Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
Nos outros eu sei onde fica o coração. É no peito. Comigo a anatomia ficou louca. Eu sou todo coração!
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.
O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração.
Nos demais,
todo mundo sabe,
o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração.
Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.
5.7 mil compartilhamentos
“Copiosas vezes
mais ganhamos
quando vencidos.”
“Sem valsa
quero-te tango
antes do samba.”
“Tuas carnes tácitas
instigam sabores
como se tanja um jambo
na carambola sapoti.”
“Na física da paixão
a razão é absorvida
pelo empuxo
de uma breve história
do tempo.”
“Liquidou-se o romance
como uma ideia vendida
num desconto de fadas.”
“Sabem tudo o que revelei
não tudo o que sou.”
“Nas conjecturas políticas
tudo pode escorrer
inclusive nada.”
“A política dos amigos por último
privilegia quem jamais
estará no fim.”
“O poder abomina o vácuo
assim como o ótimo
é inimigo do bom
na arte do possível.”
“Como Madame Bovary
sem marido nem amantes,
morreu com olhos abertos
quando do fim da ficção.”
“Cem conversas
há de ser sua cura.”
“A promessa do Engodo
é tudo mudar
para tudo ficar
como está.”
“São perenes
as palavras dóceis
no jogo bruto
pelo efêmero.”
“Nas entranhas do olhar
estamos a poucos poemas
de distância.”