Coleção pessoal de poteta

Encontrados 13 pensamentos na coleção de poteta

⁠sei que nada sei,
ignorante pois serei,
e por nada saber
ignorante queria ser,
para desconhecer esta ignorância,
e tudo o que ela me fez perceber...
felizes tempos de infância,
em que o tempo passava a correr,
enquanto aquilo a que dava importância,
acabou por se esquecer
nas vulgares questões do ser,
no constante vai e volta
da minha intermitente consciência,
na palavra que se solta,
de quem vive na indolência,
numa alma que se revolta,
com tamanha displicência.

⁠arte inconsciente, duma consciência florescente
acaba na ponta dos dedos o que começa na mente
conta os pequenos segredos duma alma pouco contente
afasta outros tantos medos que atormentam e deixam doente
curam assim uma crença a um espírito demente
fortalece-se uma doença
para ajudá-lo a esquecer-se que já foi crente!

⁠fui à procura do cansaço
mas ele não me encontrou
Já não percebo o que faço
nem mesmo onde estou
Pareço um triste palhaço
sem saber por onde vou
Tento encontrar espaço
onde alguém já procurou
Passo-lhe um traço
e a busca continuou
apertada com o laço
que alguém cá deixou

⁠Poemas acabados são poemas estragados.

⁠Suspiro um vago grito mudo
mudo para tons de verde seco
seco ao sol est'água ardente
aguardente que bebo dum trago
Trago comigo um estômago farto
farto de sentir este cheiro
cheiro novamente o velho cravo
cravo as unhas no cimento
Cimento ideias dispersas em fumo
fumo um cigarro no silêncio
silencio vozes no caminho
caminho vazias as ruas do reino
Reino tudo num brinco
brinco às palavras neste espeto
espeto tudo bem fundo
fundo amarguras em desejo
Desejo alcançar o brilho
brilho entre períodos de sufoco
sufoco sentidos virados a Este
este é o meu ponto num conto
Conto lentamente as pedras do rio
rio às gargalhadas num suspiro
Suspiro um vago grito mudo

⁠Sonhava ser andorinha
voar de primavera em primavera
resignava-se em ser galinha
enquanto aguardava a quimera
acordava todos os dias na capoeira
com os grilhões nalguma frigideira

⁠Um dia a sorte bateu à porta
Por azar não estava em casa
Oportunidade à nascença, morta
Uma irrealidade que não desfasa

⁠há uma ficha desligada
onde antes não havia nada
uma luz apagada
no meio duma escura estrada
há um triste receio
mesmo aqui no meio
longe do fim e do início
neste lugar feliz e feio
onde é só mais um desperdício

⁠Às vezes sinto que nasci na época errada.
Sossega-me saber que vou morrer na certa.

Morrer não me assusta mais do que a vida, é só mais uma memória que virá a ser esquecida.

⁠barco inerte às pancadas
depois de forte turbilhão
águas de tão calmas, paradas
terra conquistada em vão

Se eu dissesse tudo o que penso talvez saísse um sussurro tão intenso que mais parecesse um grito em que rebento o que vomito e guardo cá dentro

Tenho em mim não só a vontade de viver, mas também a vontade de morrer e uma constantemente impede a outra.