou claro em minha mente,
é que estava morto e não sabia
Existem teorias de que o mundo surgiu de caldo caótico. É preciso desmantelar as estruturas para uma nova criação, sim. Um mundo novo surge do desconhecido. Mas, ainda, é mundo!
A poesia é nobre, sem medida. E a alma é sua casa. Água torrencial ou chuva fina, é vento é lenha, é brasa, é vida..
Embora às vezes tenha, prescinde de métrica. Embora às vezes esbanje, dispensa rima.
Presenças, solidões que vão tecendo a vida, beleza perseguida a cada hora, para que não baixe o pó de um cotidiano: desencanto, beleza, entendimento, semelhanças... perseguidos a cada segundo, eu diria..."
Vejo, Menina, mistério em cada palavra tua. E sentimentos encriptados, também. Ainda os decifrarei contigo, meu bem, saboreando um vinho amadurecido...
Todo abismo é navegável a barquinhos de papel..."
Paro para observar: a leveza das palavras de Rosa conseguem inventar barquinhos e sonhos etéreos. Solitários e depois solidários, por isso superiores aos eventos e inventos da natureza. Sobrevivem aqueles barcos que permanecem, e aprendem o desenho das ondas. Acabam por encontrar portos seguros. Materializam-se também os sonhos tecidos em Dor e Amor.
Guimarães Rosa complementaria: "De sofrer e amar, a gente não se desfaz.
Os corações se aquecem com essa melodia que ouço, preenchida pela voz eloquente de Norah.
Aquilo que desenhas com letras grafitadas, mostra um esboço que tento decifrar, com certeza. numa noite encantada sem grilos...
Para virar a mesa, procuro a senha na aquarela com que distribuis a cor e torço encontrar algo no escuro...
Mais que isso:
Selar um compromisso de derrubar os muros, um desejo de abrir a janela, de par em par, escancancarar...
"E os raios ainda cálidos da tarde, nos dá o tom, com a certeza de daqui a pouco se fará escuro. Arde nas entranhas, um capricho bom, um desejo incontido: essa vontade de permanecermos aqui, sentados, observando tamanha beleza!..
...entretidos, entre tantos, passamos a entrever futuros..."
Rabisco
Ando torto e liso,
corro o risco,
morro de medo...
Cedo ou tarde
-sem alarde-eu percebo:
A vida é um rabisco!
No céu os astros buscam uma rima
na noite escura.
Piscam e brilham... - pura purpurina!
Brilham e piscam... - purpurina pura!